O Brasil precisa ser pacificado. Principais candidatos conseguirão?
Quando olhamos para os principais candidatos, algum deles reúne as características de um estadista? Ou teria condições de pacificar essa quizumba?
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2021 às 15h51.
Aluizio Falcão Filho
Estamos vivendo quase uma década de pesadas discussões políticas. Para ser exato, desde a segunda metade do primeiro mandato de Dilma Roussef. Os anos de Luiz Inácio Lula da Silva foram até sacudidos por alguns escândalos, como o Mensalão. Mas a economia com inflação estável e PIB crescente deixou o cenário político morno. Além disso, o PSDB – na época o principal adversário dos petistas – achou melhor deixar Lula sangrando do que investir em um impeachment, o que acabou contribuindo para a reeleição do então presidente.
Com o início da crise econômica de Dilma, um sentimento de antipetismo começou a crescer e ganhou corpo de vez com a Operação Lava-Jato. Aqui foi o nascedouro de um grupo conservador que começou a se manifestar de maneira mais explícita. Essa dualidade gerou debates que não ficaram apenas nos extremos. Muitos integrantes da centro-esquerda, do centro e da centro-direita entraram em várias discussões pesadas, que atingiram um nível máximo de tensão durante as eleições de 2018. Com o desenrolar do governo Jair Bolsonaro, no entanto, os debates voltaram a tomar corpo e temos novamente vários pontos de atrito, que tornaram o ano de 2022 muito tenso.
Por conta deste cenário, estamos vivendo em um país dividido em três grandes grupos. Os apoiadores de Lula, os de Bolsonaro e aqueles eleitores que não querem escolher nenhum dos dois. Esse último grupo até participa de determinados debates – mas o confronto mesmo está entre lulistas e bolsonaristas.
Não importa muito saber quem começou tudo isso, se petistas ou governistas. O fato é que esse tipo de pendenga precisa acabar ou perder um pouco de tração. Caso contrário, o cenário político ficará à mercê desta gangorra de acusações e insultos.
Quando olhamos para os principais candidatos, algum deles reúne as características de um estadista? Ou teria condições de pacificar essa quizumba?
Comecemos pelo presidente Bolsonaro. Trata-se de um político sem papas na língua, que prefere o embate ao silêncio. Caso seja reeleito, o presidente continuará a provocar a esquerda e aqueles que prezam o comportamento politicamente correto. Mas a esquerda não esperará ser provocada – e vai continuar a fazer uma oposição firme e incômoda.
E Lula? Em seus primeiros mandatos, ele foi a própria encarnação do Lulinha Paz e Amor. Trocou algumas farpas com os tucanos, é verdade, mas foi muito jeitoso com a classe empresarial e o mercado financeiro. Mas lembremos que o ex-presidente também anabolizava certas crises, como quando ameaçou expulsar do país o correspondente do New York Times no Brasil, o jornalista Larry Rohter. O jornalista escreveu um artigo no qual dizia que havia uma preocupação entre o empresariado com a quantidade de bebidas alcoólicas consumida por Lula (e, de fato, os empresários faziam esse comentário nesta época). De qualquer forma, se ele for eleito, terá de enfrentar a claque extremista de direita, que lhe fará oposição ferrenha.
Sergio Moro, caso seja eleito, também vai encarar uma montanha de críticos, vindo de apoiadores de Bolsonaro e de Lula. Mas a natureza do ex-juiz não parece ser a diplomacia. Durante a Lava-Jato, percebeu-se claramente que ele tinha uma posição e que estava engajado em colocar os corruptos na cadeia – mas, no meio do processo, cometeu exageros que foram condenados depois por uma parcela significativa da sociedade.
Ciro Gomes? Outro que tem um comportamento pendular, indo da docilidade aos gritos em questão de minutos. Em 2018, durante um debate organizado por uma instituição financeira, fez uma apresentação comedida. Mas, algum tempo depois, na entrevista coletiva, brigou com alguns jornalistas. Este tipo de atitude agressiva já foi testemunhadas várias vezes. Ou seja, de pacificador ele não tem nada.
Nos resta, pela lista dos cinco primeiros nas pesquisas, o governador João Doria. Caso vença, terá, como Moro, a oposição de petistas e bolsonaristas. Mas, além disso, o governador é apontado por seus críticos como uma pessoa teimosa, que demora muito para ouvir o contraditório – quando consegue escutar. Apesar da fala mansa, ele estaria aparelhado para pacificar o país? Talvez não.
O que precisamos, no fundo, é de um estadista. Alguém que consiga ter densidade eleitoral e, ao mesmo tempo, enxergue os principais problemas brasileiros e prepare a nossa geração para o futuro. O humanista e escritor do século 19, James Freeman Clarke, tinha uma boa definição do que seria um líder dessa estirpe, numa frase que é atribuída erroneamente a Abraham Lincoln. “O político pensa na próxima eleição; o estadista, na próxima geração”, dizia Clarke, talvez pensando no próprio Lincoln (imagem).
Esta mais que na hora de encontrarmos lideranças desse tipo no Brasil e deixarmos de nos preocupar apenas com os próximos quatro anos. Precisamos preparar este país para os nossos filhos e netos. Esse deveria ser o nosso legado.
