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Maduro distorce o conceito de fascismo para abafar (ainda mais) a oposição

Como se sabe, a doutrina marxista distorce os preceitos democráticos para defender o comunismo

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante coletiva à imprensa internacional sobre as eleições presidenciais no Palácio de Miraflores, em Caracas, em 31 de julho de 2024 (AFP)

Publicado em 20 de agosto de 2024 às 12h47.

Em mais um rompante infeliz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse dias atrás que o sistema político vigente na Venezuela não era uma ditadura. Segundo Lula, é um “regime desagradável” e com “viés autoritário”, mas não ditatorial. A declaração não chega a ser uma surpresa. Lembremos que o próprio presidente, no ano passado, afirmou que “o conceito de democracia é algo relativo”, ao defender o ditador Nicolás Maduro.

Como se sabe, a doutrina marxista distorce os preceitos democráticos para defender o comunismo. No manifesto assinado por Karl Marx e Friedrich Engels, a ideia central dos autores é expropriar a propriedade privada e os meios de produção para concentrá-los na mão do Estado, controlado por um “proletariado organizado como classe dominante”. Dessa forma, o sistema que emergiria desta configuração de forças seria um regime chamado de “república democrática”. Não é à toa que a Alemanha Oriental, nos tempos da Cortina de Ferro, autodenominava-se “Deutsche Demokratische Republik” (“República Democrática Alemã”).

Em pleno século 21, Maduro dá um passo além e distorce outro conceito histórico – o do fascismo. Para ele, “fascismo” é a manifestação de qualquer oposição a seu regime. E está patrocinando uma lei que vai punir quem realizar reuniões ou manifestações que promovam o que o ditador chama de apologia a ideias fascistas. Dessa forma, o governo terá o poder legal de cassar partidos políticos e aplicar multas de até US$ 100.000 para empresas, organizações ou meios de comunicação que financiem atividades ou divulguem informações de teor ligado ao que Maduro considera “fascista”.

“Estamos enfrentando um povo malévolo, fascista, vocês entendem o que é o fascismo? É o ódio, a intolerância, transformados em violência” afirmou Maduro. “Por isso, apoio com todas as minhas forças o que o povo está fazendo com a Assembleia Nacional e peço que aprove muito rapidamente [a lei] contra o fascismo, o neofascismo e os crimes de ódio”.

Caso a lei seja aprovada – e a chance de isso acontecer é próxima de 100% — o governo terá mais instrumentos legais para reprimir qualquer iniciativa da oposição e afundar cada vez mais na arbitrariedade (já existe a nefasta “Operação Tun Tun”, uma espécie de delação online de opositores de Maduro, que ajuda o Estado a prender rapidamente e sem ritos legais quem reclame do governo).

Quando líderes políticos distorcem conceitos básicos, como democracia e fascismo, estão patrocinando narrativas que fogem da realidade. Ao negar que existe um ditadura na Venezuela, por conta da existência de eleições, Lula poderia concordar – no plano das ideias – com os militares que diziam não haver um regime de exceção no Brasil entre 1964 e 1985. Afinal, neste período, houve pleitos regionais e legislativos. O fato de o regime ter apontado indiretamente prefeitos de capitais e governadores seria um mero detalhe neste raciocínio – assim como o método de escolha dos generais presidentes, que eram nomeados por um petit comité e referendados pelo Congresso, travestido de colégio eleitoral.

Vamos acabar com essas narrativas que não nos levam a lugar nenhum. Ditadura é ditadura, mesmo que disfarçada de democracia. E fascismo não é oposição ou apologia de ideias da direita. Chega de sofismas e de falácias.

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Em mais um rompante infeliz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse dias atrás que o sistema político vigente na Venezuela não era uma ditadura. Segundo Lula, é um “regime desagradável” e com “viés autoritário”, mas não ditatorial. A declaração não chega a ser uma surpresa. Lembremos que o próprio presidente, no ano passado, afirmou que “o conceito de democracia é algo relativo”, ao defender o ditador Nicolás Maduro.

Como se sabe, a doutrina marxista distorce os preceitos democráticos para defender o comunismo. No manifesto assinado por Karl Marx e Friedrich Engels, a ideia central dos autores é expropriar a propriedade privada e os meios de produção para concentrá-los na mão do Estado, controlado por um “proletariado organizado como classe dominante”. Dessa forma, o sistema que emergiria desta configuração de forças seria um regime chamado de “república democrática”. Não é à toa que a Alemanha Oriental, nos tempos da Cortina de Ferro, autodenominava-se “Deutsche Demokratische Republik” (“República Democrática Alemã”).

Em pleno século 21, Maduro dá um passo além e distorce outro conceito histórico – o do fascismo. Para ele, “fascismo” é a manifestação de qualquer oposição a seu regime. E está patrocinando uma lei que vai punir quem realizar reuniões ou manifestações que promovam o que o ditador chama de apologia a ideias fascistas. Dessa forma, o governo terá o poder legal de cassar partidos políticos e aplicar multas de até US$ 100.000 para empresas, organizações ou meios de comunicação que financiem atividades ou divulguem informações de teor ligado ao que Maduro considera “fascista”.

“Estamos enfrentando um povo malévolo, fascista, vocês entendem o que é o fascismo? É o ódio, a intolerância, transformados em violência” afirmou Maduro. “Por isso, apoio com todas as minhas forças o que o povo está fazendo com a Assembleia Nacional e peço que aprove muito rapidamente [a lei] contra o fascismo, o neofascismo e os crimes de ódio”.

Caso a lei seja aprovada – e a chance de isso acontecer é próxima de 100% — o governo terá mais instrumentos legais para reprimir qualquer iniciativa da oposição e afundar cada vez mais na arbitrariedade (já existe a nefasta “Operação Tun Tun”, uma espécie de delação online de opositores de Maduro, que ajuda o Estado a prender rapidamente e sem ritos legais quem reclame do governo).

Quando líderes políticos distorcem conceitos básicos, como democracia e fascismo, estão patrocinando narrativas que fogem da realidade. Ao negar que existe um ditadura na Venezuela, por conta da existência de eleições, Lula poderia concordar – no plano das ideias – com os militares que diziam não haver um regime de exceção no Brasil entre 1964 e 1985. Afinal, neste período, houve pleitos regionais e legislativos. O fato de o regime ter apontado indiretamente prefeitos de capitais e governadores seria um mero detalhe neste raciocínio – assim como o método de escolha dos generais presidentes, que eram nomeados por um petit comité e referendados pelo Congresso, travestido de colégio eleitoral.

Vamos acabar com essas narrativas que não nos levam a lugar nenhum. Ditadura é ditadura, mesmo que disfarçada de democracia. E fascismo não é oposição ou apologia de ideias da direita. Chega de sofismas e de falácias.

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