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Neste domingo, vencedores vão provocar perdedores?

O clima político que se instalou no Brasil fez muita gente acreditar que aqueles que vão votar em outro candidato são oponentes figadais

(Evaristo Sa/AFP/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2022 às 22h03.

A língua alemã tem um conceito interessante: muitos termos são construídos a partir do ajuntamento de outras palavras: “versicherungsgesellschaft” segue essa fórmula. “Schaft”, por exemplo, quer dizer “haste”; já o significado de “gesell” é “social”. Juntas, essas palavras significam “sociedade”. “Versicherungs”, por fim, é o equivalente alemão para ’seguros”. Portanto, “Versicherungsgesellschaft” quer dizer “companhia de seguros”.

Essa mistura acaba gerando resultados curiosos do ponto de vista cultural. Quer uma amostra? Vamos lá. Quando juntamos as palavras “schaden” e “freude” criamos a expressão “schadenfreude”. Literalmente, isso quer dizer “a alegria do dano”. Trata-se de um sentimento de prazer que alguém tem ao testemunhar a desgraça de um inimigo. Seria o avesso do avesso da inveja, que faz alguém corroer-se por dentro diante do sucesso dos desafetos.

Trata-se de um sentimento vil. Ele vem no momento em que as pessoas, internamente, tripudiam da dificuldade alheia. Mas, enquanto riem desbragadamente por dentro, fazem uma cara de conteúdo para consumo externo. Embora indigna, essa talvez seja uma das experiências das satisfatórias que um ser humano pode experimentar durante a vida. Ver a desgraça de quem lhe fez mal pode não ter preço.

Mas, às vezes, é um sentimento que é dirigido a amigos. Como assim? Quem nunca mandou um post no grupo de WhatsApp desopilando o fígado quando seu time derrota a equipe dos outros? Atire a primeira pedra quem nunca fez essa traquinagem.

O clima político que se instalou no Brasil fez muita gente acreditar que aqueles que pensam diferente ou que vão votar em outro candidato são oponentes figadais. Um adversário eleitoral, no entanto, não é necessariamente um inimigo. Neste mundo em que nos acostumamos à banalização do mal, porém, nossos oponentes ideológicos são colocados em uma lista de rivais imperdoáveis.

Vamos exercer o direito inalienável de escolher nossos representantes na cena política neste domingo – e esperar mais quatro semanas para definir, se houver segundo turno, quem comandará o Brasil pelos próximos quatro anos.

Depois que o resultado for divulgado, será o momento perfeito para cutucar, fustigar e depreciar aqueles que estão em um espectro ideológico oposto ao nosso e perderam a eleição. Será a redenção de quem ficou brigando cerca de quatro anos nas redes sociais, colocando o dedo na ferida alheia e provocando quem tem ideias políticas diversas.

Vamos supor que seu candidato vença e que você sinta um impulso irresistível de se levar pela “schadenfreude” e extravasar esse sentimento, colocando para fora todas as suas frustrações dos últimos tempos.

Antes que isso aconteça e uma provocação desnecessária ocorra, gostaria de fazer uma sugestão: conte até dez e deixe essa vontade passar.

Assim, se, em 30 de outubro (ou mesmo no dia 2) seu candidato vencer, fica aqui o convite ao autocontrole e ao comedimento.

O postulante em questão, se vencedor, será o presidente de todos os brasileiros. Se esticarmos a corda e criarmos um sentimento de terceiro turno, nosso país nunca terá paz. Sempre estaremos às turras com nossos adversários e sem capacidade de união. Seremos um país no qual a briga dos extremos será o que importa – não o futuro da nação e de nossas crianças. Aqui, portanto, vai um apelo aos vencedores: sejam guiados por sentimentos nobres e não provoquem aqueles que estão lambendo suas feridas. Vamos estender a mão – não o punho.

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A língua alemã tem um conceito interessante: muitos termos são construídos a partir do ajuntamento de outras palavras: “versicherungsgesellschaft” segue essa fórmula. “Schaft”, por exemplo, quer dizer “haste”; já o significado de “gesell” é “social”. Juntas, essas palavras significam “sociedade”. “Versicherungs”, por fim, é o equivalente alemão para ’seguros”. Portanto, “Versicherungsgesellschaft” quer dizer “companhia de seguros”.

Essa mistura acaba gerando resultados curiosos do ponto de vista cultural. Quer uma amostra? Vamos lá. Quando juntamos as palavras “schaden” e “freude” criamos a expressão “schadenfreude”. Literalmente, isso quer dizer “a alegria do dano”. Trata-se de um sentimento de prazer que alguém tem ao testemunhar a desgraça de um inimigo. Seria o avesso do avesso da inveja, que faz alguém corroer-se por dentro diante do sucesso dos desafetos.

Trata-se de um sentimento vil. Ele vem no momento em que as pessoas, internamente, tripudiam da dificuldade alheia. Mas, enquanto riem desbragadamente por dentro, fazem uma cara de conteúdo para consumo externo. Embora indigna, essa talvez seja uma das experiências das satisfatórias que um ser humano pode experimentar durante a vida. Ver a desgraça de quem lhe fez mal pode não ter preço.

Mas, às vezes, é um sentimento que é dirigido a amigos. Como assim? Quem nunca mandou um post no grupo de WhatsApp desopilando o fígado quando seu time derrota a equipe dos outros? Atire a primeira pedra quem nunca fez essa traquinagem.

O clima político que se instalou no Brasil fez muita gente acreditar que aqueles que pensam diferente ou que vão votar em outro candidato são oponentes figadais. Um adversário eleitoral, no entanto, não é necessariamente um inimigo. Neste mundo em que nos acostumamos à banalização do mal, porém, nossos oponentes ideológicos são colocados em uma lista de rivais imperdoáveis.

Vamos exercer o direito inalienável de escolher nossos representantes na cena política neste domingo – e esperar mais quatro semanas para definir, se houver segundo turno, quem comandará o Brasil pelos próximos quatro anos.

Depois que o resultado for divulgado, será o momento perfeito para cutucar, fustigar e depreciar aqueles que estão em um espectro ideológico oposto ao nosso e perderam a eleição. Será a redenção de quem ficou brigando cerca de quatro anos nas redes sociais, colocando o dedo na ferida alheia e provocando quem tem ideias políticas diversas.

Vamos supor que seu candidato vença e que você sinta um impulso irresistível de se levar pela “schadenfreude” e extravasar esse sentimento, colocando para fora todas as suas frustrações dos últimos tempos.

Antes que isso aconteça e uma provocação desnecessária ocorra, gostaria de fazer uma sugestão: conte até dez e deixe essa vontade passar.

Assim, se, em 30 de outubro (ou mesmo no dia 2) seu candidato vencer, fica aqui o convite ao autocontrole e ao comedimento.

O postulante em questão, se vencedor, será o presidente de todos os brasileiros. Se esticarmos a corda e criarmos um sentimento de terceiro turno, nosso país nunca terá paz. Sempre estaremos às turras com nossos adversários e sem capacidade de união. Seremos um país no qual a briga dos extremos será o que importa – não o futuro da nação e de nossas crianças. Aqui, portanto, vai um apelo aos vencedores: sejam guiados por sentimentos nobres e não provoquem aqueles que estão lambendo suas feridas. Vamos estender a mão – não o punho.

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