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Pesquisa BTG: a economia pode ser analisada através de um viés eleitoral?

O argumento é simples e racional: com a economia em melhor estado, haveria mais eleitores propensos em reeleger o presidente

(Ricardo Stuckert/Adenir Britto/PMSJC/Sergio Lima/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2022 às 21h32.

A principal razão pela qual o governo criou um pacote de bondades por decreto foi melhorar a performance da economia e conseguir maior competitividade nas urnas. No primeiro semestre, com a inflação ainda em alta e a atividade econômica deixando a desejar, o presidente Jair Bolsonaro precisava de uma injeção de ânimo para os cabos eleitorais. Neste sentido, os auxílios sociais e a redução do preço dos combustíveis foram engendrados como uma forma de trazer mais votos à situação. O argumento é simples e racional: com a economia em melhor estado, haveria mais eleitores propensos em reeleger o presidente. A pesquisa BTG/FSB divulgada hoje, porém, mostra que talvez essa tese não seja verdadeira – e de que a percepção do que ocorre na economia passe por uma espécie de filtro ideológico.

Recentemente, vimos que a inflação caiu para uma taxa anual abaixo de dois dígitos, a expectativa em relação ao crescimento do PIB de 2022 cresceu e o índice de desemprego diminuiu. Em tese, esses são indicadores positivos que poderiam influir nas pesquisas de intenção de voto.

O que se vê no estudo do BTG, no entanto, é que o viés eleitoral pode interferir na percepção dos brasileiros no panorama macroeconômico do país.

Entre os eleitores de Bolsonaro, por exemplo, 86 % consideram que o Brasil está vivendo um bom momento econômico. Apenas 7 % dizem que o país está em crise e tem dificuldades para superá-la. Já entre quem vota em Luiz Inácio Lula da Silva, a visão é totalmente contrária. Somente 3 % acreditam que a economia brasileira passa por uma boa fase – e 72 % acreditam que a nação passa por uma crise econômica.

Em relação à inflação, ocorre o mesmo. Bolsonaristas (52 % do total) acham que os preços vão aumentar menos e só uma minoria (16 %) acredita em uma alta. E os lulistas? Cerca de 58 % apostam em alta da inflação e apenas 33 % em queda.

Por fim, quando perguntados se a situação financeira melhorou ou piorou, os entrevistados parecem estar vivendo em países diferentes: entre os eleitores de Bolsonaro, 63 % dizem que estão melhores do que antes; já os 70 % dos apoiadores de Lula afirmam que o cenário atual está pior.

Além da questão ideológica, temos também uma questão de distribuição socioeconômica da população. O eleitorado de Lula tem maior concentração nas classes C, D e E. Esses brasileiros têm dificuldade de se proteger da inflação e sofrem mais os efeitos da alta de preços – e são os mais afetados pelo desemprego, que apesar da queda, continua alto.

Como se vê pela dança dos números nas pesquisas, ainda está difícil de se estabelecer um veredito 100 % acurado sobre os resultados de 2 de outubro. Mas, apesar do voto útil que desidratou Ciro Gomes e Simone Tebet nesta última enquete, uma vitória no primeiro turno ainda parece difícil para qualquer um dos lados – embora Lula, ao contrário do que disse Bolsonaro em Londres, é quem teria maiores chances para que isso ocorra.

As projeções de segundo turno mostram Lula com maior força, herdando a maioria dos sufrágios de Ciro e Tebet. Assim, a pergunta que não quer calar é: os bons ventos da economia podem ajudar Bolsonaro a recuperar terreno?

Em primeiro lugar, percebe-se pela pesquisa do BTG que o comportamento do eleitor em relação a esse tema não é tão linear e racional como o governo esperava – e que, talvez, exista uma rejeição à pessoa de Bolsonaro e não necessariamente em relação à administração atual (curiosamente, outro político que foi submetido a este fenômeno foi um desafeto do presidente, o governador João Doria).

Por outro lado, os efeitos benéficos da economia talvez precisem de maior tempo para que sejam percebidos do que seus impactos negativos. Dessa forma, será que os dias que restam até 30 de outubro serão suficientes para que haja uma percepção mais abrangente de melhora macroeconômica?

