O tamanho do apoio restrito ao presidente
Segundo estudo publicado pela Folha de S. Paulo, 76% “defendem impeachment se Bolsonaro ignorar Justiça”
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2021 às 10h36.
Por Aluizio Falcão Filho
Desde ontem, a Folha de S. Paulo vem publicando trechos de um grande estudo encomendado a seu instituto de pesquisa. Hoje, esse trabalho foi publicado em sua íntegra na edição impressa do jornal e dedica mais de meia página a um tema em particular: a reação dos entrevistados a um eventual descumprimento de decisão judicial por parte do presidente Jair Bolsonaro (como ele ameaçou fazer em discurso no dia Sete de Setembro).
O jornal destaca que 76% “defendem impeachment se Bolsonaro ignorar Justiça”. O ponto a ser destacado, porém, está nas entrelinhas – ou seja, os 21 % que responderam que o presidente não deve sofrer impeachment se descumprir ordem da Justiça.
Esta é a tal pergunta retórica, cuja resposta sabemos. A sanção a um mandatário que desobedece a Justiça deveria ser o impedimento. Mas, para 21 %, as regras da Lei não se aplicam necessariamente ao presidente.
Já politizamos discussões técnicas como a aplicação de vacinas ou o uso de urnas eletrônicas, temas que nunca foram debatidos com afinco até a ascensão de Bolsonaro ao poder. E, agora, voltamos a fazer isso em relação a outro tópico – se o presidente pode ou não descumprir ordens judiciais. Para 21 %, Bolsonaro pode fazer isso, já que o Supremo Tribunal Federal – pela ótica destes entrevistados – é o responsável por todas as mazelas que vivemos no Brasil.
Não temos a melhor Alta Corte do mundo e muitas vezes enxergamos interpretações criativas (para usar um termo elegante) da Constituição por parte dos ministros do Supremo. Mas se utilizarmos isso como pretexto para que não se cumpra ordens judiciais estaremos a um passo da baderna institucional.
Essa resposta à pergunta formulada pelo Datafolha, assim, parece ser totalmente politizada e revela que há um apoio incondicional a Bolsonaro por parte de 21 % dos brasileiros (talvez esse percentual flutue para cima ou para baixo, mas está condizente com outras pesquisas que aferem a popularidade do governo).
Antes que alguém atire a primeira pedra e duvide dos números levantados pela Folha, é preciso lembrar que esses resultados são compatíveis com estudos formulados por instituições financeiras, que não podem ser acusadas de esquerdismo ou viés ideológico na elaboração de suas enquetes.
Feitas as contas, esse é a base de suporte irrestrito do presidente: algo entre um quarto e um quinto da população. Ele conseguirá ser reeleito sem a ajuda de outro perfil de eleitor? Dificilmente. A conquista de eleitores mais ao centro dependerá da moderação de Bolsonaro daqui para frente. Se o presidente optar por um discurso mais ponderado, poderá reverter a situação atual?
Com a economia sofrendo para se recuperar, as chances são pequenas. Mas, de todo o modo, é preciso recordar que a volatilidade do cenário político no Brasil é alta. Portanto, por aqui, nada é impossível. Mas a vida de Bolsonaro não será fácil. Para ter sucesso no segundo turno, ele precisará bem mais do que 21 % do apoio dos eleitores.
Por Aluizio Falcão Filho
Desde ontem, a Folha de S. Paulo vem publicando trechos de um grande estudo encomendado a seu instituto de pesquisa. Hoje, esse trabalho foi publicado em sua íntegra na edição impressa do jornal e dedica mais de meia página a um tema em particular: a reação dos entrevistados a um eventual descumprimento de decisão judicial por parte do presidente Jair Bolsonaro (como ele ameaçou fazer em discurso no dia Sete de Setembro).
O jornal destaca que 76% “defendem impeachment se Bolsonaro ignorar Justiça”. O ponto a ser destacado, porém, está nas entrelinhas – ou seja, os 21 % que responderam que o presidente não deve sofrer impeachment se descumprir ordem da Justiça.
Esta é a tal pergunta retórica, cuja resposta sabemos. A sanção a um mandatário que desobedece a Justiça deveria ser o impedimento. Mas, para 21 %, as regras da Lei não se aplicam necessariamente ao presidente.
Já politizamos discussões técnicas como a aplicação de vacinas ou o uso de urnas eletrônicas, temas que nunca foram debatidos com afinco até a ascensão de Bolsonaro ao poder. E, agora, voltamos a fazer isso em relação a outro tópico – se o presidente pode ou não descumprir ordens judiciais. Para 21 %, Bolsonaro pode fazer isso, já que o Supremo Tribunal Federal – pela ótica destes entrevistados – é o responsável por todas as mazelas que vivemos no Brasil.
Não temos a melhor Alta Corte do mundo e muitas vezes enxergamos interpretações criativas (para usar um termo elegante) da Constituição por parte dos ministros do Supremo. Mas se utilizarmos isso como pretexto para que não se cumpra ordens judiciais estaremos a um passo da baderna institucional.
Essa resposta à pergunta formulada pelo Datafolha, assim, parece ser totalmente politizada e revela que há um apoio incondicional a Bolsonaro por parte de 21 % dos brasileiros (talvez esse percentual flutue para cima ou para baixo, mas está condizente com outras pesquisas que aferem a popularidade do governo).
Antes que alguém atire a primeira pedra e duvide dos números levantados pela Folha, é preciso lembrar que esses resultados são compatíveis com estudos formulados por instituições financeiras, que não podem ser acusadas de esquerdismo ou viés ideológico na elaboração de suas enquetes.
Feitas as contas, esse é a base de suporte irrestrito do presidente: algo entre um quarto e um quinto da população. Ele conseguirá ser reeleito sem a ajuda de outro perfil de eleitor? Dificilmente. A conquista de eleitores mais ao centro dependerá da moderação de Bolsonaro daqui para frente. Se o presidente optar por um discurso mais ponderado, poderá reverter a situação atual?
Com a economia sofrendo para se recuperar, as chances são pequenas. Mas, de todo o modo, é preciso recordar que a volatilidade do cenário político no Brasil é alta. Portanto, por aqui, nada é impossível. Mas a vida de Bolsonaro não será fácil. Para ter sucesso no segundo turno, ele precisará bem mais do que 21 % do apoio dos eleitores.