Marta Suplicy tem algo a acrescentar ao candidato Bruno Covas?
O último nome que foi ventilado para a chapa de Covas, após a desistência de José Luiz Datena, é o de Marta Suplicy amplamente reconhecida por décadas no PT
felipegiacomelli
Publicado em 14 de agosto de 2020 às 08h18.
Última atualização em 14 de agosto de 2020 às 09h38.
O PSDB é amplamente conhecido por suas contradições. Trata-se de uma agremiação com viés centro-esquerda, mas quando esteve no poder criou o maior programa de privatização já visto no Brasil. Desde a era Fernando Henrique Cardoso, seus candidatos à presidência da República fizeram discursos de campanha condenando a corrupção. E todos – José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves – foram acusados de receber propina. Isso obviamente não torna os ex-governadores automaticamente culpados das denúncias, mas traz desconforto junto a dirigentes e militantes da sigla, além de mostrar que o partido está sempre imerso em contrastes e discordâncias.
Os tucanos, de uns anos para cá, começaram a ser tachados de esquerdismo – e, para muitos defensores e simpatizantes do governo, o PSDB seria uma versão light do PT, mas esquerdista até a raiz das plumagens tucanas. A ascensão de João Doria ao governo de São Paulo suavizou um pouco essa imagem, uma vez que ele se contrapôs aos petistas desde o pleito municipal e se alinhou a Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018. Mas, logo no início de seus mandatos, presidente e governador passaram a se estranhar e romperam. Mesmo assim, a percepção de que se trata de uma sigla nos moldes do socialismo europeu se diluiu razoavelmente.
É justamente neste momento que surge uma possibilidade que poderia criar mais um elemento de contradição.
Apesar de estarmos a 3 meses e um dia para o primeiro turno do pleito municipal, o prefeito Bruno Covas ainda não tem companheiro de chapa para a reeleição. O último nome que foi ventilado, após a desistência de José Luiz Datena, é o da ex-prefeita Marta Suplicy . Embora seja filiada ao Solidariedade e tenha passado pelo MDB, Marta é amplamente reconhecida por décadas de militância no PT, partido através do qual foi conduzida ao Palácio do Anhangabaú.
Ao ungir Marta, Covas poderá dar um tom esquerdista à chapa e reativar as observações de que o PSDB têm mais semelhanças que diferenças em relação ao PT (além de criar mais uma contradição envolvendo os tucanos: Marta no mesmo balaio político que João Doria?). Isso ocorrerá em um momento em que os eleitores ainda possuem um ranço antipetista na capital – só não se sabe ainda o volume atual dos que condenam o partido de Luiz Inácio Lula da Silva.
Nas eleições presidenciais de 2018, por exemplo, Jair Bolsonaro venceu em 52 das 58 zonas eleitorais da capital. Mas 57% dos entrevistados pelo Instituto Paraná Pesquisas, ouvidos em julho de 2020, disseram desaprovar a gestão do presidente e 52% contestam a administração do governador João Doria. Na prática, isso quer dizer que a cidade está dividida entre fãs de Bolsonaro, admiradores de Doria e críticos de ambos.
Hoje, a manchete da Folha de S. Paulo, no entanto, mostra que a popularidade de Bolsonaro voltou a subir em todo o Brasil. Há duas razões para isso: o abandono do discurso agressivo (que serenou os ânimos no cenário político) e os pagamentos de auxílio social com a pandemia. Ainda não há números específicos para o município paulistano, mas a retomada dos índices favoráveis de Bolsonaro pode ser um indicador de que os eleitores de perfil mais conservador ainda sejam a maioria na capital paulista.
Neste cenário volátil, escolher um nome cercado de polêmica como o da ex-prefeita talvez não seja a melhor alternativa. Marta administrou a cidade entre 2001 e 2005 e foi bem avaliada na periferia, quando construiu os Centros Educacionais Unificados (CEUs), que existem até hoje e são muito elogiados pela população. Em compensação, em sua gestão foram criados novos impostos e a prefeita ganhou a alcunha de “Martaxa”, o que prejudicou bastante sua popularidade.
Apesar de ter criado o bilhete único, responsável por baratear o transporte público na cidade, Marta não obteve a reeleição, perdendo o pleito para José Serra. Evidentemente, sua carreira não terminou por aí e ela foi eleita, mais tarde, senadora.
Mas a pergunta permanece: vale a pena se conectar a um nome tão ligado ao petismo? Em vez de ajudar a angariar votos, a presença de Marta na chapa não poderia mais afastar eleitores do que os atrair? Cerca de um terço dos eleitores paulistanos têm menos de 35 anos. Isso quer dizer que quando a ex-senadora ocupou a prefeitura, muitos eram crianças, adolescentes ou nem tinham nascido ainda – ou seja, junto a esta faixa, o efeito da indicação seria nulo.
Marta traria os votos de petistas insatisfeitos com o rumo do partido? É uma possibilidade. Mas como agirão os antipetistas? Foi ela quem disse a seguinte frase em 2012: “O Lula é um deus”. Imaginem agora essa frase sendo usada à exaustão em uma campanha eleitoral. O que vai se passar na cabeça dos eleitores?
