Os deuses econômicos vão ajudar Lula a baixar os juros?
A queda de juros vai amenizar a briga entre Lula e BC?
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2023 às 12h59.
Aluizio Falcão Filho
Ontem, os deuses da Macroeconomia ajudaram bastante o governo, com o anúncio da inflação oficial de março. O IPCA bateu 0,71 %, abaixo do que esperavam os analistas financeiros, e mostrou uma desaceleração do índice inflacionário em relação a janeiro. Mais que isso: não fosse o fim da desoneração dos combustíveis e da energia elétrica, a alta de preços teria sido apenas de 0,25 %. Este resultado trouxe euforia às bolsas de valores e, combinado com outros fatores, ajudou a derrubar as cotações do dólar.
Uma queda da inflação é o que os economistas estavam esperando para imaginar uma queda na Selic – algo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem clamando desde o início de seu mandato. Quando observamos o mercado futuro, por exemplo, o mercado financeiro estava esperando uma queda de taxas entre agosto e setembro. Com os resultados da inflação de março, porém, as perspectivas de taxas menores de juros devem ser adiantadas. Além disso, muitos economistas acreditam que, uma vez em queda, a Selic terá de sofrer baixas sucessivas em um curto período de tempo. A razão é o tamanho atual dos juros reais, um dos maiores do mundo.
A queda de juros vai amenizar a briga entre Lula e BC?
Como se estivesse em um cercadinho virtual, o presidente usa sempre uma parte de seus dias para detonar um inimigo que elegeu em 1º de janeiro: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Hoje, o problema atual é com os juros. Mas, no futuro, pode ser com outra questão macroeconômica. No fundo, Lula não engole Campos por uma só razão: o chefe do BC foi indicado pelo governo anterior e tem um pensamento econômico bem diferente daquele difundido pelos economistas do PT.
Pode-se explicar os altos juros da atualidade por alguns motivos, a começar pela meta de inflação, que está muito baixa diante da realidade. Como autoridade monetária, o Banco Central precisa seguir as regras e tentar buscar um resultado mais próximo de seu objetivo, que é 3,25 % na média (ou 4,75 % no máximo).
Mas esse não é o único ponto que o Bacen levou em consideração ao manter os juros na estratosfera. Também se calculou qual seria a taxa palatável para o mercado emprestar dinheiro dentro do cenário econômico atual. Neste caso, temos uma desconfiança abissal rondando o mercado: acredita-se que o governo não esteja empenhado (talvez com a honrosa exceção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad) em manter sob controle as contas do governo.
Por fim, temos as declarações de Lula e de dirigentes do PT que amplificam a percepção de que o governo não quer ter limites para gastar. Dias desses, por exemplo, o presidente disse que a meta deveria ser corrigida se estivesse errada. Qual foi a reação dos agentes financeiros? Achar que poderia haver um novo arrefecimento inflacionário (previsível quando se eleva uma meta conservadora).
Vamos imaginar, por um instante, que a inflação de março não tivesse diminuido e aberto a porta para uma redução na Selic. Como Lula poderia contribuir para uma queda efetiva de juros?
O primeiro ponto seria reativar o projeto de privatizações e reinserir os Correios e mais seis estatais na lista de empresas que podem passar às mãos da iniciativa privada. Ao demonstrar claramente que o governo está comprometido em reduzir os gastos públicos e aumentar sua arrecadação com a venda de ativos públicos, o mercado vai aceitar taxas mais reduzidas para emprestar dinheiro.
Outro tópico: promover um plano de demissões voluntárias para diminuir o número de funcionários públicos – ou partir para uma reforma administrativa ousada, com o objetivo de reduzir custos e, ao mesmo tempo, oferecer novas oportunidade de crescimento profissional ao funcionalismo.
Por fim, o governo deve deixar bem claras as regras do novo arcabouço fiscal que limitam o estouro de despesas e que podem significar em um equilíbrio de contas em 2024.
Estes seriam os primeiros passos (utópicos, diante da intransigência petista) para que o mercado financeiro pudesse ver com boa vontade a estratégia do governo na gestão dos cofres públicos. Enquanto houver desconfiança de que o PT promoverá uma gastança sem o devido lastro, os juros serão maiores do que deveriam ser – mesmo que sejam ceifados em função da queda da inflação.
