O PT perderá sua base eleitoral com a nova fase de Bolsonaro?
Ao analisar o avanço de Bolsonaro nos currais eleitorais do PT, percebe-se que boa parte da força eleitoral estava baseada em iniciativas assistencialistas
felipegiacomelli
Publicado em 17 de agosto de 2020 às 08h21.
Última atualização em 17 de agosto de 2020 às 16h08.
Uma pesquisa do Datafolha, na semana passada, mostrou que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro ganhou novo impulso. Captou-se, inclusive, um crescimento da aprovação presidencial na camada mais pobre da população: entre aqueles que ganham até dois salários mínimos, 35 % avaliam o governo como ótimo e bom, contra um índice de 29 % cravado na enquete anterior. Analistas políticos explicam a melhora através de dois fatores. O primeiro é a fase atual do mandatário, que deixou o estilo agressivo de lado. A outra razão seria o programa de assistência social para combater a penúria econômica provocada pelo coronavírus na população mais carente, acompanhado do upgrade do Bolsa Família . O plano do governo seria o de perenizar o auxílio vigente durante a pandemia, fundi-lo com o Bolsa Família e criar o projeto Renda Brasil.
Com isso, o alerta vermelho acabou soando no Partido dos Trabalhadores. Uma de suas principais bandeiras, o assistencialismo, não só tinha sido usurpada por um governo que se dizia liberal como essa mesma administração se propunha a iniciar uma fase 2.0 no programa original, trocando-o de nome e tirando de cena a marca que ficou ligada ao PT – Bolsa Família.
Como se sabe, o Bolsa Família tem grande penetração nos estados nordestinos, onde reina a miséria nos rincões, e foi um importante propulsor de votos petistas. Nas últimas eleições, por exemplo, Fernando Haddad obteve 70 % dos votos válidos da região. A consequência natural seria uma grande rejeição por parte do eleitorado do Nordeste a Bolsonaro. Isso ocorreu do início do mandato até junho, quando o índice de rejeição ao presidente na região chegou a 52 %. Na última pesquisa, no entanto, constatou-se que apenas 35 % dos eleitores nordestinos rejeitavam Bolsonaro.
Para reagir ao avanço bolsonarista em cima de seu eleitorado, o PT elabora o “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”. Como ainda faltam mais de dois anos para a eleição presidencial, o documento deve trazer o blábláblá de sempre, exaltando o que os governos petistas fizeram no passado.
Lula é um político carismático – ninguém discute isso. Mas, ao se analisar os avanços de Bolsonaro nos currais eleitorais do PT, percebe-se que boa parte da força eleitoral ex-presidente, no fundo, estava baseada pura e simplesmente em suas iniciativas assistencialistas. Se outro governo abraça essa causa e até a melhora, como o décimo-terceiro salário no Bolsa Família, a fidelidade eleitoral se esvai rapidamente.
Essa reviravolta na cena política nos leva a uma reflexão. Qual é o verdadeiro tamanho da esquerda brasileira? Até recentemente, utilizávamos o resultado do pleito de 2018 (55% para Bolsonaro e 45% para Haddad) para mostrar que havia uma polarização política no país. Hoje, porém, quando nos debruçamos sobre os números do Datafolha, vem a pergunta: desses 45 % que votaram em Haddad, quantos o fizeram para preservar o Bolsa Família?
Talvez o Datafolha tivesse de fazer uma pesquisa exclusiva para descobrir isso, mas o fato é que as eleições no Brasil são decididas por aqueles que mudam de posição a cada pleito. Entre os eleitores de Bolsonaro em 2018, há muita gente que sufragou Dilma e Lula.
Em relação ao ex-presidente, é importante ressaltar que suas duas vitórias foram em cima de candidatos muito ruins. Tanto José Serra como Geraldo Alckmin não conseguiram sensibilizar o eleitorado e passar uma mensagem que fosse menos paulista e mais nacional. Alckmin, inclusive, obteve a proeza de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro – o único caso registrado na recente história política.
A reviravolta de Bolsonaro chama – e muito – a atenção. Se estivesse nos Estados Unidos, seria como se Donald Trump tivesse parado de falar em reduzir impostos despois de 18 meses e adotado um programa de governo tipicamente democrata. Ou seja, mantidos os conceitos pró-capitalismo, mas deixando de lado e liberalismo e atacando na seara social. Se o governo, extraoficialmente, questiona por que deve obedecer ao teto de gastos públicos e está destinando cada vez mais recursos para o assistencialismo, é uma demonstração clara de que passa a ser uma administração de direita com pouco interesse em refrear o déficit público.
Diante de disso, uma dúvida vem à mente:
Paulo Guedes, aparentemente um liberal convertido em keynesiano, seria o melhor ministro da Economia para Bolsonaro? Talvez não. Sua saída seria sentida pelo empresariado e pelo mercado financeiro, mas não significaria mais o fim do mundo. Especialmente se o substituto fosse um nome com trânsito político e bom senso. O problema de Bolsonaro é encontrar um nome de peso que aceite o convite. A interinidade estendida do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mostra o quanto vem sendo difícil encontrar um medalhão que aceite fazer parte da equipe. Com a extensão da fase “paz e amor” de Bolsonaro, essas resistências podem ser quebradas. Mas, por enquanto, ainda há ceticismo no ar – que se dissipa lentamente, é verdade.
