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Martin Sorrell: quando a motivação do sucesso vem da raiva

Sorrell conquistou fama ao montar um verdadeiro império de propaganda e serviços de marketing em torno da holding WPP

Sir Martin Sorrell é uma das maiores lendas do mercado publicitário (Harry Murphy / Colaborador/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 4 de fevereiro de 2022 às 09h28.

Sir Martin Sorrell é uma das maiores lendas do mercado publicitário. Ele conquistou fama ao montar um verdadeiro império de propaganda e serviços de marketing em torno da holding WPP. Quando assumiu como CEO do grupo, em 1985, o valor do negócio, em dinheiro da época, era de 1 milhão de libras esterlinas (milhão, com a letra “m”). Ao deixar a companhia, seu valor de mercado era de 16 bilhões de libras (com a letra “b”).

Sorrell deixou a WPP em 2018, durante um escândalo no qual foi acusado de utilizar dinheiro da empresa para pagar serviços, digamos, particulares. Ele sempre negou as acusações e montou seu próprio negócio, a S4 Capital, logo após deixar o antigo endereço. Tornou-se rapidamente um fortíssimo concorrente dos ex-colegas.

Hoje, a S4 vale US$ 3,85 bilhões. Isso representa um quinto da WPP – um resultado excepcional para uma empreitada com pouco menos de quatro anos de vida. De onde vem esse crescimento vertiginoso? Sorrell, desde a fundação da nova empresa, se concentrou em conquistar grandes clientes, incluindo grandes anunciantes de tecnologia, que hoje possuem as maiores verbas do mercado. Entretanto, o grupo de Sorrell sai ganhando quando comparado com a WPP, pois conta com um número diminuto de funcionários.

Ele possui uma motivação extra – a raiva. Inconformado com as acusações e sua dispensa sumária, Sorrell foi para a concorrência com a faca nos dentes. Ao longo da minha vida, testemunhei alguns projetos baseados nesse mesmo tipo de ódio. Nenhum deles deu certo. Muito provavelmente porque aqueles que desejavam vingança se perderam em suas emoções e tomaram várias decisões erradas.

Martin Sorrell, porém, é um sujeito extremamente racional – embora se irrite com facilidade. No caso dele, a raiva, mantida sob a coleira da lógica, se transformou em uma vantagem competitiva.
Pude conhecê-lo quinze anos atrás, num encontro de executivos do grupo WPP no Brasil (na época, trabalhava na filial brasileira da Grey). Costumo me sair muito bem com interlocutores ingleses ou americanos. Mas não foi o caso de Sorrell, por conta de um mal-entendido.

Ele propôs uma dinâmica ao grupo (havia cerca de 50 pessoas na sala) segundo a qual cada um de nós teria de falar quem era, a empresa do grupo à qual pertencia e o que havia feito antes de se juntar à WPP. Todos foram falando, seguindo o roteiro proposto, até que chegou a vez dele. Na condição de chefe supremo, ele disse apenas que era Martin Sorrell, CEO do grupo WPP. Um gaiato, que estava sentado ao meu lado, perguntou: “E o que você fazia antes?”.

Sorrell achou que eu tinha feito a pergunta zombeteira e dirigiu um olhar furioso na minha direção, gastando mais de cinco minutos falando de sua carreira, sem me tirar na mira. Percebi que se fosse explicar o que havia acontecido só pioraria a situação – e, assim, posso dizer que me tornei, involuntariamente, um desafeto do chefão logo no primeiro encontro de executivos que participei.

Curiosamente, o site da S4 abriga uma biografia de exatas 9 linhas sobre a carreira de Sir Martin. Ele parece ter percebido que o passado não importa tanto como o presente e o futuro. Para isso, teve de se despir dos preconceitos que são comuns a um homem de 76 anos. Um exemplo disso? Alguns anos atrás, durante o Festival de Cannes, teve uma conversa com Kim Kardashian e sua mãe, Kris Jenner (uma dupla que frequentemente é considerada fútil e desmiolada pela geração do CEO da S4). Durante a conversa, ele entendeu que cada uma das filhas do clã fazia um trabalho de marketing voltado para um segmento específico de mercado e, com isso, o dinheiro jorrava para toda a família. E passou a ser um fã de Kris e de sua estratégia familiar.

