O candidato perfeito à prefeitura
Qual seria o perfil ideal de prefeito para São Paulo, segundo a ótica da seção “Meu Tipo Inesquecível””?
Publicado em 13 de novembro de 2020 às, 08h46.
Desde adolescente tenho mania de ler publicações antigas. É uma forma instantânea de viajar no tempo, vendo penteados e modas do passado e absorvendo a forma pela qual os acontecimentos de antigamente eram interpretados pelos redatores das décadas pregressas. Quando garoto, de tempos em tempos folheava – e lia alguns artigos – da revista Seleções do Reader’s Digest. Neste periódico, havia uma seção recorrente, chamada “Meu Tipo Inesquecível”. Esses artigos retratavam pessoas comuns que tiveram influência na vida dos autores. Geralmente, falava-se apenas das qualidades e do caráter irretocável destes personagens, que, ao julgar pelo texto, estavam à beira da canonização ou precisariam de um estudo científico, tamanha a perfeição de suas personalidades.
Esses artigos me vieram à cabeça ontem, enquanto entrevistava o prefeito Bruno Covas, que concorre à reeleição em São Paulo. Depois da entrevista, refleti sobre o que seria um candidato perfeito ao cargo de alcaide. Qual seria o perfil ideal para esta posição, segundo a ótica da seção “Meu Tipo Inesquecível””?
Cheguei à conclusão de que um candidato à prefeitura chegaria à perfeição se preenchesse três pré-requisitos: grande conhecimento sobre a cidade e fosse um craque em zeladoria; orientação ideológica igual à minha; por fim, grande carisma, com liderança para unir a população local em momentos difíceis.
O conhecimento técnico em relação aos problemas da cidade é crucial, pois estamos falando de um cargo cuja principal atribuição é a administrar questões relacionadas à zeladoria do município. Afinal, como se diz por aí, buraco de rua não é filiado a partido político nenhum. Esse é um dos fatos que explicam o sucesso de João Doria no último pleito municipal. É verdade que Doria personificou melhor o anti-petismo que qualquer outro candidato – mas foi o seu discurso que martelava a frase “não sou político, sou gestor” que caiu no gosto do povo. Os eleitores viram alguém que estaria preocupado em zelar pela cidade e deram a Doria uma vitória em primeiro turno (depois, ele mostrou que o político engoliu o gestor ao deixar a prefeitura para se candidatar ao governo de São Paulo).
Algum verniz ideológico é importante na composição deste “tipo inesquecível” de prefeito. Vamos supor que exista um candidato que possua grande capacidade técnica, mas deseje aumentar a máquina pública – ou seja, tenha uma visão de esquerda ou keynesiana. Só que você é liberal e segue a cartilha de Ludwig Von Mises, Friedrich Hayek ou Milton Friedman. Ficará confortável em votar numa pessoa que apoia elevar os gastos públicos? Muito provavelmente não.
Por fim, nesta composição do perfil de um candidato que seja inesquecível, está o carisma. Nada é mais desanimador do que votar em um candidato que não tenha vida interior, sem mostrar adrenalina e energia. Nós gostamos de votar em quem arrebata nossas ideias. Naquelas pessoas que falam e, quando percebemos, estamos balançando a cabeça, em concordância – aquele momento em que percebemos, com prazer, que um candidato praticamente leu a sua mente ao dar uma declaração.
Essas três características combinadas tornam uma barbada a escolha do candidato impecável para essas eleições de 2020.
Pergunta-se: quantos candidatos você conhece que preencha essas qualidades? Nenhum? Pois é. Eu também.
Num cenário como o brasileiro, que carece de novos nomes na política e, principalmente, candidatos competentes, conseguir preencher dois quesitos já ajuda bastante. Talvez o carisma seja a característica mais dispensável de todas, embora seja aquela que ofereça maior brilho ao pacote como um todo.
Qualquer que seja sua escolha neste final de semana, lembre-se que seu dever cívico não se encerra quando apertar o botão “confirma”. É preciso cobrar, participar e criticar. Uma democracia não se constrói apenas pelo voto, mas também pelo engajamento de seus eleitores durante os mandatos. É o que Thomas Jefferson dizia: “Nós chegamos ao poder pelos votos da maioria; mas governamos de acordo com a maioria que participa ativamente da vida política”.