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O que está em jogo neste Sete de Setembro

Por convocação do presidente Jair Bolsonaro, este será um dia voltado para os apoiadores do governo

Desfile de Bolsonaro no Dia da Independência (Adriano Machado/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2021 às 10h23.

Por Aluizio Falcão Filho

Na minha infância, a data que comemora a independência do Brasil foi seguidamente utilizada para promover o ufanismo que reinava no país durante o regime militar. Lembro com perfeição um Sete de Setembro comemorado em 1972 – o chamado Sesquicentenário da Independência. A efeméride gerou comemorações adicionais, todas de caráter ultrapatriótico, e anabolizou os desfiles e fanfarras.

Aquelas comemorações da década de 1970 eram aguardadas com expectativa. Aliás, havia tanto interesse neste tipo de desfile que se criou uma moda entre as escolas: colocar os alunos para treinar bandas e desfilar em ruas públicas. A TV Record de São Paulo tinha até um programa aos domingos pela manhã (foto) no qual mostrava escolas que desfilavam com suas bandas e marchadores em plena avenida São João, em função do grande número de competidores. O tal campeonato chegou a ter mais de 300 escolas competindo entre si.

Com o desgaste dos militares à frente do governo, especialmente com anos seguidos de inflação e economia estagnada, o ufanismo diminuiu e o interesse pela comemoração do Sete de Setembro arrefeceu. Aos poucos, o dia da Independência se transformou em um feriado como qualquer outro, a não ser para muitas universidades, que paralisam suas aulas nessa semana, criando um mega feriado.

A polarização política que vivemos no Brasil, no entanto, deu novas dimensões à data. Por convocação do presidente Jair Bolsonaro, este será um dia voltado para os apoiadores do governo: uma oportunidade para levantar bandeiras como a do voto impresso, a da intervenção militar ou mesmo a do fechamento do Supremo Tribunal Federal. Será uma data para que a militância pró-Bolsonaro solte as suas feras, botando para fora todos seus anseios.

Apesar do desgaste visto nos últimos tempos junto ao empresariado e à classe média, o governo ainda arregimenta um forte apoio: algo entre 25 % e 35 % da população. Isso é equivalente a um número expressivo de brasileiros – ou seja, espera-se um número enorme de pessoas desfilando em favor de Bolsonaro.

As ruas, entretanto, não serão ocupadas apenas por hordas bolsonaristas. Por decisão da justiça, oposicionistas também poderão se manifestar amanhã, desde que não partam para o conflito deliberado com governistas. Alguém apostaria em uma convivência pacífica entre as principais vertentes políticas da atualidade? Algo tão difícil como colocar torcidas de futebol antagônicas em um só ônibus e achar que haverá uma convivência harmônica e feliz.

Por que é possível se esperar confrontos durante o dia de amanhã?

Principalmente porque há ressentimento dos dois lados do balcão.

No quadrante dos apoiadores do governo, há agressividade de sobra, como se pode ver na militância exercida nas redes sociais. Mas, ao mesmo tempo, há um ressentimento acumulado em 14 anos de Partido dos Trabalhadores – especialmente em relação às acusações de corrupção que rondam o PT na Lava-Jato. Curiosamente, há partidos do Centrão igualmente envolvidos nesse processo, como o PTB de Roberto Jefferson (mas, como se trata de uma sigla de apoio ao governo, os petebistas – especialmente Jefferson – foram poupados de críticas e a prisão do presidente de sigla foi algo lamentado e apupado).

Já do lado dos petistas, o rancor tem a ver com as denúncias de corrupção, a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva e o impeachment de Dilma Rousseff – tudo isso misturado com as palavras de ordem ditas e reprisadas pela claque bolsonaristas contra os petistas. Esse grupo acredita que Lula tenha sido inocentado de suas acusações (quando, na verdade, o processo foi anulado por questões técnicas e voltou à estaca zero) e quer gritar isso nas ruas a plenos pulmões.

Embora exista um contingente enorme que torça para existir conflito violento entre essas duas comunidades, há também quem (dos dois lados) trabalhe por um dia sem provocações ou violência. O clima, porém, é de incerteza e apreensão. O que nos últimos tempos foi um feriado morno e sem graça passou a ser uma data aguardada com receio por boa parte dos brasileiros.

Como diria Boris Casoy, esse é o tipo de situação em que tudo pode acontecer – inclusive nada. Mas a articulação dos governistas durante o dia de amanhã pode ser um prenúncio do que ocorrerá nas eleições de 2022, especialmente se Bolsonaro se mantiver em uma posição ruim nas pesquisas eleitorais e não tiver uma boa performance nas urnas do Primeiro Turno. Um desempenho ruim nas pesquisas pode provocar protestos nas ruas e um resultado igualmente insatisfatório na hora do pleito pode gerar coisa ainda pior.

