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O que esperar do segundo turno na Argentina?

A segunda etapa das eleições terá um caráter exclusivamente plebiscitário, em um cenário econômico caótico

Sergio Massa e Javier Milei: segundo turno acontece no dia 19 de novembro (JUAN MABROMATA, Tomas CUESTA/AFP)

Publicado em 25 de outubro de 2023 às 15h18.

Uma surpresa para nós, brasileiros: o candidato governista Sergio Massa passou ao segundo turno das eleições presidenciais argentinas como o nome mais votado. Vai enfrentar o oposicionista Javier Milei, que se intitula anarcocapitalista. A segunda etapa das eleições terá um caráter exclusivamente plebiscitário, em um cenário econômico caótico. A inflação está descontrolada e o dólar, involuntariamente impulsionado pelas declarações de Milei, está nas alturas.

Há um aspecto que deve ser considerado para o segundo turno. Teremos seguramente uma guerra de rejeições. Massa, evidentemente, é repelido por conta de uma economia em frangalhos – e, no caso, não há como fugir do fato de que ele foi nomeado ministro da economia em 2022. Não se pode dizer que Massa seja totalmente culpado pela situação de penúria pela qual passa o país, mas ele é visto desta forma por uma parcela considerável dos eleitores (teve cerca de 36 % dos votos, contra 30 % de Milei e 23 % de Patrícia Bullrich, terceira colocada no pleito).

Na prática, temos a maioria dos eleitores contra o governo. Mas isso não quer dizer que a oposição vá ganhar de lavada. Afinal, ainda não temos a ideia do tamanho da rejeição da figura pessoal de Milei. Mas uma coisa é certa: a personalidade que oscila entre o comportamento folclórico e o polemismo provoca aversão em determinados setores da sociedade argentina.

No final das contas, quem será mais rejeitado? A resposta a essa pergunta é chave para sabermos o vencedor no segundo turno, marcado para 19 de novembro.

Muitos traçam paralelos entre Milei e Jair Bolsonaro. Mas as explicações para a ascensão do chamado anarcocapitalista são bem diferentes daquelas que podem ser aplicadas à eleição do ex-presidente brasileiro em 2018.

Em primeiro lugar, na Argentina de hoje não existe exatamente um clima eleitoral sacudido por grandes escândalos de corrupção, como ocorreu no Brasil com a Operação Lava-Jato, que moldou a cabeça do eleitorado cinco anos atrás. Outro ponto é que o cenário econômico argentino é lamentável e lembra aquilo que o Brasil viveu antes do Plano Real. Estes dois pontos fazem muita diferença quando avaliamos as intenções dos eleitores da Terra do Tango.

Mas é preciso, antes de mais nada, entender a mentalidade do povo argentino, que foi moldada por um período de bonança gigantesca no início do Século 20. Como se sabe, o cenário econômico mudou bastante a partir da Segunda Guerra Mundial e o Peronismo deu início a um lento processo de decadência econômica. A mentalidade do argentino médio, assim, flutua entre a soberba de ter sido o país com maior renda per capita do mundo em 1912 e a depressão de ter a moeda mais desvalorizada de 2023.

Ocorre que a Argentina, a partir de 2019, começou a viver um novo período de espiral inflacionária. E isso ocorreu porque os governos locais não conseguem resistir à pressão dos peronistas em inflar os gastos públicos e promover uma política monetária frouxa. A condução da economia, assim, acabou favorecendo o déficit público, o que turbina a inflação. Some-se a isso à falta de reservas cambiais e temos uma tempestade perfeita.

Muito se discute entre os ambientes empresariais brasileiros as propostas econômicas de Milei. Mas a realidade é a de que isso faz pouca diferença na corrida eleitoral argentina. Tome-se como exemplo a dolarização, um dos carros-chefes do ideário anarcocapitalista. São poucas as pessoas que têm condições de debater profundamente esse assunto (embora, hoje, existam mais opiniões contrárias à proposta do que gente a favor). Portanto, cerca de 30 % dos eleitores argentinos votaram em um candidato que representa a mudança. Mais que isso: uma mudança com ferramentas que nunca foram utilizadas antes. Essa mensagem, em um momento de dificuldade, tem um forte apelo. Assim, uma parte significativa do eleitorado resolveu apoiar “El Peluca”, como o candidato é conhecido em seu país, mesmo sem saber exatamente como a Argentina vai funcionar sem moeda nacional ou sem um Banco Central.

Outra pergunta também fica no ar: como nossos vizinhos vão ficar sem o Brasil como parceiro comercial? Milei já disse que deve sair do Mercosul e deixar de fazer negócios conosco por ter incompatibilidades ideológicas com Luiz Inácio Lula da Silva. Essa atitude, se tomada, pode ferir mais a economia argentina que a brasileira. Mas, nesse caso, é melhor esperar para ver. Candidatos costumam falar de tudo e desafiar todos para ser eleitos. Mas, uma vez empossados, podem ouvir a voz do pragmatismo. Vamos ver até onde isso é verdade com Milei.

