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O fim do uso das máscaras e o início das patrulhas contra e a favor

O governador João Doria liberou a população de usar proteção facial nos ambientes externos e estuda fazer o mesmo em locais fechados

Máscara (Ricardo Wolffenbuttel/Governo de SC/Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de março de 2022 às 09h50.

Aluizio Falcão Filho

Desde que teve início a pandemia, viu-se no Brasil um fenômeno peculiar – o negacionismo mutante. Em primeiro lugar, houve quem dissesse que a Covid era uma invenção. Depois, essas mesmas pessoas reconheceram a existência de um vírus (produzido sinteticamente m laboratórios, segundo alguns), mas negaram que a doença fosse grave. Mais à frente, acusou-se diversas autoridades de manipular números (e os óbitos seriam bem menores que os divulgados). E, por fim, vieram os críticos das vacinas. Uns afirmavam que os imunizantes eram inócuos (ou potencializavam o contágio); outros eram taxativos em dizer que as vacinas trariam efeitos colaterais que poderiam até matar.

Agora, caminhamos para uma fase na qual as máscaras faciais (também alvo de julgamentos negativos) devem ser liberadas nacionalmente em ambientes abertos – Rio e São Paulo já avançaram neste quesito. É lógico acreditar que, no futuro breve, com o crescimento dos índices de vacinação e de imunização, essa alforria também ocorra em locais fechados.

Desgaste psicológico

Uma quantidade enorme de pessoas recebeu essa notícia com alegria e alívio. Quase ninguém aguenta mais usar as máscaras, que dificultam a respiração e, em dias de calor, são extremamente desconfortáveis (em muitas ruas e avenidas de São Paulo, por sinal, já se viam, nos últimos tempos, vários pedestres sem proteção). As crianças, que são orientadas a fazer ginástica com máscaras, por exemplo, estão exultantes com a possibilidade de respirar livremente durante exercícios físicos.

Ocorre que há gente que, insegura, vai continuar a usar máscaras. E aqui teremos uma batalha de patrulhas.

De um lado, haverá quem sentirá necessidade de se proteger e vai continuar a usar proteção (como era comum ver no Oriente, mesmo antes da pandemia). De outro, teremos quem deixará de colocar a máscara e ficará provocando quem ainda a utiliza. E aqui teremos o conflito, que pode descambar para discussões públicas e barracos.

Trata-se, no fundo, de uma discussão inócua.

Em primeiro lugar, já passamos boa parte de nosso tempo sem a máscara. É muito comum ver, nos escritórios, funcionários com o rosto descoberto. E o que dizer dos restaurantes? A máscara é retirada assim que um cliente se senta à mesa (mas alguns estabelecimentos exigem que a máscara seja recolocada caso alguém queira ir ao banheiro). De qualquer forma, o que se vê é uma massa de pessoas sem proteção facial conversando e confraternizando. Um ambiente propício para a contaminação? Possivelmente. Mas os clientes não estão mais preocupados com isso.

A sociedade já relativiza a gravidade da pandemia desde o advento das vacinas. E, agora, está impaciente. Percebe-se claramente que a maioria deseja a volta à normalidade. Apenas uma minoria continua cautelosa. Um sinal disso pôde ser visto no feriado de Carnaval em Orlando. Nos parques temáticos, não havia máscara no rosto da esmagadora maioria. E aquelas filas intermináveis para ir aos brinquedos da moda continuavam aglomerando gente – sem nenhuma proteção. Se esse comportamento é certo ou errado, saberemos em breve, pois o vírus é implacável e sua capacidade de contaminação reage a cada descuido nosso.

Frieza dos números

As autoridades sanitárias afirmam que o pandemia continua produzindo um número considerável de vítimas, um pouco abaixo da casa de 600 diárias. Por que, então, iremos flexibilizar a obrigatoriedade de usar máscaras?

A resposta está na frieza dos números. As medidas de combate à pandemia, seja o lockdown ou o uso de máscaras, foram adotadas para salvar vidas. Mas, por trás disso, havia um objetivo maior: evitar que o sistema de saúde entrasse em colapso. Ao final do ano passado, quando se observou a alta taxa de transmissão da última variante, cancelou-se datas comemorativas, como o Carnaval, e o fim da exigência de máscaras em ambiente aberto. Hoje, quando se comprovou que essa cepa não é mesmo tão letal, volta-se a discutir termos de flexibilização.