Aluizio Falcão Filho
Estamos vivendo quase uma década de pesadas discussões políticas. Para ser exato, desde a segunda metade do primeiro mandato de Dilma Roussef. Os anos de Luiz Inácio Lula da Silva foram até sacudidos por alguns escândalos, como o Mensalão. Mas a economia com inflação estável e PIB crescente deixou o cenário político morno. Além disso, o PSDB – na época o principal adversário dos petistas – achou melhor deixar Lula sangrando do que investir em um impeachment, o que acabou contribuindo para a reeleição do então presidente.
Com o início da crise econômica de Dilma, um sentimento de antipetismo começou a crescer e ganhou corpo de vez com a Operação Lava-Jato. Aqui foi o nascedouro de um grupo conservador que começou a se manifestar de maneira mais explícita. Essa dualidade gerou debates que não ficaram apenas nos extremos. Muitos integrantes da centro-esquerda, do centro e da centro-direita entraram em várias discussões pesadas, que atingiram um nível máximo de tensão durante as eleições de 2018. Com o desenrolar do governo Jair Bolsonaro, no entanto, os debates voltaram a tomar corpo e temos novamente vários pontos de atrito, que tornaram o ano de 2022 muito tenso.
Por conta deste cenário, estamos vivendo em um país dividido em três grandes grupos. Os apoiadores de Lula, os de Bolsonaro e aqueles eleitores que não querem escolher nenhum dos dois. Esse último grupo até participa de determinados debates – mas o confronto mesmo está entre lulistas e bolsonaristas.
Não importa muito saber quem começou tudo isso, se petistas ou governistas. O fato é que esse tipo de pendenga precisa acabar ou perder um pouco de tração. Caso contrário, o cenário político ficará à mercê desta gangorra de acusações e insultos.
Quando olhamos para os principais candidatos, algum deles reúne as características de um estadista? Ou teria condições de pacificar essa quizumba?
Comecemos pelo presidente Bolsonaro. Trata-se de um político sem papas na língua, que prefere o embate ao silêncio. Caso seja reeleito, o presidente continuará a provocar a esquerda e aqueles que prezam o comportamento politicamente correto. Mas a esquerda não esperará ser provocada – e vai continuar a fazer uma oposição firme e incômoda.
E Lula? Em seus primeiros mandatos, ele foi a própria encarnação do Lulinha Paz e Amor. Trocou algumas farpas com os tucanos, é verdade, mas foi muito jeitoso com a classe empresarial e o mercado financeiro. Mas lembremos que o ex-presidente também anabolizava certas crises, como quando ameaçou expulsar do país o correspondente do New York Times no Brasil, o jornalista Larry Rohter. O jornalista escreveu um artigo no qual dizia que havia uma preocupação entre o empresariado com a quantidade de bebidas alcoólicas consumida por Lula (e, de fato, os empresários faziam esse comentário nesta época). De qualquer forma, se ele for eleito, terá de enfrentar a claque extremista de direita, que lhe fará oposição ferrenha.
Sergio Moro, caso seja eleito, também vai encarar uma montanha de críticos, vindo de apoiadores de Bolsonaro e de Lula. Mas a natureza do ex-juiz não parece ser a diplomacia. Durante a Lava-Jato, percebeu-se claramente que ele tinha uma posição e que estava engajado em colocar os corruptos na cadeia – mas, no meio do processo, cometeu exageros que foram condenados depois por uma parcela significativa da sociedade.
Ciro Gomes? Outro que tem um comportamento pendular, indo da docilidade aos gritos em questão de minutos. Em 2018, durante um debate organizado por uma instituição financeira, fez uma apresentação comedida. Mas, algum tempo depois, na entrevista coletiva, brigou com alguns jornalistas. Este tipo de atitude agressiva já foi testemunhadas várias vezes. Ou seja, de pacificador ele não tem nada.
Nos resta, pela lista dos cinco primeiros nas pesquisas, o governador João Doria. Caso vença, terá, como Moro, a oposição de petistas e bolsonaristas. Mas, além disso, o governador é apontado por seus críticos como uma pessoa teimosa, que demora muito para ouvir o contraditório – quando consegue escutar. Apesar da fala mansa, ele estaria aparelhado para pacificar o país? Talvez não.
O que precisamos, no fundo, é de um estadista. Alguém que consiga ter densidade eleitoral e, ao mesmo tempo, enxergue os principais problemas brasileiros e prepare a nossa geração para o futuro. O humanista e escritor do século 19, James Freeman Clarke, tinha uma boa definição do que seria um líder dessa estirpe, numa frase que é atribuída erroneamente a Abraham Lincoln. “O político pensa na próxima eleição; o estadista, na próxima geração”, dizia Clarke, talvez pensando no próprio Lincoln (imagem).
Esta mais que na hora de encontrarmos lideranças desse tipo no Brasil e deixarmos de nos preocupar apenas com os próximos quatro anos. Precisamos preparar este país para os nossos filhos e netos. Esse deveria ser o nosso legado.