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O CV fajuto de Decotelli, uma tremenda mancada da Abin

Os funcionários da Abin deveriam ter investigado o currículo do então candidato a Ministro da Educação, antes que o presidente o escolhesse para a Esplanada

Carlos Decotelli: (Marcos Oliveira/Agência Senado)
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felipegiacomelli

Publicado em 30 de junho de 2020 às 08h28.

Na página oficial da Agência Brasileira de Inteligência lê-se o seguinte: “a Abin é um órgão da Presidência da República, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional, responsável por fornecer ao presidente da República e a seus ministros informações e análises estratégicas, oportunas e confiáveis, necessárias ao processo de decisão”. Portanto, a conclusão à qual chegamos após essa breve leitura é: os funcionários dessa agência deveriam ter investigado o currículo do então candidato a Ministro da Educação , Carlos Alberto Decotelli , antes que o presidente Jair Bolsonaro o escolhesse para frequentar a Esplanada dos Ministérios. Em bom português, foi uma tremenda mancada – e a culpa é exclusivamente da Abin.

Não é a primeira vez que o órgão fica exposto a trapalhadas. Houve outros ministros com incongruências em seus currículos, incluindo antecessores do atual titular da Educação, mas nenhum caso dessa magnitude, com doutorado e pós-doutorado inexistentes e uma acusação de plágio na tese de mestrado. Tudo isso já seria ruim em qualquer pasta, mas ganha outra grandeza quando aterrissa no colo do ministro da Educação, que deveria servir de exemplo para todos os professores do país. Se o ministro, que seria a autoridade máxima no ensino, é pego numa mentira sobre seu passado acadêmico, a porta estaria escancarada para que todos os profissionais do ramo pudessem faltar com a verdade em suas peças de currículo.

Como pode a Abin expor o presidente da República a este tipo de vexame?

Bem, desde os tempos em que a Abin era conhecida por Serviço Nacional de Informações (SNI), há histórias em que seus servidores metem os pés pelas mãos. Em 1974, por exemplo, o SNI conduziu um profundo estudo sobre as eleições parlamentares daquele ano. Segundo o livro “A Ditadura Derrotada”, de Elio Gaspari, as previsões eram de vitórias da Arena sobre o MDB no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, a previsão era de 14 x 7; em São Paulo, 32 a 17. Nos dois casos, o vencedor seria o partido do governo . Abertas as urnas, entretanto, o que se viu foi o contrário. As eleições fluminenses mostraram uma vitória da oposição em 18 a 8 e as paulistas apontaram 30 a 16 para o antigo Manda Brasa.

Gaspari mostra o que ocorreu no Day After das eleições daquele ano: “Na segunda-feira, dia 18, saíram do SNI e chegaram a[o presidente Ernesto] Geisel três análises do resultado eleitoral. Diferentes e conflitantes, refletiam a um só tempo a perplexidade dos hierarcas e a anarquia instalada no Serviço”.

Há um elo a unir esses dois embustes, separados na história por 46 anos. Ambos foram cometidos por burocratas que queriam agradar seus superiores e não fizeram seu trabalho de forma correta. Geisel vai ficar feliz se a Arena ganhar? Elabore-se um relatório que diga isso. Bolsonaro está contente com sua escolha para o ministério? Escreva-se uma avaliação sem grandes compromissos, apenas para constar.

No caso de Decotelli, há apenas duas alternativas para explicar a falta de atuação da agência junto à presidência. Ou a Abin sabia dos itens anabolizados do ministro ou simplesmente não tinha conhecimento. Qualquer uma das alternativas mostra uma incompetência arrepiante – ou, na melhor das hipóteses, uma capacidade de adulação pueril ao presidente, que nada combina com o avanço tecnológico da sociedade e a capacidade da imprensa em descortinar os podres de quem compõe o primeiro escalão do governo.

Tem-se a impressão, quando se observa esse tipo de coisa, de que não há na estrutura do poder alguém preocupado com pequenos detalhes com potencial para causar problemas de imagem – como a simples checagem do CV de um candidato a ministro.

Por hipótese, essa seria a função da Abin, que responde ao Gabinete de Segurança Institucional, cujo ministro responsável é o general Augusto Heleno Pereira. Mas o desgaste envolvendo o nome de Decotelli não mina apenas Heleno, mas todo o grupo militar dentro do governo. Isso ocorre justamente quando os generais tinham vencido a batalha na indicação para o Ministério responsável pelo ensino. O lado derrotado, liderado pelo escritor Olavo de Carvalho, responsável pelas duas indicações anteriores, continua a se mexer para inviabilizar a posse do novo nome.

