Exame Logo

Mais-valia à cubana: Marx não aprovaria

Histórias de escassez são bastante comuns em Cuba. Mas o que chama a atenção é como o regime cubano criou seu próprio sistema de mais-valia

(AWelshLad/Getty Images)

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 17h45.

Quando se trata de defender a falta de liberdade, a ausência de democracia e a falência do modelo econômico de Cuba, a esquerda – incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – faz malabarismos intelectuais. É comum, por exemplo, botar a culpa na situação paupérrima em que se encontram os cubanos no embargo econômico imposto pelos Estados Unidos desde os anos 1960.

É inegável que o bloqueio tem algum impacto na economia da ilha. Mas ele seria totalmente responsável pela pobreza cubana? Dificilmente, até porque a ditadura comandada por Miguel Diaz-Canel mantém relações com vários países. Além disso, os Estados Unidos não cessaram totalmente de vender produtos para o regime comunista caribenho: 80% do frango e da carne bovina consumidos em Cuba são importados da Terra do Tio Sam.

A explicação para a indigência dos cidadãos cubanos é uma só: quando se acaba com a livre inciativa e o empreendedorismo, a alma de um país é destruída. Ninguém tem motivação para nada, especialmente se uma casta (oficiais militares e altos membros do partido comunista) tem direito a benefícios com os quais a população nem sonha, como gasolina à vontade e alimentos da cesta básica.

O modelo econômico cubano era sustentado pela antiga União Soviética. Quando Moscou anunciou que estava acabando com a Cortina de Ferro e aboliria o regime comunista, as torneiras se fecharam. E, a partir da década de 1990, o país mergulhou em uma profunda crise econômica, na qual está afundado até hoje.

Como há uma parca geração de riquezas, não há recursos suficientes para todos. O resultado deste modelo é a miséria absoluta.

Um casal de amigos, Marcos Jank e Danielle Janiake, acaba de voltar de Havana. Ficaram impressionados: não havia produtos nem nos hotéis em que se hospedaram, das bandeiras Kempinski e Meliá. Bobagens que se encontram aqui em qualquer esquina, como chocolates e refrigerantes, simplesmente não existem por lá. Depois de alguns dias, o chef de um dos hotéis, disse que tinha algo muito especial para oferecer a esses amigos. Ele veio da cozinha com algo enrolado em um pano e entregou discretamente. Minha amiga desenrolou o mimo: era uma maçã.

Nas farmácias, as prateleiras também estão vazias. Os únicos itens à venda nestes estabelecimentos são detergentes e desinfetantes. Nos hospitais, falta todo o tipo de material, a começar por bisturis. Um cenário triste para um país que tem tantos médicos.

Histórias de escassez são bastante comuns em Cuba. Mas o que chama a atenção é como o regime cubano criou seu próprio sistema de mais-valia – um dos pontos centrais da teoria socialista de Karl Marx (segundo Marx, a mais-valia é a diferença entre o salário recebido pelo trabalhador e seu verdadeiro valor. Essa diferença seria traduzida em lucro, formando a base do capitalismo).

Ocorre que nossos amigos visitaram uma fábrica de charutos por lá e conversaram com seus funcionários. Quanto é o salário deles? Cerca de vinte dólares mensais pelo câmbio oficial (repito: mensais). Um deles disse que produzia uma média de 97 charutos por dia. Qual é o preço de cada “puro”? Cerca de 18 dólares.

Façamos as contas. Vamos dizer que esse cubano trabalhe 22 dias por mês. Isso significa uma produção mensal de 2.134 charutos, que geraria uma receita de US$ 38.412. Ou seja, a estatal cubana paga vinte dólares mensais a quem proporciona o faturamento de quase quarenta mil dólares. Diante disso, só se pode chegar a uma conclusão: Cuba conseguiu levar o conceito de mais-valia capitalista a um estágio de exploração que Marx jamais conseguiria imaginar.

Veja também

Quando se trata de defender a falta de liberdade, a ausência de democracia e a falência do modelo econômico de Cuba, a esquerda – incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – faz malabarismos intelectuais. É comum, por exemplo, botar a culpa na situação paupérrima em que se encontram os cubanos no embargo econômico imposto pelos Estados Unidos desde os anos 1960.

É inegável que o bloqueio tem algum impacto na economia da ilha. Mas ele seria totalmente responsável pela pobreza cubana? Dificilmente, até porque a ditadura comandada por Miguel Diaz-Canel mantém relações com vários países. Além disso, os Estados Unidos não cessaram totalmente de vender produtos para o regime comunista caribenho: 80% do frango e da carne bovina consumidos em Cuba são importados da Terra do Tio Sam.

A explicação para a indigência dos cidadãos cubanos é uma só: quando se acaba com a livre inciativa e o empreendedorismo, a alma de um país é destruída. Ninguém tem motivação para nada, especialmente se uma casta (oficiais militares e altos membros do partido comunista) tem direito a benefícios com os quais a população nem sonha, como gasolina à vontade e alimentos da cesta básica.

O modelo econômico cubano era sustentado pela antiga União Soviética. Quando Moscou anunciou que estava acabando com a Cortina de Ferro e aboliria o regime comunista, as torneiras se fecharam. E, a partir da década de 1990, o país mergulhou em uma profunda crise econômica, na qual está afundado até hoje.

Como há uma parca geração de riquezas, não há recursos suficientes para todos. O resultado deste modelo é a miséria absoluta.

Um casal de amigos, Marcos Jank e Danielle Janiake, acaba de voltar de Havana. Ficaram impressionados: não havia produtos nem nos hotéis em que se hospedaram, das bandeiras Kempinski e Meliá. Bobagens que se encontram aqui em qualquer esquina, como chocolates e refrigerantes, simplesmente não existem por lá. Depois de alguns dias, o chef de um dos hotéis, disse que tinha algo muito especial para oferecer a esses amigos. Ele veio da cozinha com algo enrolado em um pano e entregou discretamente. Minha amiga desenrolou o mimo: era uma maçã.

Nas farmácias, as prateleiras também estão vazias. Os únicos itens à venda nestes estabelecimentos são detergentes e desinfetantes. Nos hospitais, falta todo o tipo de material, a começar por bisturis. Um cenário triste para um país que tem tantos médicos.

Histórias de escassez são bastante comuns em Cuba. Mas o que chama a atenção é como o regime cubano criou seu próprio sistema de mais-valia – um dos pontos centrais da teoria socialista de Karl Marx (segundo Marx, a mais-valia é a diferença entre o salário recebido pelo trabalhador e seu verdadeiro valor. Essa diferença seria traduzida em lucro, formando a base do capitalismo).

Ocorre que nossos amigos visitaram uma fábrica de charutos por lá e conversaram com seus funcionários. Quanto é o salário deles? Cerca de vinte dólares mensais pelo câmbio oficial (repito: mensais). Um deles disse que produzia uma média de 97 charutos por dia. Qual é o preço de cada “puro”? Cerca de 18 dólares.

Façamos as contas. Vamos dizer que esse cubano trabalhe 22 dias por mês. Isso significa uma produção mensal de 2.134 charutos, que geraria uma receita de US$ 38.412. Ou seja, a estatal cubana paga vinte dólares mensais a quem proporciona o faturamento de quase quarenta mil dólares. Diante disso, só se pode chegar a uma conclusão: Cuba conseguiu levar o conceito de mais-valia capitalista a um estágio de exploração que Marx jamais conseguiria imaginar.

Acompanhe tudo sobre:Cuba

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se