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Por que a candidatura de Doria não decola?

O cenário é mais difícil de compreender quando lembramos que existe um número enorme de eleitores buscando por um representante da chamada Terceira Via

Governador de São Paulo, João Doria. (Governo do Estado de São Paulo/Flickr)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2022 às 12h00.

Última atualização em 7 de janeiro de 2022 às 12h00.

Aluizio Falcão Filho

O estado de São Paulo tem apresentado resultados positivos em sua administração, da educação à gestão financeira. João Doria é um dos maiores paladinos da vacinação em massa dos brasileiros, um tema que ganhou grande projeção durante a pandemia. Além disso, uma de suas promessas mais difíceis de ser realizadas, a de despoluição do Rio Tietê, tem enormes chances de concretização (há poucos dias, o governo anunciou que atingiu 91 % de todo o processo de limpeza deste curso de água).

Por que, então, o governador Doria patina nas pesquisas de eleição presidencial e tem uma avaliação sofrível entre os paulistas (apenas 24 % consideram sua gestão “ótima” ou “boa” e 38 % acham-na “péssima” e “ruim”)? O cenário se torna ainda mais difícil de ser compreendido quando lembramos que existe um número enorme de eleitores buscando por um representante da chamada Terceira Via.

O fato é que João Doria, em sua curta carreira política, já passou por três encarnações – e talvez esteja entrando em sua quarta fase eleitoral. No início de sua vida pública, apresentou-se como gestor e não político, um nome novo centro de um cenário bastante abalado pelas denúncias da Operação Lava-Jato. Doria surgia como alguém que, bem-sucedido na iniciativa privada, seria um exemplo nacional de correção. Além disso, tinha uma trajetória de sucesso para comprovar sua capacidade administrativa. Por fim, possuía um grande talento de comunicador e personificava o anti-petismo.

Nem bem foi eleito, seu nome passou a ser comentado nacionalmente e veiculado como um possível candidato às eleições para presidente em 2018. Chegou a ensaiar uma tentativa de furar a fila e tomar a candidatura de Geraldo Alckmin, seu padrinho político. Acabou postulando o governo estadual. E, neste momento, entrou em sua segunda encarnação.

O discurso voltado à gestão não teve tanta repercussão. E os paulistanos ficaram revoltados com sua atitude de abandonar a prefeitura com pouco mais de um ano de mandato para concorrer ao governo do estado. Quando passou ao segundo turno, aderiu à campanha de Jair Bolsonaro e elevou o tom de críticas ao seu opositor, o então governador Márcio França (chamado por Doria de “Márcio Cuba”). Sua estratégia deu certo, apesar da pequena margem de vitória. Chamuscado da capital, contou com o voto mais conservador do interior para se aboletar no Palácio dos Bandeirantes.

Logo em seu discurso de vitória, disse que era “hora de pacificar o país”. Mas, depois de alguns meses, optou pela oposição ferrenha ao presidente Jair Bolsonaro, cuja agenda conservadora tinha abraçado e gerado os votos necessários à vitória estadual. O governador, assim, entrava em sua terceira encarnação – a de candidato explícito ao Planalto e opositor ferrenho a Brasília.

Diante disso, os eleitores – especialmente aqueles de São Paulo – têm dificuldade de enxergar ao certo qual é a imagem de Doria. É a do gestor? Ou seria a de um conservador ao estilo Bolsonaro? Ou a de um político estabelecido com os moldes tucanos?

Ao lidar com essa percepção difusa dos eleitores, é natural que ele não consiga deslanchar como candidato a presidente. Mas há um efeito colateral neste constante mimetismo político. Em sua primeira eleição, criticou fortemente o PT durante a campanha (poupando pessoalmente seu concorrente, Fernando Haddad) e foi nessa toada até agora. Portanto, tem dificuldade de trafegar junto aos eleitores de esquerda. Ao mesmo tempo, ao rejeitar Bolsonaro após sua eleição, incorreu em dois problemas. O primeiro foi ser bombardeado pelos seguidores do presidente, que atacam até determinados itens de seu vestuário. O segundo ponto foi ser tachado de “traíra” pelos mesmos apoiadores do governo, que apontam também uma suposta traição dele ao ex-governador Alckmin (a saída do político do PSDB, inclusive, seria uma sinal de desconforto em dividir a sigla com Doria).

Podemos esperar uma nova encarnação de João Doria em 2022, sem mandato e candidato em tempo integral? Certamente, até porque as pesquisas qualitativas devem apontar estratégias alternativas de campanha. Porém, a cada dia, as chances de sucesso da Terceira Via vão encolhendo. João Doria conseguirá convencer o país inteiro de que pode ser o nome ideal para interromper uma guerra de extremos entre lulistas e bolsonaristas? É até possível – mas, até agora, o tempo conspira contra o governador. Seu caminho, até o primeiro turno, será duríssimo. Principalmente porque o ex-juiz Sérgio Moro parece amealhar mais votos que ele na disputa pelos eleitores que não querem Lula ou Bolsonaro.

