O futuro, flutuando entre o pessimismo e o otimismo
É interessante como o medo do futuro é privilégio dos adultos. Crianças e adolescentes não sabem o que é isso
Publicado em 30 de novembro de 2022 às, 12h58.
Aluizio Falcão Filho
Ontem, MONEY REPORT realizou a sétima edição do evento “Galeria de Notáveis”, que homenageia pessoas que mais se destacaram no ano. Mas, como 2022 foi marcado por uma mudança de governo, resolvemos discutir um pouco o futuro durante a cerimônia. Enquanto discutíamos essa possibilidade, minha filha surgiu na sala e perguntou se ela poderia ajudar no evento deste ano de uma forma diferente (desde pequena, ela é uma espécie de assistente de palco).
Para nossa surpresa, ela disse que gostaria de falar algo ao público presente. E, nesse momento, as ideias se complementaram. Ela queria falar alguma coisa e gostaríamos de discutir os horizontes da nação. Juntamos a fome com a vontade de comer e ela ganhou a responsabilidade de falar sobre o amanhã.
Bem no comecinho, ela subiu ao palco e deu o seu recado. Um trecho deste curto speech foi o seguinte: “Nós queremos um mundo próspero e justo. Com tolerância e equilíbrio. Em paz e sem violência. Mas nós não podemos construir esse futuro sozinhos. Nós precisamos de vocês. Dos empresários, dos políticos, dos professores, dos pais e das mães. Nós precisamos dos adultos. E precisamos que esses adultos sejam equilibrados e que lutem, como nós vamos lutar, pela prosperidade”.
É interessante como o medo do futuro é privilégio dos adultos. Crianças e adolescentes não sabem o que é isso. O que está no horizonte é algo normal para eles. O desconhecimento sobre o que vai acontecer faz parte do jogo. Conforme nós crescemos, porém, começamos a nos preocupar com o amanhã.
Essa preocupação pode gerar pessimismo ou otimismo, dependendo da personalidade de cada um.
Normalmente, os empreendedores são otimistas por natureza. Afinal, quem tem impostos e salários para pagar precisa acreditar que a semana que vem será melhor que a anterior. Mas, ultimamente, vemos empresários e empreendedores esperando o pior dos próximos quatro anos. De fato, temos perspectivas complicadas: o Estado deve inchar; com o inchaço das despesas públicas, o empresariado será chamado a pagar a conta através de novos tributos; além disso, é de se esperar que o governo vá interferir mais na economia.
Bem, essas possibilidades ainda não se concretizaram. Mas, mesmo que se concretizem, os empresários já viveram dificuldades antes. Vamos recordar: o congelamento de preços durante o Plano Cruzado, o confisco da poupança com o Plano Collor e o desrespeito ao tripé macroeconômico durante o governo de Dilma Rousseff.
Esperemos que a nova administração não enverede por feitiçarias econômicas heterodoxas ou seja leniente com processos de corrupção. E vamos torcer para que o empreendedorismo seja estimulado por regras fiscais simples e fáceis de se compreender.
Há um outro ponto, no entanto, que precisa de nossa atenção.
O crescimento econômico, nos últimos tempos, tem sido desigual. Há setores bombando e outros pedindo água. Há muito dinheiro circulando, de um lado, e uma população crescente morando nas ruas de outro. Não podemos assistir impávidos a miséria crescer nas grandes cidades. É necessário colaborar para uma solução que pelo menos mitigue essa situação.
Quando MONEY REPORT entrevistou Tarcísio Freitas, até então candidato ao governo de São Paulo, esse tema foi abordado. Tarcísio enumerou uma série de providências que iria tomar, entre as quais as chamadas vilas de passagem, com moradias provisórias que abrigariam os moradores de rua até que suas casas definitivas estivessem prontas. Mas isso de nada adiantaria, ponderava o governador eleito, se não fosse criada uma política de desenvolvimento social, para que essa população tenha como se sustentar.
Este é um ponto importante. Cidadania e dignidade não se obtêm apenas com uma moradia. É preciso também dar condições para que essa pessoa possa sustentar sua família. Enquanto tivermos 9,7 milhões de desempregados e milhares de moradores de rua, teremos falhado como uma nação que, até pouco tempo atrás, era conhecido mundialmente como o “país do futuro”. Se não criarmos condições para retirar milhões de brasileiros da miséria e da fome, seremos vistos como aquele país promissor que não deu certo – e vive agora recordando as esperanças que ficaram no passado.