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Minhas impressões durante a entrevista com o candidato Moro

Dias atrás, tive a oportunidade de entrevistar Moro e moderar um debate com empresários filiados ao grupo MONEY REPORT – Agenda de Líderes

Sergio Moro. (Podemos/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 2 de março de 2022 às 13h55.

Por Aluizio Falcão Filho

Conheci Sergio Moro no evento Person of the Year, realizado em 2018, no auge da Operação Lava-Jato. Discreto e distante, ele era cuidadoso em suas palavras e apresentava uma modulação vocal inconveniente, típica dos adolescentes. O forte sotaque paranaense e um gosto por camisas escuras também compunham a figura do então juiz que desafiava vários políticos que tinham se acostumado com a impunidade e o dinheiro fácil da corrupção.

Dias atrás, tive a oportunidade de entrevistar Moro e moderar um debate com empresários filiados ao grupo MONEY REPORT – Agenda de Líderes. A diferença entre o juiz de 2018 e o candidato de 2022 é gritante. Os efeitos das aulas de fonoaudiologia são visíveis. O ex-ministro está mais seguro em suas intervenções e dificilmente perde o controle da voz. Precisa ainda melhorar, é claro, mas mostrou uma evolução enorme neste quesito.

O Moro versão 2022 também está mais sociável (e vestido de maneira informal, usando até sapatênis). Conversou com todos e distribuiu sorrisos. Conseguiu encantar a plateia e foi cercado ao final, gastando uns vinte minutos para tirar fotos – incluindo a equipe técnica e de montagem dos equipamentos (algo que não tinha visto desde 2018, quando já fazíamos esse tipo de evento com candidatos à presidência).

Mostrou autocontrole nas perguntas difíceis e não deu respostas evasivas. Quando o questionei sobre eventuais excessos da Lava-Jato e o receio de que ele, como presidente, poderia desrespeitar o Estado de Direito, a resposta foi a seguinte: “Veja a minha atuação como ministro da Justiça. Eu não fui um “super tira”. […] Há limites para isso”.

Moro diz ter orgulho da Lava-Jato – mas não ficou apenas falando de corrupção. Mostrou bastante desenvoltura ao se dizer liberal e que é favorável a uma onda de privatizações. Disse que Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica podem ser privatizados – mas que isso não depende apenas de um presidente da República e que o tema precisa ser debatido com o Congresso. Também disse que a preservação do meio ambiente não significa necessariamente atravancar o agronegócio, o que agradou em empresários do setor que estavam na plateia.

Criticou a invasão da Ucrânia e afirmou que a posição diplomática do Brasil em relação ao tema deverão ser mais dura. E, no plano político, afirmou que – se eleito – vai encaminhar uma PEC acabando com o mecanismo da reeleição. “Uma vez eleito, a prioridade do presidente desde o começo é ser reconduzido ao cargo”, disse. “Isso simplesmente não deu certo no Brasil”.

Sobre a Terceira Via, disse que está aberto a eventuais adesões à sua candidatura para fazer frente aos líderes das pesquisas. “Mas estou em terceiro lugar. Não faria sentido eu dar lugar a quem tem 2 % nas pesquisas”, ponderou, em um recado direto ao governador João Doria. Quando a uma possível aliança com Ciro Gomes, disse estar aberto ao diálogo.

A candidatura de Sergio Moro tem dois problemas. O primeiro é estar estacionada quase no mesmo patamar há um bom tempo. Ele precisa crescer rapidamente se quiser chegar ao Segundo Turno. Além disso, precisa reduzir seus índices de rejeição, ainda altos. Como ele é um desafeto da esquerda, por ter prendido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ter saído atirando do governo Jair Bolsonaro, desagradando a direita mais conservadora, tem dificuldades para evoluir eleitoralmente. Um exemplo disso está na última pesquisa divulgada pela EXAME. Moro consegue bater Bolsonaro no segundo turno, por uma margem baixa (35% a 31%), mas teria de lidar com um nível altíssimo de brancos e nulos (29%) – além de 5 % e indecisos.

O treinamento pelo qual passou Moro deu verniz à candidatura e poliu seu discurso, que passou a ser mais abrangente e a agradar o formador de opinião. Mas sua mensagem ainda precisa chegar rapidamente à classe trabalhadora das capitais e ter maior densidade no interior do país – sem isso, o candidato corre o risco de morrer na praia e ver seu projeto político adiado por mais quatro anos.

