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O governo e a gestão de crises

Havia a expectativa sobre o que Bolsonaro diria ontem na saída do Palácio do Alvorada. Rompendo a tradição, passou reto pelo cercadinho. Fez a coisa certa

Bolsonaro: do ponto de vista de gestão de crise, ontem ele fez a coisa certa (Adriano Machado/Reuters)
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felipegiacomelli

Publicado em 19 de junho de 2020 às 08h03.

A gestão de uma crise de comunicação é algo que requer boa dose de sangue frio. Trata-se de um momento complicado: aqueles que são o alvo da adversidade sempre estão de cabeça quente e costumam reagir ao problema de forma emocional. E é dessa forma que os problemas ganham mais musculatura e acabam multiplicando o estrago na imagem de quem está no olho do furacão.

Se um dos personagens principais tiver o pavio curto, a chance de ver a instabilidade aumentar é gigantesca. Vejamos o caso do governo. O presidente Jair Bolsonaro é impulsivo e impaciente. Seu repertório é cheio de respostas ácidas e cutucadas típicas de quem não pensa duas vezes antes de falar. O que esperar dele quando há uma crise como a gerada pela prisão de Fabrício Queiroz , ex-assessor de seu filho na Assembleia Estadual do Rio de Janeiro?

Muitos esperaram um desastre. Mas, surpreendentemente, a reação foi longe de ser catastrófica, dado o potencial explosivo do caso.

O problema está no colo do presidente, mas ele não é o fator gerador da situação – e sim seu filho, o hoje senador Flávio Bolsonaro. E essa não é exatamente uma questão novíssima: a denúncia de que houve um suposto esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio, operado por Queiroz, data de janeiro do ano passado.

Mesmo assim, o presidente já tinha demonstrado irritação no passado ao se referir sobre o assunto. Por isso, havia expectativa sobre o que poderia ser dito na saída do Palácio do Alvorada, tanto para a imprensa como para o grupo de apoiadores que lá se reúne diariamente. Bolsonaro, rompendo a tradição, passou reto pelo cercadinho e seguiu diretamente ao Palácio do Planalto. Do ponto de vista da gestão de crise, fez a coisa certa. Não falou em público nos primeiros momentos em que surgiu a confusão e esperou as coisas de acomodarem.

Ao longo do dia, fez uma única aparição pública, ao lado do demissionário Abraham Weintraub , que anunciava a seus seguidores no Twitter que deixava o Ministério de Educação para assumir uma diretoria no Banco Mundial. Contido, com olhos postados num horizonte que via da janela de seu gabinete, Bolsonaro falou pouco no vídeo do agora ex-ministro com um tom de voz sereno e controlado. Percebia-se uma modulação de voz e expressões faciais que indicavam estresse. Mas, de novo, portou-se comportadamente ao lidar com uma situação potencialmente desastrosa. Ao cair da tarde, voltou em silêncio para o Alvorada. Muitos analistas creditaram aos generais a atitude equilibrada do mandatário durante o expediente comercial – uma novidade para quem está acostumado a presenciar seus rompantes de impaciência.

Mas Bolsonaro é Bolsonaro. E não poderia deixar o dia terminar sem falar sobre o assunto. Para isso, utilizou seu meio de comunicação favorito – a “live”. Em menos de cinco minutos, disse que “não era advogado de Queiroz” e deu rapidamente o seu recado. Bolsonaro manteve a linha durante todo o tempo, mas fez uma pausa de cerca de seis segundos para encontrar uma informação – algo que pode passar incerteza ou insegurança aos espectadores. Pelo conjunto da obra nesta transmissão, levaria uma nota seis pelo empenho, pois o evidente esforço para controlar as emoções fez o presidente soar um pouco artificial. Para aqueles que zelam pela imagem do presidente, no entanto, foi uma performance digna de Oscar.

Esperava-se que a saída de Weintraub trouxesse alguma trégua na queda de braço que o Executivo trava com o Judiciário. Mas os últimos acontecimentos atropelaram a expectativa e mantiveram a tensão no ar. Curiosamente, o mercado acionário não se preocupou com a confusão e a bolsa de valores fechou o pregão com uma alta de 0,6%. O dólar, no entanto, refletiu a insegurança que pairou sobre o cenário político e fechou em R$ 5,37, numa alta de 2,1%.

Há casos e casos em uma gestão de crise. Muitos dos que passam por esta barafunda têm culpa no cartório; outros são arrastados para um conflito por força das circunstâncias e não têm exatamente responsabilidade sobre suas causas. Esses dois grupos, no entanto, têm algo em comum: sua primeira reação é querer falar, falar e falar, dando declarações minuciosas. Por isso mesmo é que o comedimento mostrado por Bolsonaro durante o dia de ontem é algo surpreendente. Hoje, tudo pode até mudar. Mas a moderação presidencial, tão rara, poderia se tornar uma característica mais frequente. Com isso, talvez os empresários pudessem experimentar uma sensação há muito perdida – a de estabilidade política, algo essencial para ter uma atitude positiva quando se pensa sobre o futuro.

