O caos da sociedade atual, parecido com o de cem anos atrás
A tecnologia é o elemento de disrupção que vai transformando tudo na sociedade
Bibiana Guaraldi
Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 08h28.
Grandes disrupções geralmente desorganizam a sociedade, a economia e a política. Trazem mudanças significativas de pensamento, transformam o comportamento e revolucionam a cultura. Vivemos hoje uma época assim. Há poucos, dias, conversava com Aldo Leone, CEO da Agaxtur, e ele me falava sobre a sociedade desorganizada em que vivemos hoje: pessoas brigando por todos os assuntos, embates políticos e grande metamorfoses na área de costumes. O receio de Aldo seria: um mundo desorganizado não teria futuro.
A corrente positivista de pensamento, que foi muito forte no início do século 19, corrobora o pensamento do meu amigo. Quer um exemplo? Está na bandeira nacional, na faixa onde se lê “ordem e progresso”. Mas, apesar de enxergar a lógica em seu raciocínio, discordei de Aldo. Minha visão é diferente: a desorganização é aparente e transitória, assim como a bagunça que fica em uma casa que está sendo reformada. Se olharmos uma fotografia tirada no segundo dia de reforma, ficaremos horrorizados com a confusão. Depois, de um tempo, porém, as coisas ficam mais organizadas e, ao final do processo, está tudo em seu devido lugar.
A tecnologia é o elemento de disrupção que vai transformando tudo na sociedade. Neste novo milênio, o gatilho da reviravolta pela qual passamos foi o smartphone. Na prática, tivemos com o celular inteligente uma forma de democratizar o acesso à internet, criar valor através de funcionalidades exclusivas de outros aparelhos (fotografia e música) e entrar no mundo dos aplicativos, que automatizaram vários serviços que necessitavam a intervenção humana. Dessas raízes surgiram as redes sociais e demais mecanismos de comunicação que remodelaram nossos hábitos. As redes, por sinal, deram voz aos extremistas que se sentiam excluídos e possibilitou a esses indivíduos a oportunidade de se reunir (mesmo que virtualmente) para trocar ideias. Aqui tivemos um caldeirão que misturou tudo e gerou uma sensação de que tudo está desorganizado.
Quando experimentamos um fenômeno parecido?
Resposta: quando a eletricidade começou a se espalhar pelas cidades. No século passado, tivemos a eletrificação de boa parte das grandes cidades nas duas primeiras décadas do século 20. Com isso, uma verdadeira revolução tecnológica surgiu – a começar pela popularização dos refrigeradores e dos gramofones.
A luz elétrica trouxe também o crescimento da vida noturna. E reuniões políticas e sindicais realizadas à noite. A efervescência cultural seguiu o boom tecnológico. E discussões ideológicas também tiveram início.
Uma teoria recente para a época, o Marxismo, começou a ser discutida e serviu de base para uma revolução popular na Rússia, em 1917. A partir daí, ganhou corpo a tese de que o Estado tinha de intervir na vida das pessoas, seja através do comunismo ou través do Fascismo e do Nazismo. Movimentos populares, por exemplo, irromperam na Europa, criando um ambiente caótico e até destruidor.
Até então, a discussão política não arrebatava tanto as paixões e não provocava debates passionais. Com o surgimento de antagonismos políticos, como o capitalismo versus comunismo e a democracia contra o fascismo e o nazismo, os debates ganharam uma octanagem nunca antes experimentada – exatamente como vemos os duelos verbais em plataformas digitais.
A comparação entre presente e passado fica ainda mais mórbida quando pensamos que coincidentemente houve uma pandemia em 1918, que com a disseminação do vírus Influenza. O paralelo entre o início do século atual e com o passado não termina aqui: em São Paulo, a agitação da cultura era tanta que surgiu a Semana de 1922, um dos mais criativos movimentos artísticos que se tem notícia no mundo. No cenário musical, tivemos o Charleston e as melindrosas da Belle Époque. Ao final da década de 1920, o Crash da Bolsa veio para bagunçar ainda mais o coreto.
Apesar dessa salada caótica, a sociedade encontrou uma caminho ao absorver mudanças e compreender o que deveria ser feito. É o que deverá acontecer por aqui, desde que repitamos o bom senso de nossos ancestrais e criemos uma forma de colocar o caos, aos poucos, em ordem.
