O comércio sofre – dos pequenos aos enormes, cada um do seu jeito
Ninguém passa incólume pela crise da pandemia, e os comerciantes são os que mais perderam financeiramente com as regras de isolamento e a quarentena
Bibiana Guaraldi
Publicado em 22 de março de 2021 às 08h19.
Última atualização em 22 de março de 2021 às 10h50.
Um dos consensos que surgiram durante a pandemia é que a Covid-19 atingiu a toda a sociedade. Uns mais, outros menos – mas todos foram afetados pela crise. Este efeito pode ser do ponto de vista da saúde, da emoção ou da economia. Mas, sim, ninguém passou incólume por essa agrura. Outra conclusão que gera concordância geral é a de que os comerciantes são os que mais perderam financeiramente com as regras de isolamento e a quarentena.
Mesmo assim, o maior problema foi relacionado aos lojistas e donos de restaurantes. Entre os grandes varejistas, porém, o ano de 2020 trouxe bons resultados, como se pôde enxergar com os recentes balanços divulgados. O exercício de 2021 tinha tudo para ser bom, mas os supermercados também passaram a enfrentar alguns problemas adicionais, além daqueles de ordem sanitária.
O primeiro é a volta da inflação, que corroeu poder aquisitivo e reduziu vendas. Isso pode ser em parte compensado com a volta do auxílio emergencial, em abril, mesmo em um patamar menor do que o do ano passado.
Mas os supermercadistas enfrentam agora a mão visível do poder, que começa a controlar de perto suas atividades. Em vários locais, por exemplo, hipermercados tiveram de lacrar, por ordem das autoridades, algumas prateleiras que continham itens não essenciais, como roupas, eletroeletrônicos e bens duráveis.
Qualquer interferência do Estado na iniciativa privada é questionável, mas até é possível entender o raciocínio por trás dessa decisão: hipermercados poderiam vender mercadorias que os magazines, fechados, não teriam condições de oferecer ao público. Portanto, em tese, a proibição seria no sentido de evitar uma concorrência desleal. É possível compreender isso, embora defender uma competição mais justa entre empresas não seja exatamente atribuição de prefeitos e demais autoridades municipais.
O que não se pode entender é que essas mesmas autoridades começaram também a estabelecer, dentro das gôndolas de alimentação, o que pode ou não ser vendido à população. É o velho problema: dê a algum burocrata algum poder sobre as pessoas e ele vai extrapolá-lo. Geralmente, os mandatários eleitos pelo povo têm alguma sensibilidade para esse tipo de coisa, pois são regidos pela vontade popular. Chefetes do serviço público que gozam de estabilidade, porém, têm seu momento de glória quando mandam empresários dançar conforme a sua própria música.
Mas o setor de supermercados tem outros problemas para resolver. Na semana passada, várias unidades, de bandeiras variadas, foram saqueadas no Brasil. Os saqueadores levaram televisores, aparelhos celulares e outros bens de alto valor. Os gestores desses negócios resolveram botar as barbas de molho e estão tirando de suas lojas esses equipamentos, que começam a ser reenviados aos armazéns.
A ideia é evitar que, com essas mercadorias fora de alcance, haja novos saques. Mas os executivos das grandes redes se preparam para alguns dias de tensão. Há um temor de que, mesmo assim, os arrastões voltem a acontecer.
Como se vê, mesmo aqueles que aparentemente estavam com a vida ganha têm agora de se mexer para evitar desenlaces infelizes. A grande vantagem que essas grandes redes possuem é grande autonomia proporcionada por reservas enormes de caixa e recursos de logística e de inteligência para evitar dissabores maiores.
Este quadro, porém, nos alerta para os exageros do poder público sobre a iniciativa privada. Se um grupo de burocratas tem o poder de impingir contratempos a grandes grupos, o que podemos esperar da situação enfrentada pelos empreendedores do varejo? Estamos falando de reles mortais que não contam com recursos praticamente ilimitados como os varejistas de porte. Por enquanto, comerciantes e donos de restaurantes só podem se queixar ao Bispo ou vociferar nas redes sociais.
Esse problema, entretanto, não é só deles – é de todos nós. Precisamos ajudar na sobrevivência dessas pequenas empresas, cada um dentro de suas possibilidades. Não podemos deixar esses empreendedores ao relento. Pequenos e médios negócios conseguiram gerar 75 % dos empregos criados em janeiro. Ou seja, era um segmento em plena recuperação até que a nova onda da pandemia nos colocou novamente em condições análogas ao lockdown. Não podemos deixar que esses negócios entrem em uma espiral negativa. Portanto, voltemos a ajudar o comércio dos nossos bairros, pedindo produtos nas lojas que estão fechadas, mas podem entregar a mercadoria em casa. E, na hora de acionar um serviço de delivery, vamos dar preferência aos restaurantes que estão na vizinhança.
