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Minhas impressões sobre o candidato Tarcísio de Freitas

Ninguém passa por governos tão distintos como Dilma, Temer e Bolsonaro sem grande traquejo

Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas no CEO Conference Brasil 2022 (BTG Pactual/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2022 às 11h38.

Aluizio Falcão Filho

Homens públicos com origem na tecnocracia costumam ser pragmáticos – e o ex-ministro Tarcísio de Freitas não foge à regra. Na última sexta-feira, pude entrevistá-lo e ver sua performance diante das perguntas de uma plateia composta por empresários e CEOs. Freitas tem desenvoltura e, na maioria das vezes, responde diretamente o que lhe é perguntado. Quando quer desviar do assunto, o faz com uma provocação ou elencando dados de outro tema.

É um técnico, mas parece ter sido forjado para o jogo político. Até então, tinha guardado estes atributos para os bastidores do poder. Afinal, ninguém fica em Brasília passando por governos tão distintos como Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro se não tiver grande traquejo. Agora, usa essa habilidade para se viabilizar como candidato ao governo do estado de São Paulo.

O primeiro empurrão, curiosamente, foi dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que trouxe o ex-governador Geraldo Alckmin para ocupar a vice-presidência de sua chapa. Ao pinçar Alckmin da disputa pelo Palácio do Bandeirantes, deixou incerta uma eleição estadual praticamente decidida.

Lula atirou no que viu (dar mais chances à candidatura de Fernando Haddad) e acertou no que não viu (elevar as possibilidades do próprio Tarcísio e do atual governador Rodrigo Garcia, que substituiu João Doria, que ainda é pré-candidato à presidência pelo PSDB). O ex-ministro, que estava reticente em relação à sucessão paulista, acabou se animando com as perspectivas que se abriram – uma pesquisa da TV Record divulgada na semana passada, o coloca em segundo lugar nas intenções de votos dos paulistas, com 14 %, empatado com Marcio França. Haddad está em primeiro, com 27 % e Garcia aparece com 6 %.

França não deve ser candidato, por conta da coligação entre seu partido, PSB, e o PT. Mas isso não quer dizer que seu capital eleitoral possa ser somado integralmente ao de Haddad. O ex-governador é, antes de mais nada, um nome anti-Doria em São Paulo. Uma parte de seus votos poderá ir para o PT, é claro. Mas uma fatia substancial deve migrar para Tarcísio.

Haddad deverá perder para quem o enfrentar no segundo turno, por conta do eleitorado do interior. Sua única chance seria conseguir vencer no primeiro turno. Mas, para isso, teria de contar com um nível altíssimo de abstenção e uma votação superior à qual o PT obtém historicamente no estado. Ou seja, as chances são baixas.

Garcia deverá crescer, até porque tem um relacionamento excepcional com a maioria das prefeituras do interior. Mas estar aboletado no Bandeirantes não é sinônimo de vitória – o próprio Márcio França foi derrotado por João Doria enquanto governador em exercício.

Tarcísio é um nome que agrada o empresariado por várias razões. Em primeiro lugar, conquistou simpatias nos três anos e três meses em que esteve à frente do Ministério da Infraestrutura. Também agradou por ter afirmado que estrutura pública deve desinchar para reduzir tributos estaduais – e que o caminho natural para a Sabesp seria a privatização.

Seu discurso é firme e suas críticas ao PT e ao PSDB são feitas em um tom de voz sem arroubos emocionais. Neste sentido, ele não é um candidato bolsonarista típico, pois não entra muito em embates ideológicos e prefere rechear seus argumentos com números e dados, sempre em uma linguagem acessível e fácil. Se manterá assim até o final da campanha, sem apelar para os clichês repetidos pelos apoiadores do presidente Bolsonaro? A conferir.

Sobre seu suposto desconhecimento a respeito das necessidades de São Paulo, ele não tem vergonha de admitir que há certos problemas estaduais que cujo teor não domina. Mas, ao mesmo tempo, possui a humildade de pedir opiniões e sugestões sobre esses assuntos.

Um trecho de minha entrevista viralizou pelas redes sociais. Trata-se de uma pergunta que fiz sobre seus planos em relação à segurança pública de São Paulo. Sua resposta foi a de atacar o crime organizado, pois governadores do passado teriam feito um pacto com os criminosos na linha “não mexa conosco que não mexeremos com você”. Esse é um assunto que deixa o eleitor interessado e que pode movimentar a campanha.

Em um determinado momento do colóquio, Tarcísio falou sobre o presidente Bolsonaro e discorreu algumas explicações sobre o que seria uma grande popularidade do mandatário. Contrapus que os índices de reprovação a Bolsonaro, ao contrário, eram altos. Como bom político, saiu pela tangente.

Mas a associação a Jair Bolsonaro é seu calcanhar de Aquiles.

Uma pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada no sábado, mostra que 56,6% dos paulistas não votariam de jeito nenhum no presidente. Além disso, a administração federal é reprovada por 55,1% dos eleitores de São Paulo. Parte desses eleitores pode rejeitar Tarcísio em função de Bolsonaro.

Mas, neste quesito, ele está melhor que Rodrigo Garcia. O ex-governador João Doria, que será associado na campanha ao atual ocupante do Bandeirantes, é rejeitado por 71,4% dos eleitores do estado.

Dessa forma, os dois devem fazer campanhas sem citar muito os padrinhos políticos. Mas as propagandas adversárias vão lembrar e relembrar essa ligação. Na ponta dos números, pelo menos agora, Garcia está em desvantagem em relação a Tarcísio. Isso vai se manter assim? Também a conferir.