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A gestão de uma crise de comunicação é algo que requer boa dose de sangue frio. Trata-se de um momento complicado: aqueles que são o alvo da adversidade sempre estão de cabeça quente e costumam reagir ao problema de forma emocional. E é dessa forma que os problemas ganham mais musculatura e acabam multiplicando o estrago na imagem de quem está no olho do furacão.

Se um dos personagens principais tiver o pavio curto, a chance de ver a instabilidade aumentar é gigantesca. Vejamos o caso do governo. O presidente Jair Bolsonaro é impulsivo e impaciente. Seu repertório é cheio de respostas ácidas e cutucadas típicas de quem não pensa duas vezes antes de falar. O que esperar dele quando há uma crise como a gerada pela prisão de Fabrício Queiroz , ex-assessor de seu filho na Assembleia Estadual do Rio de Janeiro?

Muitos esperaram um desastre. Mas, surpreendentemente, a reação foi longe de ser catastrófica, dado o potencial explosivo do caso.

O problema está no colo do presidente, mas ele não é o fator gerador da situação – e sim seu filho, o hoje senador Flávio Bolsonaro. E essa não é exatamente uma questão novíssima: a denúncia de que houve um suposto esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio, operado por Queiroz, data de janeiro do ano passado.

Mesmo assim, o presidente já tinha demonstrado irritação no passado ao se referir sobre o assunto. Por isso, havia expectativa sobre o que poderia ser dito na saída do Palácio do Alvorada, tanto para a imprensa como para o grupo de apoiadores que lá se reúne diariamente. Bolsonaro, rompendo a tradição, passou reto pelo cercadinho e seguiu diretamente ao Palácio do Planalto. Do ponto de vista da gestão de crise, fez a coisa certa. Não falou em público nos primeiros momentos em que surgiu a confusão e esperou as coisas de acomodarem.

Ao longo do dia, fez uma única aparição pública, ao lado do demissionário Abraham Weintraub , que anunciava a seus seguidores no Twitter que deixava o Ministério de Educação para assumir uma diretoria no Banco Mundial. Contido, com olhos postados num horizonte que via da janela de seu gabinete, Bolsonaro falou pouco no vídeo do agora ex-ministro com um tom de voz sereno e controlado. Percebia-se uma modulação de voz e expressões faciais que indicavam estresse. Mas, de novo, portou-se comportadamente ao lidar com uma situação potencialmente desastrosa. Ao cair da tarde, voltou em silêncio para o Alvorada. Muitos analistas creditaram aos generais a atitude equilibrada do mandatário durante o expediente comercial – uma novidade para quem está acostumado a presenciar seus rompantes de impaciência.

Mas Bolsonaro é Bolsonaro. E não poderia deixar o dia terminar sem falar sobre o assunto. Para isso, utilizou seu meio de comunicação favorito – a “live”. Em menos de cinco minutos, disse que “não era advogado de Queiroz” e deu rapidamente o seu recado. Bolsonaro manteve a linha durante todo o tempo, mas fez uma pausa de cerca de seis segundos para encontrar uma informação – algo que pode passar incerteza ou insegurança aos espectadores. Pelo conjunto da obra nesta transmissão, levaria uma nota seis pelo empenho, pois o evidente esforço para controlar as emoções fez o presidente soar um pouco artificial. Para aqueles que zelam pela imagem do presidente, no entanto, foi uma performance digna de Oscar.

Esperava-se que a saída de Weintraub trouxesse alguma trégua na queda de braço que o Executivo trava com o Judiciário. Mas os últimos acontecimentos atropelaram a expectativa e mantiveram a tensão no ar. Curiosamente, o mercado acionário não se preocupou com a confusão e a bolsa de valores fechou o pregão com uma alta de 0,6%. O dólar, no entanto, refletiu a insegurança que pairou sobre o cenário político e fechou em R$ 5,37, numa alta de 2,1%.

Há casos e casos em uma gestão de crise. Muitos dos que passam por esta barafunda têm culpa no cartório; outros são arrastados para um conflito por força das circunstâncias e não têm exatamente responsabilidade sobre suas causas. Esses dois grupos, no entanto, têm algo em comum: sua primeira reação é querer falar, falar e falar, dando declarações minuciosas. Por isso mesmo é que o comedimento mostrado por Bolsonaro durante o dia de ontem é algo surpreendente. Hoje, tudo pode até mudar. Mas a moderação presidencial, tão rara, poderia se tornar uma característica mais frequente. Com isso, talvez os empresários pudessem experimentar uma sensação há muito perdida – a de estabilidade política, algo essencial para ter uma atitude positiva quando se pensa sobre o futuro.

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