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O apagão do Google mostra que acessamos sempre a mesma coisa da web

Este blecaute e o tombo generalizado no tráfego da internet no planeta descortinam um fenômeno pouco discutido – a concentração de audiência na web

BERLIN, GERMANY - APRIL 22: The logo of the webbrowser Google Chrome is shown on the display of a smartphone on April 22, 2020 in Berlin, Germany. (Photo by Thomas Trutschel/Photothek via Getty Images) (Thomas Trutschel / Colaborador/Getty Images)
BERLIN, GERMANY - APRIL 22: The logo of the webbrowser Google Chrome is shown on the display of a smartphone on April 22, 2020 in Berlin, Germany. (Photo by Thomas Trutschel/Photothek via Getty Images) (Thomas Trutschel / Colaborador/Getty Images)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 14 de dezembro de 2020 às, 14h42.

Hoje, por alguns minutos, o Google e suas principais ferramentas (YouTube e Gmail, por exemplo) ficaram fora do ar por cinco minutos. O resultado deste apagão foi uma queda na audiência global de 40 %. Este blecaute e o tombo generalizado no tráfego da internet no planeta descortinam um fenômeno pouco discutido – a concentração de audiência na web.

Uma só empresa representa 40 % de toda a audiência global. Isso é o equivalente ao índice de público espectador do Superbowl americano – ou das boas audiências da TV Globo. Curiosamente, no nascedouro da Internet, muitos analistas vaticinavam que dificilmente haveria veículos que pudessem concentrar um grande número de usuários, dado o caráter internacional da rede e da quantidade astronômica de opções de conteúdo ou de utilidade.

Vamos imaginar, agora, que além da família Google também saíssem do ar Facebook e Instagram, TikTok, Wikipedia, WhatsApp, serviços da Microsoft (Live.com, MSN), Twitter e Amazon. Talvez a soma de todos esses sites e aplicativos chegue a 80 % de todo o tráfego da rede. Trata-se de um palpite, mas isso não deve estar muito longe da realidade, o que mostra que a maioria dos usuários digitais têm uma rede diminuta para capturar informações. O grosso dessa captura vem de poucas fontes.

Vamos fazer um exercício pessoal. Quanto tempo vocês dedicam à internet diariamente? No meu caso, esse volume ultrapassa, fácil, cinco horas por dia. Destas horas, quanto vai para cada site? Voltando à minha rotina: fico bastante nas redes sociais, ferramentas do Google e nos serviços informativos. Por conta do jornalismo online, eu provavelmente não tenha uma concentração tão grande de consultas como o usuário médio.

A queda provocada pelo engasgo nos servidores do Google, no entanto, mostra o quanto a humanidade se sente bem em ambientes conhecidos, sejam eles físicos ou não. É como visitar um restaurante do qual se é habitué: você é chamado pelo nome pelos maitres, conhece o cardápio e tem até suas opções favoritas. Não há grandes surpresas, mas o aconchego da familiaridade compensa a não existência de deleites repentinos.

O que nos move em direção a algo que já conhecemos? O que nos faz revisitar o Google e não arriscar outro mecanismo de busca, como o Yahoo, por exemplo?

O Yahoo já foi onipresente antes do surgimento do Google e perdeu seu espaço. Naquela época, o mecanismo escolhido pelo serviço número 1 era muito lerdo e sem precisão comparado como novo que aparecia (a grande sacada do Google foi pré-armazenar as buscas e dirigi-las diretamente aos próprios servidores. Dessa forma, é possível obter uma reposta em, por exemplo, 0,01 segundo. O público experimentou e gostou. Ficou no Google e de lá não saiu, apesar de o Yahoo ter reformulado seu sistema e ser, hoje, muito parecido com o do concorrente.

Uma vez se sentindo confortável com o novo ambiente, dificilmente os usuários fazem novas procuras. Faço uma nova questão: há quanto tempo vocês não atualizam a sua lista de URLs favoritas no browser (no caso do Chrome, mais um produto do Google, esse recurso encontra-se sob a alcunha de “bookmark”)?

Arrisco dizer que a maioria esmagadora não atualiza essa lista há mais de um ano – e até havia se esquecido de sua existência.

Isso reflete a acomodação que a rede digital pode oferecer às pessoas. Mas, na verdade, quem se aproveita melhor da internet são aqueles que estão sempre em movimento, pesquisando coisas novas, sem navegar necessariamente ao sabor das modas. Como disse Winston Churchill, “uma pipa sobe contra o vento e não a favor dele”. Ao explorarmos a pluralidade e a enormidade de opções que temos na internet, vamos crescer como indivíduos, profissionais e cidadãos. Mas, se ficarmos sempre acessando os mesmos sites, corremos o risco de estagnarmos intelectualmente – um perigo enorme para quem enfrenta tempos de mudança contínua.