A cerimônia, por sinal, estava marcada para às 16:00 de hoje e foi adiada. Mas tudo indica que Decotelli terá sua nomeação confirmada (ontem à noite, começou uma declaração dizendo “sou ministro” e Bolsonaro minimizou o incidente). Qualquer que seja o desfecho deste acontecimento, no entanto, uma coisa é certa. Os militares saem desse caso mais desgastados do que entraram, com o general Augusto Heleno à frente. Algo lamentável, especialmente quando o atrito poderia ser evitado se um único burocrata na Abin tivesse feito seu trabalho, usando o Google e disparando dois ou três telefonemas. Tarefa que até uma criança poderia desempenhar com rapidez e eficiência.

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Não é a primeira vez que o órgão fica exposto a trapalhadas. Houve outros ministros com incongruências em seus currículos, incluindo antecessores do atual titular da Educação, mas nenhum caso dessa magnitude, com doutorado e pós-doutorado inexistentes e uma acusação de plágio na tese de mestrado. Tudo isso já seria ruim em qualquer pasta, mas ganha outra grandeza quando aterrissa no colo do ministro da Educação, que deveria servir de exemplo para todos os professores do país. Se o ministro, que seria a autoridade máxima no ensino, é pego numa mentira sobre seu passado acadêmico, a porta estaria escancarada para que todos os profissionais do ramo pudessem faltar com a verdade em suas peças de currículo.

Como pode a Abin expor o presidente da República a este tipo de vexame?

Bem, desde os tempos em que a Abin era conhecida por Serviço Nacional de Informações (SNI), há histórias em que seus servidores metem os pés pelas mãos. Em 1974, por exemplo, o SNI conduziu um profundo estudo sobre as eleições parlamentares daquele ano. Segundo o livro “A Ditadura Derrotada”, de Elio Gaspari, as previsões eram de vitórias da Arena sobre o MDB no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, a previsão era de 14 x 7; em São Paulo, 32 a 17. Nos dois casos, o vencedor seria o partido do governo . Abertas as urnas, entretanto, o que se viu foi o contrário. As eleições fluminenses mostraram uma vitória da oposição em 18 a 8 e as paulistas apontaram 30 a 16 para o antigo Manda Brasa.

Gaspari mostra o que ocorreu no Day After das eleições daquele ano: “Na segunda-feira, dia 18, saíram do SNI e chegaram a[o presidente Ernesto] Geisel três análises do resultado eleitoral. Diferentes e conflitantes, refletiam a um só tempo a perplexidade dos hierarcas e a anarquia instalada no Serviço”.

Há um elo a unir esses dois embustes, separados na história por 46 anos. Ambos foram cometidos por burocratas que queriam agradar seus superiores e não fizeram seu trabalho de forma correta. Geisel vai ficar feliz se a Arena ganhar? Elabore-se um relatório que diga isso. Bolsonaro está contente com sua escolha para o ministério? Escreva-se uma avaliação sem grandes compromissos, apenas para constar.

No caso de Decotelli, há apenas duas alternativas para explicar a falta de atuação da agência junto à presidência. Ou a Abin sabia dos itens anabolizados do ministro ou simplesmente não tinha conhecimento. Qualquer uma das alternativas mostra uma incompetência arrepiante – ou, na melhor das hipóteses, uma capacidade de adulação pueril ao presidente, que nada combina com o avanço tecnológico da sociedade e a capacidade da imprensa em descortinar os podres de quem compõe o primeiro escalão do governo.

Tem-se a impressão, quando se observa esse tipo de coisa, de que não há na estrutura do poder alguém preocupado com pequenos detalhes com potencial para causar problemas de imagem – como a simples checagem do CV de um candidato a ministro.

Por hipótese, essa seria a função da Abin, que responde ao Gabinete de Segurança Institucional, cujo ministro responsável é o general Augusto Heleno Pereira. Mas o desgaste envolvendo o nome de Decotelli não mina apenas Heleno, mas todo o grupo militar dentro do governo. Isso ocorre justamente quando os generais tinham vencido a batalha na indicação para o Ministério responsável pelo ensino. O lado derrotado, liderado pelo escritor Olavo de Carvalho, responsável pelas duas indicações anteriores, continua a se mexer para inviabilizar a posse do novo nome.

A cerimônia, por sinal, estava marcada para às 16:00 de hoje e foi adiada. Mas tudo indica que Decotelli terá sua nomeação confirmada (ontem à noite, começou uma declaração dizendo “sou ministro” e Bolsonaro minimizou o incidente). Qualquer que seja o desfecho deste acontecimento, no entanto, uma coisa é certa. Os militares saem desse caso mais desgastados do que entraram, com o general Augusto Heleno à frente. Algo lamentável, especialmente quando o atrito poderia ser evitado se um único burocrata na Abin tivesse feito seu trabalho, usando o Google e disparando dois ou três telefonemas. Tarefa que até uma criança poderia desempenhar com rapidez e eficiência.

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