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O Brasil é um dos campeões em "impulso fiscal"

O governo usou gastos públicos para turbinar o consumo e provocar o crescimento do PIB

O governo usou gastos públicos para turbinar o consumo e provocar o crescimento do PIB (Thinkstock)

Publicado em 22 de novembro de 2024 às 13h50.

Muitos empresários não entendem a performance da economia brasileira, que vai apresentar um crescimento do Produto Interno Bruto superior a 3,3% em 2024. Isso acontece porque os resultados de muitas empresas não refletem o aumento do PIB. Uma das explicações para o desempenho econômico nacional talvez esteja no conceito de “impulso fiscal” usado pelo Fundo Monetário Internacional.

O que é isso?

É uma forma de medir como a política fiscal de um país está influenciando a economia. Se o governo está gastando mais ou diminuindo impostos para estimular a economia, isso é chamado de impulso fiscal expansionista. Se está cortando gastos ou aumentando impostos para desacelerar a economia, é chamado de impulso fiscal contracionista.

Ou seja, o impulso fiscal ajuda a entender se o governo está tentando anabolizar a economia ou acelerar o crescimento econômico através dos gastos públicos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde o início de seu mandato, reforçou o Bolsa Família, reajustou os salários dos servidores federais (congelados há sete anos) e aumentou o salário-mínimo acima da inflação, impactando os benefícios pagos pela Previdência oficial.

O resultado dessas medidas foi o aumento do consumo, que deu impulso ao PIB desde 2023. Neste quesito, o Brasil é o sétimo país no ranking do FMI das nações que mais deram impulso fiscal à economia. À frente dele, estão Israel, Turquia, Catar, Eslováquia, Noruega e Cazaquistão.

Mas o aumento do déficit público brasileiro não tem a ver apenas com a intenção de turbinar o PIB. O Brasil teve de pagar quase R$ 1 bilhão em precatórios, resultado da PEC Kamikaze de 2022, e precisou lidar com a tragédia climática no Rio Grande do Sul. Esses dois tópicos não entram para o cálculo da meta fiscal. Mas elevaram a dívida pública e inflaram o impulso fiscal calculado pelos analistas do FMI.

Esses dados mostram que a necessidade de se cortar despesas públicas é urgente e a divulgação de um pacote neste sentido já deveria ter sido feita há muito tempo. Infelizmente, o presidente Lula atrasou demais o anúncio desse pacote e fez questão de colocar um tempero ideológico em uma discussão que deveria ser meramente técnica.

Não é a primeira vez que o Brasil tenta deixar a economia robusta através de gestos públicos que fortalecem o consumo. A última vez que experimentamos esse ciclo foi durante o governo de Dilma Rousseff, que jogou o país em um cenário econômico pernicioso: a estagflação.

Impressionante como o presidente Lula, com seus 79 anos, ainda não tenha percebido até agora os riscos de repetir uma política que fracassou no passado recente. A economia brasileira é resiliente e sólida. Mas o governo está abusando da sorte ao desprezar os fundamentos mais básicos da ciência econômica ao gastar mais do que deve.

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Muitos empresários não entendem a performance da economia brasileira, que vai apresentar um crescimento do Produto Interno Bruto superior a 3,3% em 2024. Isso acontece porque os resultados de muitas empresas não refletem o aumento do PIB. Uma das explicações para o desempenho econômico nacional talvez esteja no conceito de “impulso fiscal” usado pelo Fundo Monetário Internacional.

O que é isso?

É uma forma de medir como a política fiscal de um país está influenciando a economia. Se o governo está gastando mais ou diminuindo impostos para estimular a economia, isso é chamado de impulso fiscal expansionista. Se está cortando gastos ou aumentando impostos para desacelerar a economia, é chamado de impulso fiscal contracionista.

Ou seja, o impulso fiscal ajuda a entender se o governo está tentando anabolizar a economia ou acelerar o crescimento econômico através dos gastos públicos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde o início de seu mandato, reforçou o Bolsa Família, reajustou os salários dos servidores federais (congelados há sete anos) e aumentou o salário-mínimo acima da inflação, impactando os benefícios pagos pela Previdência oficial.

O resultado dessas medidas foi o aumento do consumo, que deu impulso ao PIB desde 2023. Neste quesito, o Brasil é o sétimo país no ranking do FMI das nações que mais deram impulso fiscal à economia. À frente dele, estão Israel, Turquia, Catar, Eslováquia, Noruega e Cazaquistão.

Mas o aumento do déficit público brasileiro não tem a ver apenas com a intenção de turbinar o PIB. O Brasil teve de pagar quase R$ 1 bilhão em precatórios, resultado da PEC Kamikaze de 2022, e precisou lidar com a tragédia climática no Rio Grande do Sul. Esses dois tópicos não entram para o cálculo da meta fiscal. Mas elevaram a dívida pública e inflaram o impulso fiscal calculado pelos analistas do FMI.

Esses dados mostram que a necessidade de se cortar despesas públicas é urgente e a divulgação de um pacote neste sentido já deveria ter sido feita há muito tempo. Infelizmente, o presidente Lula atrasou demais o anúncio desse pacote e fez questão de colocar um tempero ideológico em uma discussão que deveria ser meramente técnica.

Não é a primeira vez que o Brasil tenta deixar a economia robusta através de gestos públicos que fortalecem o consumo. A última vez que experimentamos esse ciclo foi durante o governo de Dilma Rousseff, que jogou o país em um cenário econômico pernicioso: a estagflação.

Impressionante como o presidente Lula, com seus 79 anos, ainda não tenha percebido até agora os riscos de repetir uma política que fracassou no passado recente. A economia brasileira é resiliente e sólida. Mas o governo está abusando da sorte ao desprezar os fundamentos mais básicos da ciência econômica ao gastar mais do que deve.

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