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O estresse do segundo confinamento

Para piorar o desolamento, estamos vivendo um cenário político que começa a inspirar cuidados

(Divulgação/Divulgação)
BG

Bibiana Guaraldi

Publicado em 19 de março de 2021 às 07h28.

Última atualização em 19 de março de 2021 às 10h35.

Estamos novamente em lockdown e voltamos a passar muito mais tempo em casa – quando não todo o tempo. Mas, dessa vez, os sentimentos são completamente diferentes daqueles que experimentamos de março a junho de 2020. Naquela primeira fase de quarentena, sentimos o forte impacto do desconhecimento: sabia-se que a Covid-19 era grave, mas ainda não havia domínio sobre o processo de contaminação e proliferação. Além disso, houve uma espécie de lua de mel com o Home Office. Todos descobriram que poderiam trabalhar remotamente, com boa produtividade, e ainda por cima ficar ao lado da família (alguns problemas surgiram por causa disso, mas vamos deixar isso por enquanto de lado). Por fim, muitos redescobriram o prazer de curtir a própria casa, apesar de sentir falta de socializar, abraçar e conversar com os amigos.

Ficamos trancados em 2020, pudemos sair e fomos trancafiados novamente agora. Tivemos que retroceder algumas casas, como num jogo de dados, e temos dentro de nós a sensação da liberdade perdida. Essa frustração é ainda pior junto a quem trabalha com o comércio. Mesmo que a venda digital tenha crescido muito, o lockdown é devastador para lojas e restaurantes. Precisamos torcer para que esses empreendedores consigam atravessar esse período difícil (por isso, mantenham esses comerciantes vivos, encomendando o que puderem diretamente com eles ou através de aplicativos).

Para piorar o desolamento, estamos vivendo um cenário político que começa a inspirar cuidados. Testemunhamos diariamente os ânimos exaltados de uma campanha presidencial antecipada, que só servem para nos tornar ainda mais estressados.

E as crianças?

Outro problema sério. Desde fevereiro, minha filha tinha aulas presenciais semana sim e outra não. O convívio com amigos e amigas a transformou. O ano de 2020 inteiro a deixou triste e sujeita a altos e baixos emocionais. Bastou um dia em sua sala de aula e tudo mudou. Ela voltou a ser a mesma criança de sempre, despachada e sorridente.

A volta do lockdown e o fechamento das escolas provocou um terremoto emocional. Ela está novamente irritadiça e rebelde, pois teve de reviver uma situação indesejável. Nesse instante, ela começa a questionar a qualidade do ensino à distância e também considera difícil se readaptar às salas físicas de aula. Quando a readaptação estava no final, teve de retomar os estudos no computador. Um momento frustrante e amargo.

A pandemia rouba um pedaço da infância de nossos filhos e não podemos fazer muita coisa para preencher esse vazio existencial. Esta não é uma geração que está acostumada a brincar na rua, com maior atividade. Os jovens de hoje, habituados com as redes sociais, videogames e computadores, já saíam pouco. Mas os escassos momentos de confraternização eram vitais para que houvesse um aprendizado social importante, além de proporcionar ocasiões de divertimento e brincadeiras, algo imprescindível para a juventude.

O pior é que, enquanto enjaulados em casa, podem ainda ter que lidar com problemas como a depressão. Algumas famílias que conheço estão passando por esse quadro e precisam de atenção especial.

Ou seja: não está fácil para ninguém. Até recentemente, havíamos reconquistado válvulas de escape ligadas ao convívio social. A conversa, o toque, o brinde, almoços e jantares – tudo que signifique uma troca física de impressões, ideias e sentimentos. Os encontros virtuais tiveram o seu momento, no início do isolamento, mas voltar a eles é como contar a mesma piada pela segunda vez: não tem a mesma graça.

É impressionante ver que a indústria de entretenimento não aproveitou os últimos doze meses para criar alternativas de diversão dentro de nossas casas (apenas novos serviços de streaming surgiram). Ou que as escolas não usaram esse tempo topo para evoluir nas ferramentas de educação à distância. Talvez todos tenhamos esperado que o arrefecimento da pandemia significaria o fim do pesadelo. Mas ele voltou, com força total, e temos agora que encarar mais este desafio.

Conseguiremos?

Boa parte de nós vai conseguir fazer a travessia. Mas muitos irão surtar e desafiar a pandemia. Ocorreu durante a gripe espanhola e vai acontecer de novo. Por isso, além de respeitar todos os protocolos de saúde, cuide também de sua cabeça e de seu autocontrole. O segredo, daqui para frente, estará na sua capacidade de se manter totalmente são.

