Mão de obra: um dos maiores desafios brasileiros
Se continuarmos a ficar para trás, nosso destino será a fragilidade e o protecionismo, com empreendedores vivendo em uma bolha doméstica e limitada
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Publicado em 18 de junho de 2024 às 15h49.
Ontem, as manchetes dos grandes matutinos paulistas eram bem diferentes, mas tratavam do mesmo assunto: a mão de obra brasileira. A da “Folha de S. Paulo” era preocupante: “Produtividade trava e nível brasileiro é ¼ do americano”. A do “Estado de S. Paulo” também provocava aflições: “Mão de obra escassa faz construção investir em capacitação e tecnologia”. Ou seja, o nível de competitividade das empresas nacionais, dada a baixa qualificação de nossos trabalhadores, é um problema que precisa ser encarado de frente por toda a sociedade.
Quando olhamos o estudo destacado pela “Folha”, percebemos que a questão é gravíssima, mas não é exatamente nova. Em 2010, por exemplo, a produtividade da mão de obra no Brasil era equivalente a 28,4% se comparada com a americana. Portanto, houve queda inquestionável, mas a base já era muito baixa. Só que, em 1980, os brasileiros produziam 45,8% em comparação com os americanos – o pico do Século 20. Na prática, voltamos aos anos 1950, quando a produtividade brasileira representava 24,4% da observada nos Estados Unidos.
Mas a situação, no dia a dia, talvez seja até pior, se levarmos em consideração dois fatores. O primeiro é o Índice de Capital Humano, que faz parte do cálculo da produtividade nacional. Se tomarmos como base o ano de 1995 (com 100 pontos), o índice de 2023 chegou a 184,5 pontos. Portanto, o trabalhador brasileiro melhorou muito em termos de experiência e educação nas últimas três décadas. Além disso, o setor de agronegócios apresentou um crescimento produtivo sem precedentes. Em 1995, por exemplo, o Agro gerava R$ 7,50 por hora trabalhada; em 2023, passou a R$ 39,50. Ou seja, não fosse a melhora na educação e dos índices do agronegócio, talvez nossa média fosse ainda menor.
Mas o que gera uma queda tão significativa em nossa produtividade?
Não precisa ser gênio para encontrar três fatores. O primeiro é um ambiente de negócios conflituoso, que gera inseguranças e drena recursos humanos e financeiros dos empresários. O segundo é consequência do primeiro: há uma falta de investimentos produtivos. Segundo o IBGE, tivemos em 2023 uma das menores taxas de investimento da história: 16,4% do Produto Interno Bruto. Por fim, temos o chamado custo Brasil, que afasta muitas empresas das exportações. Restritas ao mercado interno, essas companhias vão se acomodando e perdendo competitividade, aceitando níveis de produtividade que não seriam razoáveis no exterior.
No caso da reportagem do “Estadão”, o foco é a disputa por mão de obra qualificada, que não se restringe apenas aos profissionais da engenharia, mas também atinge serventes e pedreiros. Para atrair melhores profissionais, as construtoras elevaram os salários e benefícios, o que gerou um crescimento no custo dessas empresas de 7,51% nos últimos doze meses, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
As empresas do setor, com isso, acabaram entrando em uma espécie de jogo de “rouba monte” corporativo, provocando várias transferências no mercado de trabalho. Esse fenômeno, que afetou o setor de logística nos meses pós-pandemia, é uma realidade até hoje em determinados segmentos de empresas de tecnologia.
É por isso que existem algumas iniciativas vindas da iniciativa privada para formar profissionais mais qualificados. Empresas como XP e JBS têm instituições educacionais próprias, enquanto os acionistas do BTG Pactual investiram na criação de uma faculdade de tecnologia, a Inteli. Sem contar potências do ensino que surgiram da inquietude do empresariado, como o Insper e a Link School of Business.
É preocupante ver um índice tão baixo de produtividade e perceber que as razões para essa deficiência estão mais vivas que nunca entre nós. Precisamos elevar os nossos investimentos e isso só será possível com um ambiente de negócios favorável. Não podemos, porém, esperar que o governo tenha a iniciativa para resolver essa questão. Os empresários precisam se unir para pressionar as autoridades e mostrar que são as empresas que geram as riquezas que constroem esse país. Sem iniciativa privada, o país não vai a lugar nenhum. É preciso dar aos empresários condições melhores para que eles tenham mais confiança e invistam em novos projetos – ou na produtividade de suas companhias.
Se continuarmos a ficar para trás, nosso destino será a fragilidade e o protecionismo, com empreendedores vivendo em uma bolha doméstica e limitada. Precisamos respirar os ares da modernidade e investir em novos processos, em tecnologia e na formação de nossos trabalhadores. Não vamos perder mais tempo com leis retrógradas e decisões que sufocam os empresários. É hora de pressionar, pressionar e pressionar.