Mas cuja persistência ainda é um fator de preocupação.
Uma pesquisa do Datafolha, na semana passada, mostrou que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro ganhou novo impulso. Captou-se, inclusive, um crescimento da aprovação presidencial na camada mais pobre da população: entre aqueles que ganham até dois salários mínimos, 35 % avaliam o governo como ótimo e bom, contra um índice de 29 % cravado na enquete anterior. Analistas políticos explicam a melhora através de dois fatores. O primeiro é a fase atual do mandatário, que deixou o estilo agressivo de lado. A outra razão seria o programa de assistência social para combater a penúria econômica provocada pelo coronavírus na população mais carente, acompanhado do upgrade do Bolsa Família . O plano do governo seria o de perenizar o auxílio vigente durante a pandemia, fundi-lo com o Bolsa Família e criar o projeto Renda Brasil.
Com isso, o alerta vermelho acabou soando no Partido dos Trabalhadores. Uma de suas principais bandeiras, o assistencialismo, não só tinha sido usurpada por um governo que se dizia liberal como essa mesma administração se propunha a iniciar uma fase 2.0 no programa original, trocando-o de nome e tirando de cena a marca que ficou ligada ao PT – Bolsa Família.
Como se sabe, o Bolsa Família tem grande penetração nos estados nordestinos, onde reina a miséria nos rincões, e foi um importante propulsor de votos petistas. Nas últimas eleições, por exemplo, Fernando Haddad obteve 70 % dos votos válidos da região. A consequência natural seria uma grande rejeição por parte do eleitorado do Nordeste a Bolsonaro. Isso ocorreu do início do mandato até junho, quando o índice de rejeição ao presidente na região chegou a 52 %. Na última pesquisa, no entanto, constatou-se que apenas 35 % dos eleitores nordestinos rejeitavam Bolsonaro.
Para reagir ao avanço bolsonarista em cima de seu eleitorado, o PT elabora o “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”. Como ainda faltam mais de dois anos para a eleição presidencial, o documento deve trazer o blábláblá de sempre, exaltando o que os governos petistas fizeram no passado.
Lula é um político carismático – ninguém discute isso. Mas, ao se analisar os avanços de Bolsonaro nos currais eleitorais do PT, percebe-se que boa parte da força eleitoral ex-presidente, no fundo, estava baseada pura e simplesmente em suas iniciativas assistencialistas. Se outro governo abraça essa causa e até a melhora, como o décimo-terceiro salário no Bolsa Família, a fidelidade eleitoral se esvai rapidamente.
Essa reviravolta na cena política nos leva a uma reflexão. Qual é o verdadeiro tamanho da esquerda brasileira? Até recentemente, utilizávamos o resultado do pleito de 2018 (55% para Bolsonaro e 45% para Haddad) para mostrar que havia uma polarização política no país. Hoje, porém, quando nos debruçamos sobre os números do Datafolha, vem a pergunta: desses 45 % que votaram em Haddad, quantos o fizeram para preservar o Bolsa Família?
Talvez o Datafolha tivesse de fazer uma pesquisa exclusiva para descobrir isso, mas o fato é que as eleições no Brasil são decididas por aqueles que mudam de posição a cada pleito. Entre os eleitores de Bolsonaro em 2018, há muita gente que sufragou Dilma e Lula.
Em relação ao ex-presidente, é importante ressaltar que suas duas vitórias foram em cima de candidatos muito ruins. Tanto José Serra como Geraldo Alckmin não conseguiram sensibilizar o eleitorado e passar uma mensagem que fosse menos paulista e mais nacional. Alckmin, inclusive, obteve a proeza de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro – o único caso registrado na recente história política.
A reviravolta de Bolsonaro chama – e muito – a atenção. Se estivesse nos Estados Unidos, seria como se Donald Trump tivesse parado de falar em reduzir impostos despois de 18 meses e adotado um programa de governo tipicamente democrata. Ou seja, mantidos os conceitos pró-capitalismo, mas deixando de lado e liberalismo e atacando na seara social. Se o governo, extraoficialmente, questiona por que deve obedecer ao teto de gastos públicos e está destinando cada vez mais recursos para o assistencialismo, é uma demonstração clara de que passa a ser uma administração de direita com pouco interesse em refrear o déficit público.
Diante de disso, uma dúvida vem à mente:
Paulo Guedes, aparentemente um liberal convertido em keynesiano, seria o melhor ministro da Economia para Bolsonaro? Talvez não. Sua saída seria sentida pelo empresariado e pelo mercado financeiro, mas não significaria mais o fim do mundo. Especialmente se o substituto fosse um nome com trânsito político e bom senso. O problema de Bolsonaro é encontrar um nome de peso que aceite o convite. A interinidade estendida do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mostra o quanto vem sendo difícil encontrar um medalhão que aceite fazer parte da equipe. Com a extensão da fase “paz e amor” de Bolsonaro, essas resistências podem ser quebradas. Mas, por enquanto, ainda há ceticismo no ar – que se dissipa lentamente, é verdade.
Mas cuja persistência ainda é um fator de preocupação.