Grandes disrupções geralmente desorganizam a sociedade, a economia e a política. Trazem mudanças significativas de pensamento, transformam o comportamento e revolucionam a cultura. Vivemos hoje uma época assim. Há poucos, dias, conversava com Aldo Leone, CEO da Agaxtur, e ele me falava sobre a sociedade desorganizada em que vivemos hoje: pessoas brigando por todos os assuntos, embates políticos e grande metamorfoses na área de costumes. O receio de Aldo seria: um mundo desorganizado não teria futuro.
A corrente positivista de pensamento, que foi muito forte no início do século 19, corrobora o pensamento do meu amigo. Quer um exemplo? Está na bandeira nacional, na faixa onde se lê “ordem e progresso”. Mas, apesar de enxergar a lógica em seu raciocínio, discordei de Aldo. Minha visão é diferente: a desorganização é aparente e transitória, assim como a bagunça que fica em uma casa que está sendo reformada. Se olharmos uma fotografia tirada no segundo dia de reforma, ficaremos horrorizados com a confusão. Depois, de um tempo, porém, as coisas ficam mais organizadas e, ao final do processo, está tudo em seu devido lugar.
A tecnologia é o elemento de disrupção que vai transformando tudo na sociedade. Neste novo milênio, o gatilho da reviravolta pela qual passamos foi o smartphone. Na prática, tivemos com o celular inteligente uma forma de democratizar o acesso à internet, criar valor através de funcionalidades exclusivas de outros aparelhos (fotografia e música) e entrar no mundo dos aplicativos, que automatizaram vários serviços que necessitavam a intervenção humana. Dessas raízes surgiram as redes sociais e demais mecanismos de comunicação que remodelaram nossos hábitos. As redes, por sinal, deram voz aos extremistas que se sentiam excluídos e possibilitou a esses indivíduos a oportunidade de se reunir (mesmo que virtualmente) para trocar ideias. Aqui tivemos um caldeirão que misturou tudo e gerou uma sensação de que tudo está desorganizado.
Quando experimentamos um fenômeno parecido?
Resposta: quando a eletricidade começou a se espalhar pelas cidades. No século passado, tivemos a eletrificação de boa parte das grandes cidades nas duas primeiras décadas do século 20. Com isso, uma verdadeira revolução tecnológica surgiu – a começar pela popularização dos refrigeradores e dos gramofones.
A luz elétrica trouxe também o crescimento da vida noturna. E reuniões políticas e sindicais realizadas à noite. A efervescência cultural seguiu o boom tecnológico. E discussões ideológicas também tiveram início.
Uma teoria recente para a época, o Marxismo, começou a ser discutida e serviu de base para uma revolução popular na Rússia, em 1917. A partir daí, ganhou corpo a tese de que o Estado tinha de intervir na vida das pessoas, seja através do comunismo ou través do Fascismo e do Nazismo. Movimentos populares, por exemplo, irromperam na Europa, criando um ambiente caótico e até destruidor.
Até então, a discussão política não arrebatava tanto as paixões e não provocava debates passionais. Com o surgimento de antagonismos políticos, como o capitalismo versus comunismo e a democracia contra o fascismo e o nazismo, os debates ganharam uma octanagem nunca antes experimentada – exatamente como vemos os duelos verbais em plataformas digitais.
A comparação entre presente e passado fica ainda mais mórbida quando pensamos que coincidentemente houve uma pandemia em 1918, que com a disseminação do vírus Influenza. O paralelo entre o início do século atual e com o passado não termina aqui: em São Paulo, a agitação da cultura era tanta que surgiu a Semana de 1922, um dos mais criativos movimentos artísticos que se tem notícia no mundo. No cenário musical, tivemos o Charleston e as melindrosas da Belle Époque. Ao final da década de 1920, o Crash da Bolsa veio para bagunçar ainda mais o coreto.
Apesar dessa salada caótica, a sociedade encontrou uma caminho ao absorver mudanças e compreender o que deveria ser feito. É o que deverá acontecer por aqui, desde que repitamos o bom senso de nossos ancestrais e criemos uma forma de colocar o caos, aos poucos, em ordem.