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Por Aluizio Falcão Filho

Na minha infância, a data que comemora a independência do Brasil foi seguidamente utilizada para promover o ufanismo que reinava no país durante o regime militar. Lembro com perfeição um Sete de Setembro comemorado em 1972 – o chamado Sesquicentenário da Independência. A efeméride gerou comemorações adicionais, todas de caráter ultrapatriótico, e anabolizou os desfiles e fanfarras.

Aquelas comemorações da década de 1970 eram aguardadas com expectativa. Aliás, havia tanto interesse neste tipo de desfile que se criou uma moda entre as escolas: colocar os alunos para treinar bandas e desfilar em ruas públicas. A TV Record de São Paulo tinha até um programa aos domingos pela manhã (foto) no qual mostrava escolas que desfilavam com suas bandas e marchadores em plena avenida São João, em função do grande número de competidores. O tal campeonato chegou a ter mais de 300 escolas competindo entre si.

Com o desgaste dos militares à frente do governo, especialmente com anos seguidos de inflação e economia estagnada, o ufanismo diminuiu e o interesse pela comemoração do Sete de Setembro arrefeceu. Aos poucos, o dia da Independência se transformou em um feriado como qualquer outro, a não ser para muitas universidades, que paralisam suas aulas nessa semana, criando um mega feriado.

A polarização política que vivemos no Brasil, no entanto, deu novas dimensões à data. Por convocação do presidente Jair Bolsonaro, este será um dia voltado para os apoiadores do governo: uma oportunidade para levantar bandeiras como a do voto impresso, a da intervenção militar ou mesmo a do fechamento do Supremo Tribunal Federal. Será uma data para que a militância pró-Bolsonaro solte as suas feras, botando para fora todos seus anseios.

Apesar do desgaste visto nos últimos tempos junto ao empresariado e à classe média, o governo ainda arregimenta um forte apoio: algo entre 25 % e 35 % da população. Isso é equivalente a um número expressivo de brasileiros – ou seja, espera-se um número enorme de pessoas desfilando em favor de Bolsonaro.

As ruas, entretanto, não serão ocupadas apenas por hordas bolsonaristas. Por decisão da justiça, oposicionistas também poderão se manifestar amanhã, desde que não partam para o conflito deliberado com governistas. Alguém apostaria em uma convivência pacífica entre as principais vertentes políticas da atualidade? Algo tão difícil como colocar torcidas de futebol antagônicas em um só ônibus e achar que haverá uma convivência harmônica e feliz.

Por que é possível se esperar confrontos durante o dia de amanhã?

Principalmente porque há ressentimento dos dois lados do balcão.

No quadrante dos apoiadores do governo, há agressividade de sobra, como se pode ver na militância exercida nas redes sociais. Mas, ao mesmo tempo, há um ressentimento acumulado em 14 anos de Partido dos Trabalhadores – especialmente em relação às acusações de corrupção que rondam o PT na Lava-Jato. Curiosamente, há partidos do Centrão igualmente envolvidos nesse processo, como o PTB de Roberto Jefferson (mas, como se trata de uma sigla de apoio ao governo, os petebistas – especialmente Jefferson – foram poupados de críticas e a prisão do presidente de sigla foi algo lamentado e apupado).

Já do lado dos petistas, o rancor tem a ver com as denúncias de corrupção, a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva e o impeachment de Dilma Rousseff – tudo isso misturado com as palavras de ordem ditas e reprisadas pela claque bolsonaristas contra os petistas. Esse grupo acredita que Lula tenha sido inocentado de suas acusações (quando, na verdade, o processo foi anulado por questões técnicas e voltou à estaca zero) e quer gritar isso nas ruas a plenos pulmões.

Embora exista um contingente enorme que torça para existir conflito violento entre essas duas comunidades, há também quem (dos dois lados) trabalhe por um dia sem provocações ou violência. O clima, porém, é de incerteza e apreensão. O que nos últimos tempos foi um feriado morno e sem graça passou a ser uma data aguardada com receio por boa parte dos brasileiros.

Como diria Boris Casoy, esse é o tipo de situação em que tudo pode acontecer – inclusive nada. Mas a articulação dos governistas durante o dia de amanhã pode ser um prenúncio do que ocorrerá nas eleições de 2022, especialmente se Bolsonaro se mantiver em uma posição ruim nas pesquisas eleitorais e não tiver uma boa performance nas urnas do Primeiro Turno. Um desempenho ruim nas pesquisas pode provocar protestos nas ruas e um resultado igualmente insatisfatório na hora do pleito pode gerar coisa ainda pior.

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