Aluizio Falcão Filho
Ontem, os deuses da Macroeconomia ajudaram bastante o governo, com o anúncio da inflação oficial de março. O IPCA bateu 0,71 %, abaixo do que esperavam os analistas financeiros, e mostrou uma desaceleração do índice inflacionário em relação a janeiro. Mais que isso: não fosse o fim da desoneração dos combustíveis e da energia elétrica, a alta de preços teria sido apenas de 0,25 %. Este resultado trouxe euforia às bolsas de valores e, combinado com outros fatores, ajudou a derrubar as cotações do dólar.
Uma queda da inflação é o que os economistas estavam esperando para imaginar uma queda na Selic – algo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem clamando desde o início de seu mandato. Quando observamos o mercado futuro, por exemplo, o mercado financeiro estava esperando uma queda de taxas entre agosto e setembro. Com os resultados da inflação de março, porém, as perspectivas de taxas menores de juros devem ser adiantadas. Além disso, muitos economistas acreditam que, uma vez em queda, a Selic terá de sofrer baixas sucessivas em um curto período de tempo. A razão é o tamanho atual dos juros reais, um dos maiores do mundo.
A queda de juros vai amenizar a briga entre Lula e BC?
Como se estivesse em um cercadinho virtual, o presidente usa sempre uma parte de seus dias para detonar um inimigo que elegeu em 1º de janeiro: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Hoje, o problema atual é com os juros. Mas, no futuro, pode ser com outra questão macroeconômica. No fundo, Lula não engole Campos por uma só razão: o chefe do BC foi indicado pelo governo anterior e tem um pensamento econômico bem diferente daquele difundido pelos economistas do PT.
Pode-se explicar os altos juros da atualidade por alguns motivos, a começar pela meta de inflação, que está muito baixa diante da realidade. Como autoridade monetária, o Banco Central precisa seguir as regras e tentar buscar um resultado mais próximo de seu objetivo, que é 3,25 % na média (ou 4,75 % no máximo).
Mas esse não é o único ponto que o Bacen levou em consideração ao manter os juros na estratosfera. Também se calculou qual seria a taxa palatável para o mercado emprestar dinheiro dentro do cenário econômico atual. Neste caso, temos uma desconfiança abissal rondando o mercado: acredita-se que o governo não esteja empenhado (talvez com a honrosa exceção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad) em manter sob controle as contas do governo.
Por fim, temos as declarações de Lula e de dirigentes do PT que amplificam a percepção de que o governo não quer ter limites para gastar. Dias desses, por exemplo, o presidente disse que a meta deveria ser corrigida se estivesse errada. Qual foi a reação dos agentes financeiros? Achar que poderia haver um novo arrefecimento inflacionário (previsível quando se eleva uma meta conservadora).
Vamos imaginar, por um instante, que a inflação de março não tivesse diminuido e aberto a porta para uma redução na Selic. Como Lula poderia contribuir para uma queda efetiva de juros?
O primeiro ponto seria reativar o projeto de privatizações e reinserir os Correios e mais seis estatais na lista de empresas que podem passar às mãos da iniciativa privada. Ao demonstrar claramente que o governo está comprometido em reduzir os gastos públicos e aumentar sua arrecadação com a venda de ativos públicos, o mercado vai aceitar taxas mais reduzidas para emprestar dinheiro.
Outro tópico: promover um plano de demissões voluntárias para diminuir o número de funcionários públicos – ou partir para uma reforma administrativa ousada, com o objetivo de reduzir custos e, ao mesmo tempo, oferecer novas oportunidade de crescimento profissional ao funcionalismo.
Por fim, o governo deve deixar bem claras as regras do novo arcabouço fiscal que limitam o estouro de despesas e que podem significar em um equilíbrio de contas em 2024.
Estes seriam os primeiros passos (utópicos, diante da intransigência petista) para que o mercado financeiro pudesse ver com boa vontade a estratégia do governo na gestão dos cofres públicos. Enquanto houver desconfiança de que o PT promoverá uma gastança sem o devido lastro, os juros serão maiores do que deveriam ser – mesmo que sejam ceifados em função da queda da inflação.