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Aluizio Falcão Filho

Homens públicos com origem na tecnocracia costumam ser pragmáticos – e o ex-ministro Tarcísio de Freitas não foge à regra. Na última sexta-feira, pude entrevistá-lo e ver sua performance diante das perguntas de uma plateia composta por empresários e CEOs. Freitas tem desenvoltura e, na maioria das vezes, responde diretamente o que lhe é perguntado. Quando quer desviar do assunto, o faz com uma provocação ou elencando dados de outro tema.

É um técnico, mas parece ter sido forjado para o jogo político. Até então, tinha guardado estes atributos para os bastidores do poder. Afinal, ninguém fica em Brasília passando por governos tão distintos como Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro se não tiver grande traquejo. Agora, usa essa habilidade para se viabilizar como candidato ao governo do estado de São Paulo.

O primeiro empurrão, curiosamente, foi dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que trouxe o ex-governador Geraldo Alckmin para ocupar a vice-presidência de sua chapa. Ao pinçar Alckmin da disputa pelo Palácio do Bandeirantes, deixou incerta uma eleição estadual praticamente decidida.

Lula atirou no que viu (dar mais chances à candidatura de Fernando Haddad) e acertou no que não viu (elevar as possibilidades do próprio Tarcísio e do atual governador Rodrigo Garcia, que substituiu João Doria, que ainda é pré-candidato à presidência pelo PSDB). O ex-ministro, que estava reticente em relação à sucessão paulista, acabou se animando com as perspectivas que se abriram – uma pesquisa da TV Record divulgada na semana passada, o coloca em segundo lugar nas intenções de votos dos paulistas, com 14 %, empatado com Marcio França. Haddad está em primeiro, com 27 % e Garcia aparece com 6 %.

França não deve ser candidato, por conta da coligação entre seu partido, PSB, e o PT. Mas isso não quer dizer que seu capital eleitoral possa ser somado integralmente ao de Haddad. O ex-governador é, antes de mais nada, um nome anti-Doria em São Paulo. Uma parte de seus votos poderá ir para o PT, é claro. Mas uma fatia substancial deve migrar para Tarcísio.

Haddad deverá perder para quem o enfrentar no segundo turno, por conta do eleitorado do interior. Sua única chance seria conseguir vencer no primeiro turno. Mas, para isso, teria de contar com um nível altíssimo de abstenção e uma votação superior à qual o PT obtém historicamente no estado. Ou seja, as chances são baixas.

Garcia deverá crescer, até porque tem um relacionamento excepcional com a maioria das prefeituras do interior. Mas estar aboletado no Bandeirantes não é sinônimo de vitória – o próprio Márcio França foi derrotado por João Doria enquanto governador em exercício.

Tarcísio é um nome que agrada o empresariado por várias razões. Em primeiro lugar, conquistou simpatias nos três anos e três meses em que esteve à frente do Ministério da Infraestrutura. Também agradou por ter afirmado que estrutura pública deve desinchar para reduzir tributos estaduais – e que o caminho natural para a Sabesp seria a privatização.

Seu discurso é firme e suas críticas ao PT e ao PSDB são feitas em um tom de voz sem arroubos emocionais. Neste sentido, ele não é um candidato bolsonarista típico, pois não entra muito em embates ideológicos e prefere rechear seus argumentos com números e dados, sempre em uma linguagem acessível e fácil. Se manterá assim até o final da campanha, sem apelar para os clichês repetidos pelos apoiadores do presidente Bolsonaro? A conferir.

Sobre seu suposto desconhecimento a respeito das necessidades de São Paulo, ele não tem vergonha de admitir que há certos problemas estaduais que cujo teor não domina. Mas, ao mesmo tempo, possui a humildade de pedir opiniões e sugestões sobre esses assuntos.

Um trecho de minha entrevista viralizou pelas redes sociais. Trata-se de uma pergunta que fiz sobre seus planos em relação à segurança pública de São Paulo. Sua resposta foi a de atacar o crime organizado, pois governadores do passado teriam feito um pacto com os criminosos na linha “não mexa conosco que não mexeremos com você”. Esse é um assunto que deixa o eleitor interessado e que pode movimentar a campanha.

Em um determinado momento do colóquio, Tarcísio falou sobre o presidente Bolsonaro e discorreu algumas explicações sobre o que seria uma grande popularidade do mandatário. Contrapus que os índices de reprovação a Bolsonaro, ao contrário, eram altos. Como bom político, saiu pela tangente.

Mas a associação a Jair Bolsonaro é seu calcanhar de Aquiles.

Uma pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada no sábado, mostra que 56,6% dos paulistas não votariam de jeito nenhum no presidente. Além disso, a administração federal é reprovada por 55,1% dos eleitores de São Paulo. Parte desses eleitores pode rejeitar Tarcísio em função de Bolsonaro.

Mas, neste quesito, ele está melhor que Rodrigo Garcia. O ex-governador João Doria, que será associado na campanha ao atual ocupante do Bandeirantes, é rejeitado por 71,4% dos eleitores do estado.

Dessa forma, os dois devem fazer campanhas sem citar muito os padrinhos políticos. Mas as propagandas adversárias vão lembrar e relembrar essa ligação. Na ponta dos números, pelo menos agora, Garcia está em desvantagem em relação a Tarcísio. Isso vai se manter assim? Também a conferir.

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