Embora seja movido claramente por uma vendeta, conseguiu manter a cabeça fria em sua jornada pós-WPP. Com um claro foco em entender as mudanças do mercado e dar foco nas empresas emergentes. Definitivamente, a vingança é mesmo um prato que fica melhor quando servido frio.

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Sir Martin Sorrell é uma das maiores lendas do mercado publicitário. Ele conquistou fama ao montar um verdadeiro império de propaganda e serviços de marketing em torno da holding WPP. Quando assumiu como CEO do grupo, em 1985, o valor do negócio, em dinheiro da época, era de 1 milhão de libras esterlinas (milhão, com a letra “m”). Ao deixar a companhia, seu valor de mercado era de 16 bilhões de libras (com a letra “b”).

Sorrell deixou a WPP em 2018, durante um escândalo no qual foi acusado de utilizar dinheiro da empresa para pagar serviços, digamos, particulares. Ele sempre negou as acusações e montou seu próprio negócio, a S4 Capital, logo após deixar o antigo endereço. Tornou-se rapidamente um fortíssimo concorrente dos ex-colegas.

Hoje, a S4 vale US$ 3,85 bilhões. Isso representa um quinto da WPP – um resultado excepcional para uma empreitada com pouco menos de quatro anos de vida. De onde vem esse crescimento vertiginoso? Sorrell, desde a fundação da nova empresa, se concentrou em conquistar grandes clientes, incluindo grandes anunciantes de tecnologia, que hoje possuem as maiores verbas do mercado. Entretanto, o grupo de Sorrell sai ganhando quando comparado com a WPP, pois conta com um número diminuto de funcionários.

Ele possui uma motivação extra – a raiva. Inconformado com as acusações e sua dispensa sumária, Sorrell foi para a concorrência com a faca nos dentes. Ao longo da minha vida, testemunhei alguns projetos baseados nesse mesmo tipo de ódio. Nenhum deles deu certo. Muito provavelmente porque aqueles que desejavam vingança se perderam em suas emoções e tomaram várias decisões erradas.

Martin Sorrell, porém, é um sujeito extremamente racional – embora se irrite com facilidade. No caso dele, a raiva, mantida sob a coleira da lógica, se transformou em uma vantagem competitiva.
Pude conhecê-lo quinze anos atrás, num encontro de executivos do grupo WPP no Brasil (na época, trabalhava na filial brasileira da Grey). Costumo me sair muito bem com interlocutores ingleses ou americanos. Mas não foi o caso de Sorrell, por conta de um mal-entendido.

Ele propôs uma dinâmica ao grupo (havia cerca de 50 pessoas na sala) segundo a qual cada um de nós teria de falar quem era, a empresa do grupo à qual pertencia e o que havia feito antes de se juntar à WPP. Todos foram falando, seguindo o roteiro proposto, até que chegou a vez dele. Na condição de chefe supremo, ele disse apenas que era Martin Sorrell, CEO do grupo WPP. Um gaiato, que estava sentado ao meu lado, perguntou: “E o que você fazia antes?”.

Sorrell achou que eu tinha feito a pergunta zombeteira e dirigiu um olhar furioso na minha direção, gastando mais de cinco minutos falando de sua carreira, sem me tirar na mira. Percebi que se fosse explicar o que havia acontecido só pioraria a situação – e, assim, posso dizer que me tornei, involuntariamente, um desafeto do chefão logo no primeiro encontro de executivos que participei.

Curiosamente, o site da S4 abriga uma biografia de exatas 9 linhas sobre a carreira de Sir Martin. Ele parece ter percebido que o passado não importa tanto como o presente e o futuro. Para isso, teve de se despir dos preconceitos que são comuns a um homem de 76 anos. Um exemplo disso? Alguns anos atrás, durante o Festival de Cannes, teve uma conversa com Kim Kardashian e sua mãe, Kris Jenner (uma dupla que frequentemente é considerada fútil e desmiolada pela geração do CEO da S4). Durante a conversa, ele entendeu que cada uma das filhas do clã fazia um trabalho de marketing voltado para um segmento específico de mercado e, com isso, o dinheiro jorrava para toda a família. E passou a ser um fã de Kris e de sua estratégia familiar.

Embora seja movido claramente por uma vendeta, conseguiu manter a cabeça fria em sua jornada pós-WPP. Com um claro foco em entender as mudanças do mercado e dar foco nas empresas emergentes. Definitivamente, a vingança é mesmo um prato que fica melhor quando servido frio.

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