Se todos ajudarem seus próprios bairros, a corrente para frente poderá se estabelecer, preservando negócios e empregos. Assim, se pode ajudar, faça sua parte. Ajude os pequenos e médios que estão perto de você.
Um dos consensos que surgiram durante a pandemia é que a Covid-19 atingiu a toda a sociedade. Uns mais, outros menos – mas todos foram afetados pela crise. Este efeito pode ser do ponto de vista da saúde, da emoção ou da economia. Mas, sim, ninguém passou incólume por essa agrura. Outra conclusão que gera concordância geral é a de que os comerciantes são os que mais perderam financeiramente com as regras de isolamento e a quarentena.
Mesmo assim, o maior problema foi relacionado aos lojistas e donos de restaurantes. Entre os grandes varejistas, porém, o ano de 2020 trouxe bons resultados, como se pôde enxergar com os recentes balanços divulgados. O exercício de 2021 tinha tudo para ser bom, mas os supermercados também passaram a enfrentar alguns problemas adicionais, além daqueles de ordem sanitária.
O primeiro é a volta da inflação, que corroeu poder aquisitivo e reduziu vendas. Isso pode ser em parte compensado com a volta do auxílio emergencial, em abril, mesmo em um patamar menor do que o do ano passado.
Mas os supermercadistas enfrentam agora a mão visível do poder, que começa a controlar de perto suas atividades. Em vários locais, por exemplo, hipermercados tiveram de lacrar, por ordem das autoridades, algumas prateleiras que continham itens não essenciais, como roupas, eletroeletrônicos e bens duráveis.
Qualquer interferência do Estado na iniciativa privada é questionável, mas até é possível entender o raciocínio por trás dessa decisão: hipermercados poderiam vender mercadorias que os magazines, fechados, não teriam condições de oferecer ao público. Portanto, em tese, a proibição seria no sentido de evitar uma concorrência desleal. É possível compreender isso, embora defender uma competição mais justa entre empresas não seja exatamente atribuição de prefeitos e demais autoridades municipais.
O que não se pode entender é que essas mesmas autoridades começaram também a estabelecer, dentro das gôndolas de alimentação, o que pode ou não ser vendido à população. É o velho problema: dê a algum burocrata algum poder sobre as pessoas e ele vai extrapolá-lo. Geralmente, os mandatários eleitos pelo povo têm alguma sensibilidade para esse tipo de coisa, pois são regidos pela vontade popular. Chefetes do serviço público que gozam de estabilidade, porém, têm seu momento de glória quando mandam empresários dançar conforme a sua própria música.
Mas o setor de supermercados tem outros problemas para resolver. Na semana passada, várias unidades, de bandeiras variadas, foram saqueadas no Brasil. Os saqueadores levaram televisores, aparelhos celulares e outros bens de alto valor. Os gestores desses negócios resolveram botar as barbas de molho e estão tirando de suas lojas esses equipamentos, que começam a ser reenviados aos armazéns.
A ideia é evitar que, com essas mercadorias fora de alcance, haja novos saques. Mas os executivos das grandes redes se preparam para alguns dias de tensão. Há um temor de que, mesmo assim, os arrastões voltem a acontecer.
Como se vê, mesmo aqueles que aparentemente estavam com a vida ganha têm agora de se mexer para evitar desenlaces infelizes. A grande vantagem que essas grandes redes possuem é grande autonomia proporcionada por reservas enormes de caixa e recursos de logística e de inteligência para evitar dissabores maiores.
Este quadro, porém, nos alerta para os exageros do poder público sobre a iniciativa privada. Se um grupo de burocratas tem o poder de impingir contratempos a grandes grupos, o que podemos esperar da situação enfrentada pelos empreendedores do varejo? Estamos falando de reles mortais que não contam com recursos praticamente ilimitados como os varejistas de porte. Por enquanto, comerciantes e donos de restaurantes só podem se queixar ao Bispo ou vociferar nas redes sociais.
Esse problema, entretanto, não é só deles – é de todos nós. Precisamos ajudar na sobrevivência dessas pequenas empresas, cada um dentro de suas possibilidades. Não podemos deixar esses empreendedores ao relento. Pequenos e médios negócios conseguiram gerar 75 % dos empregos criados em janeiro. Ou seja, era um segmento em plena recuperação até que a nova onda da pandemia nos colocou novamente em condições análogas ao lockdown. Não podemos deixar que esses negócios entrem em uma espiral negativa. Portanto, voltemos a ajudar o comércio dos nossos bairros, pedindo produtos nas lojas que estão fechadas, mas podem entregar a mercadoria em casa. E, na hora de acionar um serviço de delivery, vamos dar preferência aos restaurantes que estão na vizinhança.
Se todos ajudarem seus próprios bairros, a corrente para frente poderá se estabelecer, preservando negócios e empregos. Assim, se pode ajudar, faça sua parte. Ajude os pequenos e médios que estão perto de você.