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Pandemia em queda mesmo depois das praias cheias

A hipótese com que muitos especialistas trabalham é que tenhamos entrado na fase de imunização de rebanho. Mas episódios mostram que o vírus é traiçoeiro

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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 26 de setembro de 2020 às, 10h48.

No feriado de 7 de setembro, as estradas estiveram lotadas. As praias no litoral paulista e no Rio de Janeiro ficaram em sua capacidade máxima, com aglomeração total. As redes sociais fervilharam com diversos arautos do apocalipse prevendo um desastre sanitário logo na sequência. Pois cá estamos, três semanas depois do tal feriadão, e registramos os menores números da pandemia desde o mês de maio. A média de mortes, o volume de casos e a taxa de ocupação de hospitais simplesmente estão em queda.

As estatísticas ainda estão em um patamar relativamente alto – são cerca de 1 000 casos registrados diariamente no estado de São Paulo. Mas a tendência parece ser de queda. Para que todo o estado entre na chamada fase verde, é preciso que exista uma diminuição contínua por quatro semanas consecutivas e o índice de internações por 100 000 habitantes esteja abaixo de 40. Ainda não se chegou a esses resultados, mas as autoridades estão otimistas em atingi-los num futuro próximo.

A pergunta que não quer calar é a seguinte: como é que os efeitos da pandemia estão se mostrando menores mesmo depois que praias e hotéis ficaram lotadíssimos com turistas em 7 de setembro? Mais que isso: os restaurantes em São Paulo começam a mostrar sinais de recuperação. Bares idem. As pessoas voltaram a circular bastante. O trânsito da capital está bastante agitado, embora ainda não tenha voltado aos congestionamentos pré-pandemia. Os índices de isolamento social estão em franca diminuição. No auge do processo de contaminação, chegaram a ultrapassar os 60 % no estado paulista. Hoje, o índice é de 32 %.

Ou seja, as pessoas circulam mais e, mesmo assim, os registros apresentam queda. Como isso é possível?

A hipótese com que muitos especialistas estão trabalhando é que tenhamos entrado na fase de imunização de rebanho. Assim, aqueles que entram em contato agora com o vírus têm maior resistência, não se contaminando ou permanecendo assintomáticos. Até aí, tudo bem.

Mas, como explicar a contaminação que houve na posse do ministro Luiz Fux na presidência do Supremo Tribunal Federal? Nove autoridades foram contaminadas após o tal evento, que é o único ponto em comum entre essas pessoas. A explicação óbvia seria que, durante o coquetel, quando as máscaras tiveram de ser retiradas, houve o contágio.

Mas, entre esses nove contaminados, há quem não ficou para o convescote e manteve sua máscara no rosto ao tempo todos. Como alguém que observou essas regras de segurança foi contaminado?

Essas duas situações mostram o quanto o comportamento deste microrganismo é traiçoeiro e imprevisível. Seguramente, teremos algumas surpresas ainda nos próximos meses sobre a pandemia – que devem ser mitigadas com a disseminação das novas vacinas. O fato é que, apesar de todos estarem mais relaxados em relação ao coronavírus, ele parece nos confundir mesmo depois de termos reunido tanta informação sobre seu comportamento.

Por isso, talvez o melhor seja investir um pouco mais em precaução nessa reta final. Na dúvida, prefira sempre o caminho da cautela.