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Para o mundo que eu quero descer

A intolerância chegou a um nível insuportável. O que torna esse panorama ainda pior? Os vilões acham que estão cobertos de razão em realizar atos hediondos

"O Grito", de Munch (Mario Tama/ Getty Images/Getty Images)
"O Grito", de Munch (Mario Tama/ Getty Images/Getty Images)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 27 de junho de 2022 às, 11h26.

Última atualização em 27 de junho de 2022 às, 11h27.

Aluizio Falcão Filho

Vivemos tempos difíceis.

O mundo vive sob a égide da inflação e da Guerra da Ucrânia, que revela episódios hediondos a cada dia que passa. Não bastasse isso, vemos, aqui e ali, casos de arrepiam a alma: uma cantora mexicana de 21 anos assassinada pelo marido de 79 com três tiros; um atirador matou três pessoas em um hospital em Oklahoma (oito dias depois de um adolescente dizimar 19 crianças e dois professores em uma escola no Texas); um homem de 42 anos atirou e exterminou duas pessoas em um bar LGBTQ+ em Oslo, na Noruega, sem nenhuma causa aparente.

Sofremos os efeitos da política polarizada no Brasil, com toda a agressividade que essa situação pode gerar. Mas também fomos colocados, nos últimos dias, diante de situações que causam tristeza profunda. Houve o caso do assassinato do jornalista inglês e do indigenista brasileiro. A menina de 11 anos, estuprada e grávida. Um casal de idosos morto a facas, no Rio de Janeiro, pelo ex-namorado de um dos filhos. Uma criança que se suicidou após lances frequentes de bullying em uma escola de São Paulo. E uma atriz de 21 anos que, estuprada e grávida, deu a criança em adoção – e foi massacrada nas redes sociais diante de sua atitude, que vazou por conta do staff do hospital onde fez o parto.

Dá vontade de gritar, como cantava Silvio Brito: “Para o mundo que eu quero descer”.

É como se o ser humano estivesse contaminado pela escrotidão, pelo preconceito e pela agressividade sem limites. A empatia acabou. O entendimento também. O diálogo foi substituído pela imposição de ideias. E, com isso, vem a reboque o desejo de lacrar, bater ou coisa pior.

A intolerância chegou a um nível insuportável. O que torna esse panorama ainda pior? Os vilões acham que estão cobertos de razão em realizar atos hediondos. Não há arrependimentos. Pedidos de desculpas. Contrição, penitência ou remorso? Nem pensar.

Como podemos criar nossos filhos nesse ambiente, em que violência verbal e física entram em um crescimento exponencial?

Sou daquele tipo de pessoa que ama as segundas feiras. Mas a leitura das notícias nos últimos dias – em especial neste final de semana – me embrulhou o estômago e me deixou desanimado para enfrentar a semana.

Precisamos dar um basta nisso tudo. Segurar essa agressividade. Tentar entender o outro lado e aceitar eventuais derrotas. No mundo político e no restante de nossa vida. Nunca tivemos um discurso tão politicamente correto como acontece nos dias de hoje. Em compensação, a agressividade que corrói a sociedade nunca foi tão grande.

Precisamos chegar a um equilíbrio rapidamente. Não podemos mais nos perder na cólera e no descontrole. Somos humanos e temos a obrigação de não nos deixar levar pelos instintos mais violentos.

Abert Einstein disse: “Eu não sou apenas um pacifista, mas um militante pacifista. Estou disposto a lutar pela paz. Nada vai acabar com a guerra, a não ser as próprias pessoas que se recusarem a guerrear”.

Vamos colocar essa frase em nosso contexto, marcado por um conjunto de batalhas digitais e silenciosas. E tentar botar esse desejo de guerrear de lado. Já temos inúmeras provas de que violência gera violência. E que o clima de agressões verbais que habita as redes sociais já ganhou o mundo real e produziu vítimas de carne e osso.

Chega nos render à fúria e à bestialidade. Para o bem de todos nós.