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O recado que os atos de sábado passam a Bolsonaro

Existe um núcleo de insatisfeitos na classe média que pode complicar a reeleição em 2022

Manifestantes em frente ao Masp, em São Paulo: protestos contra o governo (Taba Benedicto/Agência Estado)
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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2021 às 09h22.

Última atualização em 31 de maio de 2021 às 12h27.

Aluizio Falcão Filho

As fotos não mentem – assim como eram verdadeiras as imagens das manifestações populares realizadas a favor de Jair Bolsonaro até a semana passada. Os atos contra o presidente reuniram bastante gente em várias capitais do país. Em São Paulo, por exemplo, a avenida Paulista ficou tomada de gente e a concentração resistiu até a uma forte chuva.

Os protestos, ao contrário do que se possa imaginar, não concentraram apenas manifestantes da esquerda. Pelas redes sociais, foi possível ver o engajamento de moderados nessas concentrações – alguns dos quais, inclusive, reclamavam das aglomerações que Bolsonaro produzia com seus atos públicos. Obviamente, a esquerda dominou essas manifestações. Mas há um sinal de alerta claro para o Palácio do Planalto. Existe um núcleo de insatisfeitos na classe média que pode complicar a reeleição em 2022.

É de se esperar que, daqui para frente, tenhamos um duelo de carreatas, passeatas e até “motociatas” (um termo novo que surgiu na língua portuguesa desde que Bolsonaro decidiu realizar passeios coletivos de moto como um sinal de apoio político). Direita e esquerda vão se revezar nos finais de semana com concentrações crescentes de pessoas. O espírito competitivo e inconformista do presidente vai colocá-lo inevitavelmente em uma disputa para mostrar que ele consegue juntar uma multidão maior que a oposição. Será que os opositores vão conseguir acompanhá-lo? A conferir.

A aposta do presidente parece clara: fomentar os extremos e provocar um segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva, acreditando que poderá levar os moderados a despejar seus votos na situação, por causa da rejeição que o PT ainda sofre. Mas, ao mesmo tempo, Bolsonaro age em duas frentes: endurece o discurso para manter as bases fiéis engajadas e planeja medidas de auxílio para recuperar a popularidade dos tempos em que o governo soltou o auxílio de R$ 600 mensais.

Para os estrategistas do governo, isso seria suficiente para angariar os votos necessários para derrotar Lula. Pode até ser. Mas precisamos lembrar que o discurso negacionista ou politicamente incorreto pode afastá-lo ainda mais de um determinado estrato da classe média que já o rejeita. Este grupo forma, em sua maioria, a ala dos eleitores que não querem nem Bolsonaro nem Lula.

Trata-se de uma fatia significativa do eleitorado, cujo comportamento pode definir o pleito. Esses eleitores vão se unir em torno de uma só candidatura? Esse movimento ainda não está claro. Mas dificilmente haverá união em torno das opções já existentes. A possibilidade de uma terceira via ainda não está descartada, mas para se viabilizar vai depender ou de um discurso novo e empolgante dos candidatos atuais ou de uma grande mudança de cenário (como vimos no ano passado nos Estados Unidos, quando Joe Biden derrotou Donald Trump, que parecia caminhar para uma reeleição tranquila em dezembro de 2019).

Bolsonaro confia em dois fatores para reverter sua queda de popularidade: a vacinação ainda a ocorrer ao longo do ano e o dinheiro público que será destinado aos mais pobres. Nesse sentido, o presidente já orientou a equipe econômica para se virar e produzir condições que viabilizem a distribuição de recursos.

Neste sentido, o ministro Paulo Guedes – com a sua velha mania de pensar em voz alta durante eventos públicos – aproveitou a audiência provocada por conferência do BTG Pactual para anunciar que estudava uma espécie de bônus a ser pago à população com o dinheiro arrecadado pelas privatizações. Uma iniciativa que não combina com o passado liberal de Guedes. Será ele a segunda figura pública do Brasil a pedir para que esqueçam aquilo que escreveu? Mais uma a conferir.

Por fim, nota-se uma reação um tanto cética do eleitorado de direita em relação às manifestações de anteontem. Este é um caminho perigoso para quem apoia o governo. Desdenhar do inimigo é o pior erro que se pode cometer na ribalta política. É preciso estudar a atitude dos eleitores moderados e compreender melhor o que os levou a rejeitar a atual administração. E, em tese, utilizar essas informações para corrigir o discurso do presidente.