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Estamos novamente em lockdown e voltamos a passar muito mais tempo em casa – quando não todo o tempo. Mas, dessa vez, os sentimentos são completamente diferentes daqueles que experimentamos de março a junho de 2020. Naquela primeira fase de quarentena, sentimos o forte impacto do desconhecimento: sabia-se que a Covid-19 era grave, mas ainda não havia domínio sobre o processo de contaminação e proliferação. Além disso, houve uma espécie de lua de mel com o Home Office. Todos descobriram que poderiam trabalhar remotamente, com boa produtividade, e ainda por cima ficar ao lado da família (alguns problemas surgiram por causa disso, mas vamos deixar isso por enquanto de lado). Por fim, muitos redescobriram o prazer de curtir a própria casa, apesar de sentir falta de socializar, abraçar e conversar com os amigos.

Ficamos trancados em 2020, pudemos sair e fomos trancafiados novamente agora. Tivemos que retroceder algumas casas, como num jogo de dados, e temos dentro de nós a sensação da liberdade perdida. Essa frustração é ainda pior junto a quem trabalha com o comércio. Mesmo que a venda digital tenha crescido muito, o lockdown é devastador para lojas e restaurantes. Precisamos torcer para que esses empreendedores consigam atravessar esse período difícil (por isso, mantenham esses comerciantes vivos, encomendando o que puderem diretamente com eles ou através de aplicativos).

Para piorar o desolamento, estamos vivendo um cenário político que começa a inspirar cuidados. Testemunhamos diariamente os ânimos exaltados de uma campanha presidencial antecipada, que só servem para nos tornar ainda mais estressados.

E as crianças?

Outro problema sério. Desde fevereiro, minha filha tinha aulas presenciais semana sim e outra não. O convívio com amigos e amigas a transformou. O ano de 2020 inteiro a deixou triste e sujeita a altos e baixos emocionais. Bastou um dia em sua sala de aula e tudo mudou. Ela voltou a ser a mesma criança de sempre, despachada e sorridente.

A volta do lockdown e o fechamento das escolas provocou um terremoto emocional. Ela está novamente irritadiça e rebelde, pois teve de reviver uma situação indesejável. Nesse instante, ela começa a questionar a qualidade do ensino à distância e também considera difícil se readaptar às salas físicas de aula. Quando a readaptação estava no final, teve de retomar os estudos no computador. Um momento frustrante e amargo.

A pandemia rouba um pedaço da infância de nossos filhos e não podemos fazer muita coisa para preencher esse vazio existencial. Esta não é uma geração que está acostumada a brincar na rua, com maior atividade. Os jovens de hoje, habituados com as redes sociais, videogames e computadores, já saíam pouco. Mas os escassos momentos de confraternização eram vitais para que houvesse um aprendizado social importante, além de proporcionar ocasiões de divertimento e brincadeiras, algo imprescindível para a juventude.

O pior é que, enquanto enjaulados em casa, podem ainda ter que lidar com problemas como a depressão. Algumas famílias que conheço estão passando por esse quadro e precisam de atenção especial.

Ou seja: não está fácil para ninguém. Até recentemente, havíamos reconquistado válvulas de escape ligadas ao convívio social. A conversa, o toque, o brinde, almoços e jantares – tudo que signifique uma troca física de impressões, ideias e sentimentos. Os encontros virtuais tiveram o seu momento, no início do isolamento, mas voltar a eles é como contar a mesma piada pela segunda vez: não tem a mesma graça.

É impressionante ver que a indústria de entretenimento não aproveitou os últimos doze meses para criar alternativas de diversão dentro de nossas casas (apenas novos serviços de streaming surgiram). Ou que as escolas não usaram esse tempo topo para evoluir nas ferramentas de educação à distância. Talvez todos tenhamos esperado que o arrefecimento da pandemia significaria o fim do pesadelo. Mas ele voltou, com força total, e temos agora que encarar mais este desafio.

Conseguiremos?

Boa parte de nós vai conseguir fazer a travessia. Mas muitos irão surtar e desafiar a pandemia. Ocorreu durante a gripe espanhola e vai acontecer de novo. Por isso, além de respeitar todos os protocolos de saúde, cuide também de sua cabeça e de seu autocontrole. O segredo, daqui para frente, estará na sua capacidade de se manter totalmente são.

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