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O que nos revela o escândalo das joias

Vê-se nas redes sociais que os bolsonaristas adotaram uma postura semelhante aos lulistas durante a Lava-Jato

Mauro Cid e Jair Bolsonaro (Alan santos/Presidência/Flickr)

Publicado em 15 de agosto de 2023 às 10h58.

Corria o ano de 1986 e uma canção da banda RPM fazia um sucesso danado. Em um determinado momento da música, o vocalista Paulo Ricardo cantava os seguintes versos: “O escândalo das joias/ E o contrabando/ E um bando de gente importante envolvida”. Hoje, isso parece premonição. Mas a letra fazia menção a um episódio ocorrido em 1983, na qual um contrabandista de pedras preciosas tinha sido preso e dito que o então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel estava envolvido no esquema (depois disso, ele seria inocentado no decorrer de um processo legal).

Quase quarenta anos depois, a canção receberá da plateia outra interpretação quando for executada em um dos shows de Paulo Ricardo (meu contemporâneo na faculdade de jornalismo, diga-se de passagem), por conta do imbróglio envolvendo relógios e joias dados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e passados para frente em Miami (para onde teriam sido levados a bordo do avião presidencial em 30 de dezembro de 2022).

Este episódio ainda tem algumas pontas soltas e detalhes não explicados. A defesa está justamente se apegando a essas questões para negar irregularidades, apesar das fortes evidências de que houve uma conduta errada. Mas, diante do negacionismo de muitos admiradores de Bolsonaro, vamos fazer uma pergunta que marcou a gestão passada: “E se fosse o PT?”.

Vamos imaginar que o personagem central deste escândalo fosse o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Os defensores de Bolsonaro teriam tanto cuidado ao analisar o caso? Ou simplesmente partiriam para a crítica escrachada mesmo antes do final das investigações?

A operação Lava-Jato mostrou que a sociedade brasileira costuma condenar figuras públicas com base em evidências e não em provas. Mas este episódio parece se destacar pelo amadorismo primário dos envolvidos, com o agravante de ter dois militares (pai e filho) envolvidos no comércio (ilegal ou não) de supostos bens de um ex-presidente.

Bolsonaro conta com o apoio inequívoco de uma parcela significativa de brasileiros, que não vai acreditar em uma eventual culpa mesmo que existam provas irrefutáveis contra o ex-mandatário. Mas esse grupo de seguidores fiéis tende a diminuir quando mais detalhes do caso forem divulgados.

De qualquer forma, vê-se nas redes sociais que os bolsonaristas adotaram uma postura semelhante aos lulistas durante a Lava-Jato.

Um internauta, por exemplo, disse o seguinte neste final de semana: “Alguém acredita nessas ‘provas’? Não é defender Bolsonaro não, mas estamos vivendo um Estado de Exceção. Simplesmente não dá para confiar na PF e no STF. Estamos numa ditadura muito pior que a militar”.

Inúmeros posts falam em “narrativa”, “acusações midiáticas”, “provas ilegais” – exatamente o que os militantes do PT diziam quando avançava o cerco a Lula entre 2016 e 2017. Para os dois lados da polarização, a sua turma nunca fez nada de errado, somente os oponentes.

Esse escândalo mostra que o Brasil não muda e tem enormes dificuldades para amadurecer. Um dos fatores que emperra a nossa evolução é justamente a polarização que nos emburrece e nos joga automaticamente para um dos lados. Precisamos reduzir os radicalismos a um nível aceitável, reservado apenas às minorias. Caso contrário, vamos nos tornar sempre massa de manobra de líderes ignóbeis.

Diante disso, é impossível não ficar estupefato com os acontecimentos e arregalar os olhos com o descaramento de alguns personagens de nossa política. Para retornar à canção “Alvorada Voraz”, há mais versos que podem traduzir o atual momento:

“Fardas e força

Forjam as armações

Farsas e jogos

Armas de fogo

{..]

E eu, nesse mundo assim,

Vendo esse filme passar”

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Corria o ano de 1986 e uma canção da banda RPM fazia um sucesso danado. Em um determinado momento da música, o vocalista Paulo Ricardo cantava os seguintes versos: “O escândalo das joias/ E o contrabando/ E um bando de gente importante envolvida”. Hoje, isso parece premonição. Mas a letra fazia menção a um episódio ocorrido em 1983, na qual um contrabandista de pedras preciosas tinha sido preso e dito que o então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel estava envolvido no esquema (depois disso, ele seria inocentado no decorrer de um processo legal).

Quase quarenta anos depois, a canção receberá da plateia outra interpretação quando for executada em um dos shows de Paulo Ricardo (meu contemporâneo na faculdade de jornalismo, diga-se de passagem), por conta do imbróglio envolvendo relógios e joias dados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e passados para frente em Miami (para onde teriam sido levados a bordo do avião presidencial em 30 de dezembro de 2022).

Este episódio ainda tem algumas pontas soltas e detalhes não explicados. A defesa está justamente se apegando a essas questões para negar irregularidades, apesar das fortes evidências de que houve uma conduta errada. Mas, diante do negacionismo de muitos admiradores de Bolsonaro, vamos fazer uma pergunta que marcou a gestão passada: “E se fosse o PT?”.

Vamos imaginar que o personagem central deste escândalo fosse o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Os defensores de Bolsonaro teriam tanto cuidado ao analisar o caso? Ou simplesmente partiriam para a crítica escrachada mesmo antes do final das investigações?

A operação Lava-Jato mostrou que a sociedade brasileira costuma condenar figuras públicas com base em evidências e não em provas. Mas este episódio parece se destacar pelo amadorismo primário dos envolvidos, com o agravante de ter dois militares (pai e filho) envolvidos no comércio (ilegal ou não) de supostos bens de um ex-presidente.

Bolsonaro conta com o apoio inequívoco de uma parcela significativa de brasileiros, que não vai acreditar em uma eventual culpa mesmo que existam provas irrefutáveis contra o ex-mandatário. Mas esse grupo de seguidores fiéis tende a diminuir quando mais detalhes do caso forem divulgados.

De qualquer forma, vê-se nas redes sociais que os bolsonaristas adotaram uma postura semelhante aos lulistas durante a Lava-Jato.

Um internauta, por exemplo, disse o seguinte neste final de semana: “Alguém acredita nessas ‘provas’? Não é defender Bolsonaro não, mas estamos vivendo um Estado de Exceção. Simplesmente não dá para confiar na PF e no STF. Estamos numa ditadura muito pior que a militar”.

Inúmeros posts falam em “narrativa”, “acusações midiáticas”, “provas ilegais” – exatamente o que os militantes do PT diziam quando avançava o cerco a Lula entre 2016 e 2017. Para os dois lados da polarização, a sua turma nunca fez nada de errado, somente os oponentes.

Esse escândalo mostra que o Brasil não muda e tem enormes dificuldades para amadurecer. Um dos fatores que emperra a nossa evolução é justamente a polarização que nos emburrece e nos joga automaticamente para um dos lados. Precisamos reduzir os radicalismos a um nível aceitável, reservado apenas às minorias. Caso contrário, vamos nos tornar sempre massa de manobra de líderes ignóbeis.

Diante disso, é impossível não ficar estupefato com os acontecimentos e arregalar os olhos com o descaramento de alguns personagens de nossa política. Para retornar à canção “Alvorada Voraz”, há mais versos que podem traduzir o atual momento:

“Fardas e força

Forjam as armações

Farsas e jogos

Armas de fogo

{..]

E eu, nesse mundo assim,

Vendo esse filme passar”

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