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O repique da inflação ainda pode afetar as eleições de 2022?

"Quando a inflação deixou de ser um assunto tão forte, coincidência ou não, a performance de Bolsonaro nas pesquisas começou a aumentar"

 (Marcello Casal jr/Agência Brasil)
(Marcello Casal jr/Agência Brasil)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 28 de abril de 2022 às, 19h13.

Qualquer político que tenta a reeleição tem como pior pesadelo uma economia claudicante no ano em que seu nome está nas cédulas eleitorais. Não é à toa, portanto, que a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro tenha surgido durante a escalada de preços que ganhou musculatura a partir de 2021.

Os primeiros meses de 2022, marcados por aumentos sucessivos nas taxas de juros, indicariam teoricamente que a espiral inflacionária poderia reduzir seu poder de fogo e dar um sossego ao candidato de situação. Quando a inflação deixou de ser um assunto tão forte, coincidência ou não, a performance de Bolsonaro nas pesquisas começou a aumentar.

Mas, nesta semana, observou-se que os preços voltaram a subir. O boletim Focus, compilado pelo Banco Central, aponta agora uma inflação de 7,65 % para 2022 – e essa foi o 15º reajuste seguido em relação à previsão do IPCA (em março, essa projeção anual era de 6,86 %).

Para tornar a situação mais complicada, os estoques do varejo mostram que o consumo está caindo. Uma pesquisa realizada pela Neogrid, empresa de software que atua no ramo varejista, mostra que o indicador de indisponibilidade de produtos nos supermercados foi de 10,8 % para 11,7 %. Na prática, isso quer dizer que o consumidor está comprando menos por conta da alta de preços – e mais produtos estão sobrando nas gôndolas.

Detalhe: este é o terceiro mês consecutivo em se observa o mesmo fenômeno.

Um exemplo disso está no leite UHT (sigla para Ultra High Temperatura – ou temperatura ultra alta), mais conhecido como “longa vida”. No último mês, o preço da caixa subiu 10 %. Essa alta provocou uma queda no consumo. Em média, os clientes do varejo compravam 3,1 unidades mensais. Este índice, após a alta dos preços, caiu para 2,9 unidades.

Trata-se ainda de um número aparentemente pequeno. Mas pode crescer e gerar insatisfações. É aqui que mora o perigo. Um eleitorado descontente em relação ao seu poder aquisitivo pode ser perigoso para um presidente que busca a reeleição. O problema não está apenas na doença, mas também em seu remédio. Há várias formas de se combater a alta de preços, mas as principais são o corte de gastos públicos e o aumento das taxas de juros. Ambas podem gerar uma atividade econômica mais moderada – algo que também pode prejudicar o jogo eleitoral dos governantes.

As pesquisas eleitorais indicam que, do final de 2021 para cá, o número de indecisos diminuiu. Em tese, isso significa que haveria pouca margem para uma nova queda de Bolsonaro nas enquetes. Ocorre, entretanto, que eleitores podem mudar de ideia – e trocar de barco como forma de protesto.Isso não quer dizer que um voto perdido pelo presidente vá necessariamente entrar na conta de Lula. Neste eventual movimento, um outro nome pode ser cogitado pelo eleitorado, embora as chances de uma Terceira Via tenham sido diluídas por campanhas até agora sem apelo.

Se houver um desarranjo provocado pela inflação crescente, a recuperação eleitoral de Bolsonaro pode subir no telhado.

Mas essa eleição tem um aspecto diferente das demais – há um forte embate entre correntes políticas. De um lado, temos os bolsonaristas e conservadores que não desejam a volta do PT ao poder. De outro, eleitores tradicionais da esquerda e moderados que preferem Lula à continuidade do atual governo. Este confronto pode deixar as flutuações econômicas em segundo plano.

Nesta hora, é sempre bom lembrar uma frase do economista Ludwig Von Mises, escrita em 1949: “Economia não é algo a respeito de produtos e serviços; seu funcionamento é regido pela ação humana e suas escolhas”. A julgar pelo está acontecendo neste ano de 2022, talvez esse seja um dos insights mais atuais da obra de Mises.