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Por que tanta gente teme o comunismo no Brasil?

É de se pensar: 34 anos após a queda do Muro de Berlim, ainda há pessoas que se preocupam com a extinção da propriedade privada

Ciclofaixa da Avenida Paulista com pichações que dizem: "Fora Comunismo" e "Fora Dilma" (Lucas Agrela/Exame)
Ciclofaixa da Avenida Paulista com pichações que dizem: "Fora Comunismo" e "Fora Dilma" (Lucas Agrela/Exame)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 23 de março de 2023 às, 21h01.

Uma pesquisa do Ipec divulgada nesta semana revela que 44 % dos brasileiros acreditam que o Brasil corre o risco de virar um país comunista. Esse temor é maior na região Sudeste (48 %) e entre os evangélicos (57 %). É de se pensar: 34 anos após a queda do Muro de Berlim, ainda há pessoas que se preocupam com a extinção da propriedade privada (e não estamos falando de um grupo pequeno).

Mas, qual a chance de termos um regime comunista aqui no Brasil? Essa possibilidade é ainda mais remota quando lembramos que os maiores ícones do comunismo de décadas atrás, a Rússia e a China, não podem mais ser definidos como países 100 % comunistas – ambos adotam um regime híbrido, permitindo a livre iniciativa, embora controlem a economia com mão de ferro.

Impedir que um regime socialista radical tomasse conta do Brasil foi a principal bandeira para a implantação de uma ditadura militar no Brasil – e a tomada de poder contou com o apoio dos Estados Unidos. O governo americano, inclusive, esperava resistência das esquerdas em relação ao levante dos militares. Assim, para garantir a posse do novo governo, os EUA destacaram uma frota, liderada pelo porta-aviões USS Forrestal, que ficou estacionada na América Central, esperando ordens para intervir com armas em favor do grupo liderado pelo marechal Humberto Castello Branco e pelo general Artur da Costa e Silva.

Os Estados Unidos não deixariam que o comunismo prevalecesse em um país como o Brasil, mas ninguém, na atualidade, leva essa possibilidade a sério na terra do Tio Sam, mesmo com Luiz Inácio Lula da Silva no poder.

Temos outros problemas mais sérios antes de nos preocupar com uma eventual ameaça comunista: a disposição petista em gastar demais, os juros altos que sufocam os empresários, a reforma tributária, a reforma administrativa e uma alta dose de intervenção estatal em nossa economia.

O crescimento do temor em relação ao comunismo pode ser atribuído ao esforço feito pelo bolsonarismo em colocar o chamado perigo vermelho na pauta do dia. Em todas as manifestações da extrema direita, incluindo os acampamentos em frente aos quartéis que surgiram no final do ano passado e foram desmantelados no início de 2023, era possível ver cartazes que mencionavam o comunismo – um assunto que parecia estar morto e enterrado.

Já disse isso em uma coluna anterior, mas vale a pena o repeteco. Você, leitor, faça um teste: olhe ao seu redor. Você tem algum amigo comunista? Mais que isso: você conhece, mesmo que remotamente, algum comuna? Não vale ser petista: tem de ser comunista de carteirinha, filiado ao PC do B. Não conhece, certo? Sabe por que você não conhece? Porque existem apenas 400 000 filiados a esse partido, ou 0,2 % da população brasileira.

Percebe-se que a polarização política teve um efeito colateral nefasto: fazer boa parte da população acreditar em uma possibilidade para lá de remota e patrocinar candidaturas com tintas radicais.

Sempre é bom ficar alerta contra um regime que destrói a economia e a liberdade individual. Mas não devemos gastar muita energia com isso e sim voltar nossas baterias contra as pequenas barbaridades que são cometidas diariamente, em favor de um governo que deseja intervir cada vez mais em nossas vidas, querendo regular o que postamos na internet e sufocando nossa economia com regras inúteis. Precisamos mostrar que a maioria da sociedade está engajada em buscar mais liberdade para sua vida particular e para seus empreendimentos. Precisamos, de uma vez por todas, nos unir em favor de uma agenda construtiva – não contra um inimigo fosfórico e quase invisível, como o comunismo internacional.