Doria precisa estudar cuidadosamente o seu caminho daqui para frente. E gastar seus cartuchos com parcimônia – o que pode incluir um redirecionamento radical dos planos eleitorais para 2022. O governador ainda tem muito tempo pela frente. Não precisa apostar todo o seu futuro político nesta eleição presidencial.

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Aluizio Falcão Filho

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Por que, então, o governador Doria patina nas pesquisas de eleição presidencial e tem uma avaliação sofrível entre os paulistas (apenas 24 % consideram sua gestão “ótima” ou “boa” e 38 % acham-na “péssima” e “ruim”)? O cenário se torna ainda mais difícil de ser compreendido quando lembramos que existe um número enorme de eleitores buscando por um representante da chamada Terceira Via.

O fato é que João Doria, em sua curta carreira política, já passou por três encarnações – e talvez esteja entrando em sua quarta fase eleitoral. No início de sua vida pública, apresentou-se como gestor e não político, um nome novo centro de um cenário bastante abalado pelas denúncias da Operação Lava-Jato. Doria surgia como alguém que, bem-sucedido na iniciativa privada, seria um exemplo nacional de correção. Além disso, tinha uma trajetória de sucesso para comprovar sua capacidade administrativa. Por fim, possuía um grande talento de comunicador e personificava o anti-petismo.

Nem bem foi eleito, seu nome passou a ser comentado nacionalmente e veiculado como um possível candidato às eleições para presidente em 2018. Chegou a ensaiar uma tentativa de furar a fila e tomar a candidatura de Geraldo Alckmin, seu padrinho político. Acabou postulando o governo estadual. E, neste momento, entrou em sua segunda encarnação.

O discurso voltado à gestão não teve tanta repercussão. E os paulistanos ficaram revoltados com sua atitude de abandonar a prefeitura com pouco mais de um ano de mandato para concorrer ao governo do estado. Quando passou ao segundo turno, aderiu à campanha de Jair Bolsonaro e elevou o tom de críticas ao seu opositor, o então governador Márcio França (chamado por Doria de “Márcio Cuba”). Sua estratégia deu certo, apesar da pequena margem de vitória. Chamuscado da capital, contou com o voto mais conservador do interior para se aboletar no Palácio dos Bandeirantes.

Logo em seu discurso de vitória, disse que era “hora de pacificar o país”. Mas, depois de alguns meses, optou pela oposição ferrenha ao presidente Jair Bolsonaro, cuja agenda conservadora tinha abraçado e gerado os votos necessários à vitória estadual. O governador, assim, entrava em sua terceira encarnação – a de candidato explícito ao Planalto e opositor ferrenho a Brasília.

Diante disso, os eleitores – especialmente aqueles de São Paulo – têm dificuldade de enxergar ao certo qual é a imagem de Doria. É a do gestor? Ou seria a de um conservador ao estilo Bolsonaro? Ou a de um político estabelecido com os moldes tucanos?

Ao lidar com essa percepção difusa dos eleitores, é natural que ele não consiga deslanchar como candidato a presidente. Mas há um efeito colateral neste constante mimetismo político. Em sua primeira eleição, criticou fortemente o PT durante a campanha (poupando pessoalmente seu concorrente, Fernando Haddad) e foi nessa toada até agora. Portanto, tem dificuldade de trafegar junto aos eleitores de esquerda. Ao mesmo tempo, ao rejeitar Bolsonaro após sua eleição, incorreu em dois problemas. O primeiro foi ser bombardeado pelos seguidores do presidente, que atacam até determinados itens de seu vestuário. O segundo ponto foi ser tachado de “traíra” pelos mesmos apoiadores do governo, que apontam também uma suposta traição dele ao ex-governador Alckmin (a saída do político do PSDB, inclusive, seria uma sinal de desconforto em dividir a sigla com Doria).

Podemos esperar uma nova encarnação de João Doria em 2022, sem mandato e candidato em tempo integral? Certamente, até porque as pesquisas qualitativas devem apontar estratégias alternativas de campanha. Porém, a cada dia, as chances de sucesso da Terceira Via vão encolhendo. João Doria conseguirá convencer o país inteiro de que pode ser o nome ideal para interromper uma guerra de extremos entre lulistas e bolsonaristas? É até possível – mas, até agora, o tempo conspira contra o governador. Seu caminho, até o primeiro turno, será duríssimo. Principalmente porque o ex-juiz Sérgio Moro parece amealhar mais votos que ele na disputa pelos eleitores que não querem Lula ou Bolsonaro.

Doria precisa estudar cuidadosamente o seu caminho daqui para frente. E gastar seus cartuchos com parcimônia – o que pode incluir um redirecionamento radical dos planos eleitorais para 2022. O governador ainda tem muito tempo pela frente. Não precisa apostar todo o seu futuro político nesta eleição presidencial.

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