Pois é. Bruno Covas, pelo jeito, está atrás de sarna para se coçar.
O PSDB é amplamente conhecido por suas contradições. Trata-se de uma agremiação com viés centro-esquerda, mas quando esteve no poder criou o maior programa de privatização já visto no Brasil. Desde a era Fernando Henrique Cardoso, seus candidatos à presidência da República fizeram discursos de campanha condenando a corrupção. E todos – José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves – foram acusados de receber propina. Isso obviamente não torna os ex-governadores automaticamente culpados das denúncias, mas traz desconforto junto a dirigentes e militantes da sigla, além de mostrar que o partido está sempre imerso em contrastes e discordâncias.
Os tucanos, de uns anos para cá, começaram a ser tachados de esquerdismo – e, para muitos defensores e simpatizantes do governo, o PSDB seria uma versão light do PT, mas esquerdista até a raiz das plumagens tucanas. A ascensão de João Doria ao governo de São Paulo suavizou um pouco essa imagem, uma vez que ele se contrapôs aos petistas desde o pleito municipal e se alinhou a Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018. Mas, logo no início de seus mandatos, presidente e governador passaram a se estranhar e romperam. Mesmo assim, a percepção de que se trata de uma sigla nos moldes do socialismo europeu se diluiu razoavelmente.
É justamente neste momento que surge uma possibilidade que poderia criar mais um elemento de contradição.
Apesar de estarmos a 3 meses e um dia para o primeiro turno do pleito municipal, o prefeito Bruno Covas ainda não tem companheiro de chapa para a reeleição. O último nome que foi ventilado, após a desistência de José Luiz Datena, é o da ex-prefeita Marta Suplicy . Embora seja filiada ao Solidariedade e tenha passado pelo MDB, Marta é amplamente reconhecida por décadas de militância no PT, partido através do qual foi conduzida ao Palácio do Anhangabaú.
Ao ungir Marta, Covas poderá dar um tom esquerdista à chapa e reativar as observações de que o PSDB têm mais semelhanças que diferenças em relação ao PT (além de criar mais uma contradição envolvendo os tucanos: Marta no mesmo balaio político que João Doria?). Isso ocorrerá em um momento em que os eleitores ainda possuem um ranço antipetista na capital – só não se sabe ainda o volume atual dos que condenam o partido de Luiz Inácio Lula da Silva.
Nas eleições presidenciais de 2018, por exemplo, Jair Bolsonaro venceu em 52 das 58 zonas eleitorais da capital. Mas 57% dos entrevistados pelo Instituto Paraná Pesquisas, ouvidos em julho de 2020, disseram desaprovar a gestão do presidente e 52% contestam a administração do governador João Doria. Na prática, isso quer dizer que a cidade está dividida entre fãs de Bolsonaro, admiradores de Doria e críticos de ambos.
Hoje, a manchete da Folha de S. Paulo, no entanto, mostra que a popularidade de Bolsonaro voltou a subir em todo o Brasil. Há duas razões para isso: o abandono do discurso agressivo (que serenou os ânimos no cenário político) e os pagamentos de auxílio social com a pandemia. Ainda não há números específicos para o município paulistano, mas a retomada dos índices favoráveis de Bolsonaro pode ser um indicador de que os eleitores de perfil mais conservador ainda sejam a maioria na capital paulista.
Neste cenário volátil, escolher um nome cercado de polêmica como o da ex-prefeita talvez não seja a melhor alternativa. Marta administrou a cidade entre 2001 e 2005 e foi bem avaliada na periferia, quando construiu os Centros Educacionais Unificados (CEUs), que existem até hoje e são muito elogiados pela população. Em compensação, em sua gestão foram criados novos impostos e a prefeita ganhou a alcunha de “Martaxa”, o que prejudicou bastante sua popularidade.
Apesar de ter criado o bilhete único, responsável por baratear o transporte público na cidade, Marta não obteve a reeleição, perdendo o pleito para José Serra. Evidentemente, sua carreira não terminou por aí e ela foi eleita, mais tarde, senadora.
Mas a pergunta permanece: vale a pena se conectar a um nome tão ligado ao petismo? Em vez de ajudar a angariar votos, a presença de Marta na chapa não poderia mais afastar eleitores do que os atrair? Cerca de um terço dos eleitores paulistanos têm menos de 35 anos. Isso quer dizer que quando a ex-senadora ocupou a prefeitura, muitos eram crianças, adolescentes ou nem tinham nascido ainda – ou seja, junto a esta faixa, o efeito da indicação seria nulo.
Marta traria os votos de petistas insatisfeitos com o rumo do partido? É uma possibilidade. Mas como agirão os antipetistas? Foi ela quem disse a seguinte frase em 2012: “O Lula é um deus”. Imaginem agora essa frase sendo usada à exaustão em uma campanha eleitoral. O que vai se passar na cabeça dos eleitores?
Pois é. Bruno Covas, pelo jeito, está atrás de sarna para se coçar.