Mas, mesmo que alguém no Planalto entenda exatamente o que se passa na cabeça do eleitorado descontente e crie uma estratégia infalível para reconquistar esse público, alguém enxerga Bolsonaro mudando seu estilo e seu jeito de conversar publicamente com os cidadãos?

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Aluizio Falcão Filho

As fotos não mentem – assim como eram verdadeiras as imagens das manifestações populares realizadas a favor de Jair Bolsonaro até a semana passada. Os atos contra o presidente reuniram bastante gente em várias capitais do país. Em São Paulo, por exemplo, a avenida Paulista ficou tomada de gente e a concentração resistiu até a uma forte chuva.

Os protestos, ao contrário do que se possa imaginar, não concentraram apenas manifestantes da esquerda. Pelas redes sociais, foi possível ver o engajamento de moderados nessas concentrações – alguns dos quais, inclusive, reclamavam das aglomerações que Bolsonaro produzia com seus atos públicos. Obviamente, a esquerda dominou essas manifestações. Mas há um sinal de alerta claro para o Palácio do Planalto. Existe um núcleo de insatisfeitos na classe média que pode complicar a reeleição em 2022.

É de se esperar que, daqui para frente, tenhamos um duelo de carreatas, passeatas e até “motociatas” (um termo novo que surgiu na língua portuguesa desde que Bolsonaro decidiu realizar passeios coletivos de moto como um sinal de apoio político). Direita e esquerda vão se revezar nos finais de semana com concentrações crescentes de pessoas. O espírito competitivo e inconformista do presidente vai colocá-lo inevitavelmente em uma disputa para mostrar que ele consegue juntar uma multidão maior que a oposição. Será que os opositores vão conseguir acompanhá-lo? A conferir.

A aposta do presidente parece clara: fomentar os extremos e provocar um segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva, acreditando que poderá levar os moderados a despejar seus votos na situação, por causa da rejeição que o PT ainda sofre. Mas, ao mesmo tempo, Bolsonaro age em duas frentes: endurece o discurso para manter as bases fiéis engajadas e planeja medidas de auxílio para recuperar a popularidade dos tempos em que o governo soltou o auxílio de R$ 600 mensais.

Para os estrategistas do governo, isso seria suficiente para angariar os votos necessários para derrotar Lula. Pode até ser. Mas precisamos lembrar que o discurso negacionista ou politicamente incorreto pode afastá-lo ainda mais de um determinado estrato da classe média que já o rejeita. Este grupo forma, em sua maioria, a ala dos eleitores que não querem nem Bolsonaro nem Lula.

Trata-se de uma fatia significativa do eleitorado, cujo comportamento pode definir o pleito. Esses eleitores vão se unir em torno de uma só candidatura? Esse movimento ainda não está claro. Mas dificilmente haverá união em torno das opções já existentes. A possibilidade de uma terceira via ainda não está descartada, mas para se viabilizar vai depender ou de um discurso novo e empolgante dos candidatos atuais ou de uma grande mudança de cenário (como vimos no ano passado nos Estados Unidos, quando Joe Biden derrotou Donald Trump, que parecia caminhar para uma reeleição tranquila em dezembro de 2019).

Bolsonaro confia em dois fatores para reverter sua queda de popularidade: a vacinação ainda a ocorrer ao longo do ano e o dinheiro público que será destinado aos mais pobres. Nesse sentido, o presidente já orientou a equipe econômica para se virar e produzir condições que viabilizem a distribuição de recursos.

Neste sentido, o ministro Paulo Guedes – com a sua velha mania de pensar em voz alta durante eventos públicos – aproveitou a audiência provocada por conferência do BTG Pactual para anunciar que estudava uma espécie de bônus a ser pago à população com o dinheiro arrecadado pelas privatizações. Uma iniciativa que não combina com o passado liberal de Guedes. Será ele a segunda figura pública do Brasil a pedir para que esqueçam aquilo que escreveu? Mais uma a conferir.

Por fim, nota-se uma reação um tanto cética do eleitorado de direita em relação às manifestações de anteontem. Este é um caminho perigoso para quem apoia o governo. Desdenhar do inimigo é o pior erro que se pode cometer na ribalta política. É preciso estudar a atitude dos eleitores moderados e compreender melhor o que os levou a rejeitar a atual administração. E, em tese, utilizar essas informações para corrigir o discurso do presidente.

Mas, mesmo que alguém no Planalto entenda exatamente o que se passa na cabeça do eleitorado descontente e crie uma estratégia infalível para reconquistar esse público, alguém enxerga Bolsonaro mudando seu estilo e seu jeito de conversar publicamente com os cidadãos?

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