O que pode atrair os jovens ricos para o caminho da direita
Há matizes difusas no espectro ideológico que fazem muitas pessoas misturarem comportamentos da esquerda com conceitos político-econômicos da direita
Publicado em 4 de dezembro de 2020 às, 14h15.
Rótulos como direita e esquerda são antigos. E, no mundo de hoje, há matizes difusas no espectro ideológico, que fazem muitas pessoas misturarem características comportamentais da antiga esquerda com conceitos político-econômicos da chamada direita. Mas, recentemente, vimos outro tipo de mescla ocorrer aqui em São Paulo: muitos jovens de famílias da classe alta votando em Guilherme Boulos, do PSOL, para a prefeitura. Esse foi o tópico de um artigo desta semana e revisito o tema em função de uma pergunta que recebi de várias pessoas.
A questão é: como fazer esses jovens se interessarem pela direita?
Em primeiro lugar, temos que levar em consideração dois fatores: jovens são inquietos, querendo mudar o mundo, e muito sensíveis ao discurso de justiça social, algo apropriado pelos políticos que se situam à esquerda.
Diante dessa situação, temos primeiro que lembrar que ser de direita é algo intrinsicamente ligado aos mais velhos. Estão em minoria os moços que pregam as virtudes do capitalismo. E todos sabem que a última coisa que a juventude deseja é replicar conceitos e valores de seus pais (embora, como na música do compositor Belchior – “Como Nossos Pais” – é que muitas vezes acontece com o tempo). Neste contexto, qualquer discurso catequizante em direção à direita já sai perdendo, pois os jovens querem ser jovens.
Além disso, os representantes do conservadorismo querem conquistar as mentes mais novas através de uma análise simples e racional dos aspectos econômicos. O socialismo não consegue se manter em pé pela falta de condições de gerar riquezas. Mas são poucos os jovens que entendem minimamente sobre os vasos comunicantes da economia para se sensibilizar em relação a esses argumentos. Pregar o capitalismo pela inviabilidade financeira do socialismo é dar murro em ponta de faca.
Outro movimento clássico dos direitistas mais radicais é tentar incutir entre a juventude o ódio ao comunismo. Como os jovens podem odiar algo que nunca viram? Pergunte a qualquer pessoa de vinte anos: você já falou com um comunista de verdade? A resposta provavelmente será negativa.
Jovens falam o idioma da modernidade. Neste caso, Boulos foi esperto. Escondeu a mensagem socialista de seus eleitores e trabalhou dois conceitos: a necessidade de mudanças e o respeito à diversidade.
É o caso de se perguntar: por que a direita não estuda esse fenômeno de perto e tenta criar uma narrativa que seja palatável aos mais jovens?
Pois deveria. E, antes de mais nada, seria bom compreender que o capitalismo também pode ser defendido com emoções positivas. Em primeiro lugar, é possível defender a liberdade que existe dentro do regime capitalista. No passado, é bem verdade, houve governos totalitários de direita – mas, hoje, a maioria esmagadora das ditaduras está localizada no quadrante vermelho da ideologia.
Pergunte a um jovem o que seria dele sem a liberdade desfrutada nos dias de hoje, mostrando tudo aquilo que parece ser banal em seu cotidiano. Em seguida, compare com a alternativa que existe em uma ditadura. E apresente os resultados dessa liberdade desfrutada: a democracia, a falta de censura, a capacidade inviolável de se expressar.
Temos também duas questões importantes: a inclusão social e o respeito à diversidade. Por que não abraçar essas causas? A direita se prende, muitas vezes, a um conservadorismo de costumes. Mas isso acaba gerando um conflito que leva os jovens à rejeição de valores como o liberalismo. Se muitas empresas abraçam a diversidade, por que os indivíduos relutam em fazê-lo? Se uma pessoa jurídica, com toda a sua complexidade consegue, uma pessoa física também pode. Nos Estados Unidos, isso é muito comum, especialmente nos grandes centros urbanos. Há republicanos que defendem uma agenda de diversidade e inclusão. Se essa mentalidade se espalhar no Brasil, talvez os jovens não enxerguem a direita com tanta prevenção.
A direita, ainda, não explora ou celebra ícones que deveriam estar em uma espécie de Hall of Fame tupiniquim. Em Money Report, temos um exemplo parecido. Nesta semana, homenageamos alguns nomes importantes do empresariado e do Terceiro Setor no evento “Galeria de Notáveis”, que chegou à quinta edição em 2020. Neste ano, tivemos alguns exemplos que são símbolos máximos de pessoas que superaram barreiras e mostraram que não existiam limites para o crescimento – seja no campo profissional como no pessoal.
Deste grupo, enumero dois nomes que hoje são reconhecidos como empresários sólidos, mas tiveram de trabalhar muito para chegar aonde estão. Um deles é Alexandre Costa, que começou fabricando chocolate artesanal ainda adolescente e hoje comanda um grupo que fatura mais de R$ 3 bilhões anuais. Sandro Rodrigues, da Hinode – empresa de cosméticos que deve faturar cerca de R$ 2 bilhões neste ano –, é outro. Fundou a empresa muito jovem, com a ajuda dos pais (que não ultrapassaram o quarto ano do ensino fundamental) em uma garagem. E foi, aos poucos, estabelecendo uma rota de crescimento irrefreável para a companhia.
Na área de responsabilidade social, tivemos também duas figuras que estampam perfeitamente o que é superação. Comecemos por Celso Athayde, da Central Única de Favelas. Com perseverança, fez bicos, trabalhou como camelô e encontrou oportunidades na música, até criar a CUFA. Além dele, outro vencedor que premiamos foi Edu Lyra, idealizador da iniciativa Gerando Falcões. O que une os dois? Vieram de famílias com problemas, moraram em favelas e abriram com resiliência seus caminhos.
Cada um a seu modo, Alexandre, Sandro, Celso e Edu são modelos de comportamento e de sucesso que só poderiam acontecer em um regime capitalista. São estes exemplos que deveriam ser mostrados aos jovens que hoje se encantam com as palavras de Guilherme Boulos e sua cantilena de mudança. Estes cidadãos excepcionais e empreendedores de mão cheia têm uma característica em comum: nunca desistiram de seus sonhos. Eu pergunto: existem sonhos dentro de um regime como o cubano? Sim. Mas estes devaneios ficam geralmente no campo da fantasia e jamais se concretizam.
Alexandre, Sandro, Celso e Edu podem ser embaixadores eméritos dos benefícios que o capitalismo podem trazer para quem se dedica com afinco a uma ideia. Trabalhar muito, aliás, é outra qualidade destes indivíduos fora da curva. Mas trata-se de um esforço contínuo, com afinco, vigor e propósito. Sem isso, pode-se cansar muito e ir a nenhum lugar. Afinal, o que importa neste caminho para o reconhecimento é a intensidade com a qual fazemos as coisas. É como dizia Abraham Lincoln: “No final, não são os anos de vida que contam. É a vida que você teve nesses anos que faz a diferença”.