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Por que há empresários desanimados com a economia brasileira?

Neste mundo comandado pelas redes sociais, as expectativas são maiores e a paciência, menor

Empresária saindo: expectativas são maiores e a paciência, menor (PixelPop/Getty Images)
Empresária saindo: expectativas são maiores e a paciência, menor (PixelPop/Getty Images)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve na semana passada no Congresso Nacional debatendo com deputados federais da oposição. Recebeu críticas e rebateu com dados que mostravam uma economia brasileira em recuperação. Os números recentes, de fato, mostram uma inflação em controle, arrecadação em alta e uma atividade macroeconômica razoável, com taxa de desemprego em queda. Ou seja, em uma fotografia do presente (ou dos últimos meses), não há muito do que se queixar.

Mas esses dados não se refletem em popularidade para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atribui seus índices de desaprovação nas pesquisas a uma estratégia ruim de comunicação. Ocorre, porém, que é possível termos números econômicos positivos convivendo com popularidade baixa.

No início dos anos 1970, por exemplo, o general Emílio Garrastazu Médici – um dos presidentes durante a ditadura militar – proferiu a seguinte pérola: “A economia vai bem, mas o povo vai mal”. Estamos em um momento histórico totalmente diferente, mas essa máxima pode ser aplicada ao Brasil de hoje.

Nossa economia sofreu, nos últimos dois anos, os efeitos nocivos da inflação e de seu remédio – os juros altos. Essa combinação faz o poder aquisitivo do trabalhador diminuir e eleva as dificuldades das empresas em tocar o dia a dia financeiro. Embora estejamos, em tese, saindo desse período, ainda sofremos os efeitos do processo que combateu a alta dos preços.

Também temos um contexto econômico muito dependente do agronegócio. A performance das exportações agropecuárias impulsiona nossos números, mas não necessariamente contamina positivamente a cadeia produtiva de forma rápida.

Por fim, os analistas do mercado financeiro trabalham muito mais com as expectativas do futuro do que com dados do presente. Desta forma, quando percebem a disposição gastadora do governo, combinada com nenhuma intenção de reduzir os gastos estatais, esses analistas se tornam céticos em relação às possibilidades de o governo Lula conseguir resultados verdadeiramente favoráveis para a economia ainda neste mandato.

Vale a pena repetir aqui o que disse o cientista político Murillo de Aragão em uma edição do programa MONEY REPORT TV (na BM& News, às quintas-feiras, às 21:00 – canal 563 na Claro e 579 na Vivo). Durante esse episódio, discutíamos justamente uma percepção de que o cenário era negativo por parte de muitos empresários diante de números positivos. Murillo, então, saiu-se com uma interpretação brilhante: “Às vezes, a sensação térmica na economia é diferente do que dizem os números”.

Ou seja, o termo cunhado pelos meteorologistas parar explicar por que sentimos mais calor (ou frio) do que apontam os termômetros pode valer também para o contexto econômico. As estatísticas denotam um cenário positivo, mas as pessoas não estão satisfeitas com aquilo que estão vivendo no cotidiano.

Some-se a tudo isso outro fator: neste mundo comandado pelas redes sociais, as expectativas são maiores e a paciência, menor. Se antes havia mais estoicismo para aguentar o tempo necessário para o efeito de medidas econômicas amargas, hoje a população quer resultados mais rápidos. E deseja efeitos positivos quase imediatos na condução da política econômica (algo totalmente utópico). Esse é um desafio que pode colocar o governo ainda mais na trilha do populismo, gastando o dinheiro que não tem para tentar impulsionar a performance econômica.

É por isso que há empresários desanimados com a economia brasileira.