Ontem, as manchetes dos grandes matutinos paulistas eram bem diferentes, mas tratavam do mesmo assunto: a mão de obra brasileira. A da “Folha de S. Paulo” era preocupante: “Produtividade trava e nível brasileiro é ¼ do americano”. A do “Estado de S. Paulo” também provocava aflições: “Mão de obra escassa faz construção investir em capacitação e tecnologia”. Ou seja, o nível de competitividade das empresas nacionais, dada a baixa qualificação de nossos trabalhadores, é um problema que precisa ser encarado de frente por toda a sociedade.
Quando olhamos o estudo destacado pela “Folha”, percebemos que a questão é gravíssima, mas não é exatamente nova. Em 2010, por exemplo, a produtividade da mão de obra no Brasil era equivalente a 28,4% se comparada com a americana. Portanto, houve queda inquestionável, mas a base já era muito baixa. Só que, em 1980, os brasileiros produziam 45,8% em comparação com os americanos – o pico do Século 20. Na prática, voltamos aos anos 1950, quando a produtividade brasileira representava 24,4% da observada nos Estados Unidos.
Mas a situação, no dia a dia, talvez seja até pior, se levarmos em consideração dois fatores. O primeiro é o Índice de Capital Humano, que faz parte do cálculo da produtividade nacional. Se tomarmos como base o ano de 1995 (com 100 pontos), o índice de 2023 chegou a 184,5 pontos. Portanto, o trabalhador brasileiro melhorou muito em termos de experiência e educação nas últimas três décadas. Além disso, o setor de agronegócios apresentou um crescimento produtivo sem precedentes. Em 1995, por exemplo, o Agro gerava R$ 7,50 por hora trabalhada; em 2023, passou a R$ 39,50. Ou seja, não fosse a melhora na educação e dos índices do agronegócio, talvez nossa média fosse ainda menor.
Mas o que gera uma queda tão significativa em nossa produtividade?
Não precisa ser gênio para encontrar três fatores. O primeiro é um ambiente de negócios conflituoso, que gera inseguranças e drena recursos humanos e financeiros dos empresários. O segundo é consequência do primeiro: há uma falta de investimentos produtivos. Segundo o IBGE, tivemos em 2023 uma das menores taxas de investimento da história: 16,4% do Produto Interno Bruto. Por fim, temos o chamado custo Brasil, que afasta muitas empresas das exportações. Restritas ao mercado interno, essas companhias vão se acomodando e perdendo competitividade, aceitando níveis de produtividade que não seriam razoáveis no exterior.
No caso da reportagem do “Estadão”, o foco é a disputa por mão de obra qualificada, que não se restringe apenas aos profissionais da engenharia, mas também atinge serventes e pedreiros. Para atrair melhores profissionais, as construtoras elevaram os salários e benefícios, o que gerou um crescimento no custo dessas empresas de 7,51% nos últimos doze meses, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
As empresas do setor, com isso, acabaram entrando em uma espécie de jogo de “rouba monte” corporativo, provocando várias transferências no mercado de trabalho. Esse fenômeno, que afetou o setor de logística nos meses pós-pandemia, é uma realidade até hoje em determinados segmentos de empresas de tecnologia.
É por isso que existem algumas iniciativas vindas da iniciativa privada para formar profissionais mais qualificados. Empresas como XP e JBS têm instituições educacionais próprias, enquanto os acionistas do BTG Pactual investiram na criação de uma faculdade de tecnologia, a Inteli. Sem contar potências do ensino que surgiram da inquietude do empresariado, como o Insper e a Link School of Business.
É preocupante ver um índice tão baixo de produtividade e perceber que as razões para essa deficiência estão mais vivas que nunca entre nós. Precisamos elevar os nossos investimentos e isso só será possível com um ambiente de negócios favorável. Não podemos, porém, esperar que o governo tenha a iniciativa para resolver essa questão. Os empresários precisam se unir para pressionar as autoridades e mostrar que são as empresas que geram as riquezas que constroem esse país. Sem iniciativa privada, o país não vai a lugar nenhum. É preciso dar aos empresários condições melhores para que eles tenham mais confiança e invistam em novos projetos – ou na produtividade de suas companhias.
Se continuarmos a ficar para trás, nosso destino será a fragilidade e o protecionismo, com empreendedores vivendo em uma bolha doméstica e limitada. Precisamos respirar os ares da modernidade e investir em novos processos, em tecnologia e na formação de nossos trabalhadores. Não vamos perder mais tempo com leis retrógradas e decisões que sufocam os empresários. É hora de pressionar, pressionar e pressionar.