Vamos celebrar esse momento e ser tolerantes. Se alguém quiser continuando máscara, que use. Não criemos mais um cavalo de batalha para nossa sociedade, que não aguenta mais birras e picuinhas inúteis.

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Aluizio Falcão Filho

Desde que teve início a pandemia, viu-se no Brasil um fenômeno peculiar – o negacionismo mutante. Em primeiro lugar, houve quem dissesse que a Covid era uma invenção. Depois, essas mesmas pessoas reconheceram a existência de um vírus (produzido sinteticamente m laboratórios, segundo alguns), mas negaram que a doença fosse grave. Mais à frente, acusou-se diversas autoridades de manipular números (e os óbitos seriam bem menores que os divulgados). E, por fim, vieram os críticos das vacinas. Uns afirmavam que os imunizantes eram inócuos (ou potencializavam o contágio); outros eram taxativos em dizer que as vacinas trariam efeitos colaterais que poderiam até matar.

Agora, caminhamos para uma fase na qual as máscaras faciais (também alvo de julgamentos negativos) devem ser liberadas nacionalmente em ambientes abertos – Rio e São Paulo já avançaram neste quesito. É lógico acreditar que, no futuro breve, com o crescimento dos índices de vacinação e de imunização, essa alforria também ocorra em locais fechados.

Desgaste psicológico

Uma quantidade enorme de pessoas recebeu essa notícia com alegria e alívio. Quase ninguém aguenta mais usar as máscaras, que dificultam a respiração e, em dias de calor, são extremamente desconfortáveis (em muitas ruas e avenidas de São Paulo, por sinal, já se viam, nos últimos tempos, vários pedestres sem proteção). As crianças, que são orientadas a fazer ginástica com máscaras, por exemplo, estão exultantes com a possibilidade de respirar livremente durante exercícios físicos.

Ocorre que há gente que, insegura, vai continuar a usar máscaras. E aqui teremos uma batalha de patrulhas.

De um lado, haverá quem sentirá necessidade de se proteger e vai continuar a usar proteção (como era comum ver no Oriente, mesmo antes da pandemia). De outro, teremos quem deixará de colocar a máscara e ficará provocando quem ainda a utiliza. E aqui teremos o conflito, que pode descambar para discussões públicas e barracos.

Trata-se, no fundo, de uma discussão inócua.

Em primeiro lugar, já passamos boa parte de nosso tempo sem a máscara. É muito comum ver, nos escritórios, funcionários com o rosto descoberto. E o que dizer dos restaurantes? A máscara é retirada assim que um cliente se senta à mesa (mas alguns estabelecimentos exigem que a máscara seja recolocada caso alguém queira ir ao banheiro). De qualquer forma, o que se vê é uma massa de pessoas sem proteção facial conversando e confraternizando. Um ambiente propício para a contaminação? Possivelmente. Mas os clientes não estão mais preocupados com isso.

A sociedade já relativiza a gravidade da pandemia desde o advento das vacinas. E, agora, está impaciente. Percebe-se claramente que a maioria deseja a volta à normalidade. Apenas uma minoria continua cautelosa. Um sinal disso pôde ser visto no feriado de Carnaval em Orlando. Nos parques temáticos, não havia máscara no rosto da esmagadora maioria. E aquelas filas intermináveis para ir aos brinquedos da moda continuavam aglomerando gente – sem nenhuma proteção. Se esse comportamento é certo ou errado, saberemos em breve, pois o vírus é implacável e sua capacidade de contaminação reage a cada descuido nosso.

Frieza dos números

As autoridades sanitárias afirmam que o pandemia continua produzindo um número considerável de vítimas, um pouco abaixo da casa de 600 diárias. Por que, então, iremos flexibilizar a obrigatoriedade de usar máscaras?

A resposta está na frieza dos números. As medidas de combate à pandemia, seja o lockdown ou o uso de máscaras, foram adotadas para salvar vidas. Mas, por trás disso, havia um objetivo maior: evitar que o sistema de saúde entrasse em colapso. Ao final do ano passado, quando se observou a alta taxa de transmissão da última variante, cancelou-se datas comemorativas, como o Carnaval, e o fim da exigência de máscaras em ambiente aberto. Hoje, quando se comprovou que essa cepa não é mesmo tão letal, volta-se a discutir termos de flexibilização.

Vamos celebrar esse momento e ser tolerantes. Se alguém quiser continuando máscara, que use. Não criemos mais um cavalo de batalha para nossa sociedade, que não aguenta mais birras e picuinhas inúteis.

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