Trata-se de uma tarefa difícil, mas não impossível. Mas vamos depender dos resultados de 2 de outubro para refazer projeções e saber com certeza quais pesquisas estavam a capturando melhor o zeitgeist eleitoral de 2022, bem diferente daquele observado em 2018.

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A principal razão pela qual o governo criou um pacote de bondades por decreto foi melhorar a performance da economia e conseguir maior competitividade nas urnas. No primeiro semestre, com a inflação ainda em alta e a atividade econômica deixando a desejar, o presidente Jair Bolsonaro precisava de uma injeção de ânimo para os cabos eleitorais. Neste sentido, os auxílios sociais e a redução do preço dos combustíveis foram engendrados como uma forma de trazer mais votos à situação. O argumento é simples e racional: com a economia em melhor estado, haveria mais eleitores propensos em reeleger o presidente. A pesquisa BTG/FSB divulgada hoje, porém, mostra que talvez essa tese não seja verdadeira – e de que a percepção do que ocorre na economia passe por uma espécie de filtro ideológico.

Recentemente, vimos que a inflação caiu para uma taxa anual abaixo de dois dígitos, a expectativa em relação ao crescimento do PIB de 2022 cresceu e o índice de desemprego diminuiu. Em tese, esses são indicadores positivos que poderiam influir nas pesquisas de intenção de voto.

O que se vê no estudo do BTG, no entanto, é que o viés eleitoral pode interferir na percepção dos brasileiros no panorama macroeconômico do país.

Entre os eleitores de Bolsonaro, por exemplo, 86 % consideram que o Brasil está vivendo um bom momento econômico. Apenas 7 % dizem que o país está em crise e tem dificuldades para superá-la. Já entre quem vota em Luiz Inácio Lula da Silva, a visão é totalmente contrária. Somente 3 % acreditam que a economia brasileira passa por uma boa fase – e 72 % acreditam que a nação passa por uma crise econômica.

Em relação à inflação, ocorre o mesmo. Bolsonaristas (52 % do total) acham que os preços vão aumentar menos e só uma minoria (16 %) acredita em uma alta. E os lulistas? Cerca de 58 % apostam em alta da inflação e apenas 33 % em queda.

Por fim, quando perguntados se a situação financeira melhorou ou piorou, os entrevistados parecem estar vivendo em países diferentes: entre os eleitores de Bolsonaro, 63 % dizem que estão melhores do que antes; já os 70 % dos apoiadores de Lula afirmam que o cenário atual está pior.

Além da questão ideológica, temos também uma questão de distribuição socioeconômica da população. O eleitorado de Lula tem maior concentração nas classes C, D e E. Esses brasileiros têm dificuldade de se proteger da inflação e sofrem mais os efeitos da alta de preços – e são os mais afetados pelo desemprego, que apesar da queda, continua alto.

Como se vê pela dança dos números nas pesquisas, ainda está difícil de se estabelecer um veredito 100 % acurado sobre os resultados de 2 de outubro. Mas, apesar do voto útil que desidratou Ciro Gomes e Simone Tebet nesta última enquete, uma vitória no primeiro turno ainda parece difícil para qualquer um dos lados – embora Lula, ao contrário do que disse Bolsonaro em Londres, é quem teria maiores chances para que isso ocorra.

As projeções de segundo turno mostram Lula com maior força, herdando a maioria dos sufrágios de Ciro e Tebet. Assim, a pergunta que não quer calar é: os bons ventos da economia podem ajudar Bolsonaro a recuperar terreno?

Em primeiro lugar, percebe-se pela pesquisa do BTG que o comportamento do eleitor em relação a esse tema não é tão linear e racional como o governo esperava – e que, talvez, exista uma rejeição à pessoa de Bolsonaro e não necessariamente em relação à administração atual (curiosamente, outro político que foi submetido a este fenômeno foi um desafeto do presidente, o governador João Doria).

Por outro lado, os efeitos benéficos da economia talvez precisem de maior tempo para que sejam percebidos do que seus impactos negativos. Dessa forma, será que os dias que restam até 30 de outubro serão suficientes para que haja uma percepção mais abrangente de melhora macroeconômica?

Trata-se de uma tarefa difícil, mas não impossível. Mas vamos depender dos resultados de 2 de outubro para refazer projeções e saber com certeza quais pesquisas estavam a capturando melhor o zeitgeist eleitoral de 2022, bem diferente daquele observado em 2018.

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