Agora, a grande dúvida será em torno do que ocorrerá com os votos dados a Patricia Bullrich. Esses eleitores é que efetivamente vão decidir o pleito. Para qual lado eles irão? A rejeição a Milei fará esses insatisfeitos votar em Massa? Ou migrarão para um candidato que desperta mais desconfianças do que certezas?

Teremos respostas para essas perguntas daqui a pouco, no dia 19 de novembro.

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Há um aspecto que deve ser considerado para o segundo turno. Teremos seguramente uma guerra de rejeições. Massa, evidentemente, é repelido por conta de uma economia em frangalhos – e, no caso, não há como fugir do fato de que ele foi nomeado ministro da economia em 2022. Não se pode dizer que Massa seja totalmente culpado pela situação de penúria pela qual passa o país, mas ele é visto desta forma por uma parcela considerável dos eleitores (teve cerca de 36 % dos votos, contra 30 % de Milei e 23 % de Patrícia Bullrich, terceira colocada no pleito).

Na prática, temos a maioria dos eleitores contra o governo. Mas isso não quer dizer que a oposição vá ganhar de lavada. Afinal, ainda não temos a ideia do tamanho da rejeição da figura pessoal de Milei. Mas uma coisa é certa: a personalidade que oscila entre o comportamento folclórico e o polemismo provoca aversão em determinados setores da sociedade argentina.

No final das contas, quem será mais rejeitado? A resposta a essa pergunta é chave para sabermos o vencedor no segundo turno, marcado para 19 de novembro.

Muitos traçam paralelos entre Milei e Jair Bolsonaro. Mas as explicações para a ascensão do chamado anarcocapitalista são bem diferentes daquelas que podem ser aplicadas à eleição do ex-presidente brasileiro em 2018.

Em primeiro lugar, na Argentina de hoje não existe exatamente um clima eleitoral sacudido por grandes escândalos de corrupção, como ocorreu no Brasil com a Operação Lava-Jato, que moldou a cabeça do eleitorado cinco anos atrás. Outro ponto é que o cenário econômico argentino é lamentável e lembra aquilo que o Brasil viveu antes do Plano Real. Estes dois pontos fazem muita diferença quando avaliamos as intenções dos eleitores da Terra do Tango.

Mas é preciso, antes de mais nada, entender a mentalidade do povo argentino, que foi moldada por um período de bonança gigantesca no início do Século 20. Como se sabe, o cenário econômico mudou bastante a partir da Segunda Guerra Mundial e o Peronismo deu início a um lento processo de decadência econômica. A mentalidade do argentino médio, assim, flutua entre a soberba de ter sido o país com maior renda per capita do mundo em 1912 e a depressão de ter a moeda mais desvalorizada de 2023.

Ocorre que a Argentina, a partir de 2019, começou a viver um novo período de espiral inflacionária. E isso ocorreu porque os governos locais não conseguem resistir à pressão dos peronistas em inflar os gastos públicos e promover uma política monetária frouxa. A condução da economia, assim, acabou favorecendo o déficit público, o que turbina a inflação. Some-se a isso à falta de reservas cambiais e temos uma tempestade perfeita.

Muito se discute entre os ambientes empresariais brasileiros as propostas econômicas de Milei. Mas a realidade é a de que isso faz pouca diferença na corrida eleitoral argentina. Tome-se como exemplo a dolarização, um dos carros-chefes do ideário anarcocapitalista. São poucas as pessoas que têm condições de debater profundamente esse assunto (embora, hoje, existam mais opiniões contrárias à proposta do que gente a favor). Portanto, cerca de 30 % dos eleitores argentinos votaram em um candidato que representa a mudança. Mais que isso: uma mudança com ferramentas que nunca foram utilizadas antes. Essa mensagem, em um momento de dificuldade, tem um forte apelo. Assim, uma parte significativa do eleitorado resolveu apoiar “El Peluca”, como o candidato é conhecido em seu país, mesmo sem saber exatamente como a Argentina vai funcionar sem moeda nacional ou sem um Banco Central.

Outra pergunta também fica no ar: como nossos vizinhos vão ficar sem o Brasil como parceiro comercial? Milei já disse que deve sair do Mercosul e deixar de fazer negócios conosco por ter incompatibilidades ideológicas com Luiz Inácio Lula da Silva. Essa atitude, se tomada, pode ferir mais a economia argentina que a brasileira. Mas, nesse caso, é melhor esperar para ver. Candidatos costumam falar de tudo e desafiar todos para ser eleitos. Mas, uma vez empossados, podem ouvir a voz do pragmatismo. Vamos ver até onde isso é verdade com Milei.

Agora, a grande dúvida será em torno do que ocorrerá com os votos dados a Patricia Bullrich. Esses eleitores é que efetivamente vão decidir o pleito. Para qual lado eles irão? A rejeição a Milei fará esses insatisfeitos votar em Massa? Ou migrarão para um candidato que desperta mais desconfianças do que certezas?

Teremos respostas para essas perguntas daqui a pouco, no dia 19 de novembro.

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