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Por Aluizio Falcão Filho

Conheci Sergio Moro no evento Person of the Year, realizado em 2018, no auge da Operação Lava-Jato. Discreto e distante, ele era cuidadoso em suas palavras e apresentava uma modulação vocal inconveniente, típica dos adolescentes. O forte sotaque paranaense e um gosto por camisas escuras também compunham a figura do então juiz que desafiava vários políticos que tinham se acostumado com a impunidade e o dinheiro fácil da corrupção.

Dias atrás, tive a oportunidade de entrevistar Moro e moderar um debate com empresários filiados ao grupo MONEY REPORT – Agenda de Líderes. A diferença entre o juiz de 2018 e o candidato de 2022 é gritante. Os efeitos das aulas de fonoaudiologia são visíveis. O ex-ministro está mais seguro em suas intervenções e dificilmente perde o controle da voz. Precisa ainda melhorar, é claro, mas mostrou uma evolução enorme neste quesito.

O Moro versão 2022 também está mais sociável (e vestido de maneira informal, usando até sapatênis). Conversou com todos e distribuiu sorrisos. Conseguiu encantar a plateia e foi cercado ao final, gastando uns vinte minutos para tirar fotos – incluindo a equipe técnica e de montagem dos equipamentos (algo que não tinha visto desde 2018, quando já fazíamos esse tipo de evento com candidatos à presidência).

Mostrou autocontrole nas perguntas difíceis e não deu respostas evasivas. Quando o questionei sobre eventuais excessos da Lava-Jato e o receio de que ele, como presidente, poderia desrespeitar o Estado de Direito, a resposta foi a seguinte: “Veja a minha atuação como ministro da Justiça. Eu não fui um “super tira”. […] Há limites para isso”.

Moro diz ter orgulho da Lava-Jato – mas não ficou apenas falando de corrupção. Mostrou bastante desenvoltura ao se dizer liberal e que é favorável a uma onda de privatizações. Disse que Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica podem ser privatizados – mas que isso não depende apenas de um presidente da República e que o tema precisa ser debatido com o Congresso. Também disse que a preservação do meio ambiente não significa necessariamente atravancar o agronegócio, o que agradou em empresários do setor que estavam na plateia.

Criticou a invasão da Ucrânia e afirmou que a posição diplomática do Brasil em relação ao tema deverão ser mais dura. E, no plano político, afirmou que – se eleito – vai encaminhar uma PEC acabando com o mecanismo da reeleição. “Uma vez eleito, a prioridade do presidente desde o começo é ser reconduzido ao cargo”, disse. “Isso simplesmente não deu certo no Brasil”.

Sobre a Terceira Via, disse que está aberto a eventuais adesões à sua candidatura para fazer frente aos líderes das pesquisas. “Mas estou em terceiro lugar. Não faria sentido eu dar lugar a quem tem 2 % nas pesquisas”, ponderou, em um recado direto ao governador João Doria. Quando a uma possível aliança com Ciro Gomes, disse estar aberto ao diálogo.

A candidatura de Sergio Moro tem dois problemas. O primeiro é estar estacionada quase no mesmo patamar há um bom tempo. Ele precisa crescer rapidamente se quiser chegar ao Segundo Turno. Além disso, precisa reduzir seus índices de rejeição, ainda altos. Como ele é um desafeto da esquerda, por ter prendido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ter saído atirando do governo Jair Bolsonaro, desagradando a direita mais conservadora, tem dificuldades para evoluir eleitoralmente. Um exemplo disso está na última pesquisa divulgada pela EXAME. Moro consegue bater Bolsonaro no segundo turno, por uma margem baixa (35% a 31%), mas teria de lidar com um nível altíssimo de brancos e nulos (29%) – além de 5 % e indecisos.

O treinamento pelo qual passou Moro deu verniz à candidatura e poliu seu discurso, que passou a ser mais abrangente e a agradar o formador de opinião. Mas sua mensagem ainda precisa chegar rapidamente à classe trabalhadora das capitais e ter maior densidade no interior do país – sem isso, o candidato corre o risco de morrer na praia e ver seu projeto político adiado por mais quatro anos.

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