O novo governo visto por quem conhece o PT de perto
Para Aldo Rebelo, o Planalto nada fará – pelo menos nessa fase inicial – para promover a união do país e botar água fria na polarização política
Publicado em 6 de janeiro de 2023 às, 14h38.
Aluizio Falcão Filho
O ex-ministro Aldo Rebelo é uma figura política que merece ser analisada com atenção. Filho de vaqueiro, cresceu na fazenda de Teotônio Vilela, em Alagoas, quando o então senador era da Arena e, portanto, ligado ao governo militar (mais tarde, Vilela deixaria a base política que apoiava a ditatura e se transformaria em um dos símbolos da campanha pela volta das eleições diretas no país). Rebelo virou militante de organizações clandestinas e foi eleito presidente da UNE. Já filiado ao PC do B, foi vereador e deputado federal. Quando o PT chegou ao poder, foi ministro e presidente da Câmara Federal. Entre as quatro pastas que ocupou está a da Defesa. Apesar do passado comunista, fez muitas amizades no meio militar e até hoje é elogiado por oficiais de todas as armas.
Por ter sido ministro de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, Rebelo é um observador que precisa ser levado a sério quando fala sobre o PT e seus líderes. Nesta semana, começou a circular uma entrevista que o ex-deputado deu à Rádio Bandeirantes, antes da posse de Lula, na qual fazia alguns prognósticos sobre o atual governo.
Um deles: “Não vejo, no novo governo, uma atitude de pacificação”.
Para ele, o Planalto nada fará – pelo menos nessa fase inicial – para promover a união do país e botar água fria na polarização política. “Parece, em algumas circunstâncias, que as eleições continuam, que vivemos ainda o período eleitoral, o período de disputa. O país dá sinais de que a construção da paz e da unidade não é prioridade do futuro governo. Eu não sou otimista em relação aos primeiros sinais”, afirmou. O ex-ministro acredita que “o Brasil precisa de paz e de união” e “sem isso é impossível retomar o caminho do crescimento, o caminho da justiça social e da democracia”.
Petistas passaram quatro anos sendo achincalhados de tudo o que é jeito. Lula foi preso pela Operação Lava-Jato e é chamado de ladrão até hoje. Outros dirigentes do partido também foram acusados, processados e, em alguns casos, encarcerados. Portanto, era de se esperar que o PT, ao retornar ao poder, não estendesse a mão aos inimigos de antes.
Mas ao adotar uma postura de confronto, os petistas repetem o comportamento dos bolsonaristas enquanto estiveram encastelados no Palácio do Planalto, só que com o sinal trocado. Vamos retroceder no tempo e pensar nos últimos quatro anos. A atitude beligerante de Jair Bolsonaro calou os oposicionistas? Não. Muito pelo contrário.
Portanto, é de se esperar que a octanagem dos atuais conflitos aumente ainda mais. As redes sociais refletem isso. Há, por exemplo, chamados para caravanas em direção a Brasília para protestos neste final de semana, além de convocações para uma paralisação geral. Influenciadores ligados ao bolsonarismo mandam mensagens dizendo que “todo dia é dia 7 de setembro” e insuflam um confronto que pode acabar mal.
Diante disso, é um movimento inteligente chamar aqueles que perderam a eleição para a briga? De um lado, as forças em torno do PT podem desopilar o fígado. Mas, por outro, estimulam a união permanente de um grupo opositor que parece ser mais resiliente do que se mostrava no período pós-eleitoral.
O Brasil, no entanto, precisa estar acima das rivlidades políticas. Se o PT radicalizar e o novo governo ficar cada vez mais parecido com uma espécie de Dilma 3, dificilmente teremos a pacificação necessária para se chegar ao crescimento sustentável. Se quisermos atingir a estabilidade política, alguém precisa ceder. Para Aldo Rebelo, este alguém é quem detém o poder. Mas isso vai ocorrer? Nem ele, que conhece profundamente as entranhas dos governos petistas, arrisca um palpite. “Eu pergunto: será que o presidente Lula e o seu partido, num terceiro mandato, estariam dispostos a promover a paz entre os brasileiros, pacificar o país, reduzir o nível de conflitos?”, questiona. “Será que o novo governo está disposto a promover o movimento necessário para que isso aconteça?”.
Neste exato momento, a resposta é não. Mas a política é uma atividade fluida e mutante. Vamos torcer para que essa onda de confronto não dure muito.