O que acontecerá se as pesquisas forem criminalizadas?
Muitos analistas enxergam a iniciativa de Lira como uma bravata para intimidar esses institutos na reta final das campanhas
Da Redação
Publicado em 19 de outubro de 2022 às 10h51.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, conseguiu aprovar ontem a urgência para a discussão do projeto que criminaliza institutos de pesquisa que publicarem enquetes eleitorais com resultados diferentes da apuração dos votos. Apesar do empenho de Lira, muitos deputados são contrários a essa proposta, o que deixa sua aprovação em suspense.
Mas, vamos supor que ele consiga o que deseja. Em primeiro lugar, é uma interferência do Estado em ações da iniciativa privada. Em tese, trata-se de um assunto que não deveria sofrer regulação de autoridades, uma vez que muitas delas podem ser afetadas pelos resultados divulgados pelos institutos de pesquisas.
Muitos analistas enxergam a iniciativa de Lira como uma bravata para intimidar esses institutos na reta final das campanhas. Segundo esse raciocínio, com uma espada pendendo sobre suas cabeças, os diretores dos institutos poderiam ter boa vontade para agradar os governistas ou prefeririam não publicar seus resultados. Contudo, a chance de ver um grande instituto mexendo deliberadamente em seus percentuais para ajudar qualquer candidato parece, nos dias de hoje, quase impossível.
Se essa lei for aprovada, a chance de implodir esse mercado é alta. Com a possibilidade de parar na cadeia, os executivos deste mercado vão simplesmente desistir de divulgar seus resultados, deixando-os apenas para consumo particular.
Esse desmanche vai diminuir o número de institutos, hoje estimados em quatro dezenas – e essa transformação deve afetar setores da economia que precisam de pesquisas para trabalhar, como as áreas de marketing e de vendas das empresas.
Essa polêmica pode ficar ainda mais forte com três perguntas: somente as pesquisas que erraram para baixo os resultados de Jair Bolsonaro é que serão criminalizadas? E aquelas que colocavam o presidente na frente da apuração no primeiro turno? Essas também vão ser processadas?
De qualquer forma, não é somente no Brasil que existe um questionamento sobre os fiascos dos institutos de pesquisa. Uma reportagem do New York Times, de 12 de setembro, levanta justamente esse tema – só que nos Estados Unidos. Três exemplos citados pelo jornal chamam atenção. O primeiro diz respeito às previsões do estado da Carolina do Norte. Joe Biden aparecia com uma pequena liderança; mas quem venceu por lá foi Donald Trump. As enquetes também mostraram uma vantagem confortável para os democratas em Wisconsin, mas eles ganharam por apenas um ponto percentual. Por fim, em Ohio, os estudos mostraram uma disputa parelha. O que aconteceu? Trump venceu facilmente. A explicação dos especialistas: eleitores republicanos tendem a não responder enquetes. Dessa forma, é naturalque, nas eleições americanas, o eleitorado vermelho será provavelmente subestimado pelas pesquisas.
Será que o mesmo ocorre com os partidários de Jair Bolsonaro no Brasil?
O presidente da Câmara, Arthur Lira, conseguiu aprovar ontem a urgência para a discussão do projeto que criminaliza institutos de pesquisa que publicarem enquetes eleitorais com resultados diferentes da apuração dos votos. Apesar do empenho de Lira, muitos deputados são contrários a essa proposta, o que deixa sua aprovação em suspense.
Mas, vamos supor que ele consiga o que deseja. Em primeiro lugar, é uma interferência do Estado em ações da iniciativa privada. Em tese, trata-se de um assunto que não deveria sofrer regulação de autoridades, uma vez que muitas delas podem ser afetadas pelos resultados divulgados pelos institutos de pesquisas.
Muitos analistas enxergam a iniciativa de Lira como uma bravata para intimidar esses institutos na reta final das campanhas. Segundo esse raciocínio, com uma espada pendendo sobre suas cabeças, os diretores dos institutos poderiam ter boa vontade para agradar os governistas ou prefeririam não publicar seus resultados. Contudo, a chance de ver um grande instituto mexendo deliberadamente em seus percentuais para ajudar qualquer candidato parece, nos dias de hoje, quase impossível.
Se essa lei for aprovada, a chance de implodir esse mercado é alta. Com a possibilidade de parar na cadeia, os executivos deste mercado vão simplesmente desistir de divulgar seus resultados, deixando-os apenas para consumo particular.
Esse desmanche vai diminuir o número de institutos, hoje estimados em quatro dezenas – e essa transformação deve afetar setores da economia que precisam de pesquisas para trabalhar, como as áreas de marketing e de vendas das empresas.
Essa polêmica pode ficar ainda mais forte com três perguntas: somente as pesquisas que erraram para baixo os resultados de Jair Bolsonaro é que serão criminalizadas? E aquelas que colocavam o presidente na frente da apuração no primeiro turno? Essas também vão ser processadas?
De qualquer forma, não é somente no Brasil que existe um questionamento sobre os fiascos dos institutos de pesquisa. Uma reportagem do New York Times, de 12 de setembro, levanta justamente esse tema – só que nos Estados Unidos. Três exemplos citados pelo jornal chamam atenção. O primeiro diz respeito às previsões do estado da Carolina do Norte. Joe Biden aparecia com uma pequena liderança; mas quem venceu por lá foi Donald Trump. As enquetes também mostraram uma vantagem confortável para os democratas em Wisconsin, mas eles ganharam por apenas um ponto percentual. Por fim, em Ohio, os estudos mostraram uma disputa parelha. O que aconteceu? Trump venceu facilmente. A explicação dos especialistas: eleitores republicanos tendem a não responder enquetes. Dessa forma, é naturalque, nas eleições americanas, o eleitorado vermelho será provavelmente subestimado pelas pesquisas.
Será que o mesmo ocorre com os partidários de Jair Bolsonaro no Brasil?