Lula precisa sair do palanque
Nesta semana, Lula bateu seguidamente na autonomia do Banco Central e foi secundado por apoiadores nas redes sociais
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2023 às 11h49.
É natural que um presidente eleito passe os primeiros dias de governo inebriado pelo poder e repetindo os mantras da campanha eleitoral. Isso vem acontecendo no Brasil desde que a República começou e só não ocorre quando o mandatário é reeleito. Todos os presidentes empossados também têm um comportamento recorrente. Eles reclamam, de uma forma ou de outra, da herança recebida – que Luiz Inácio Lula da Silva chamava de “maldita” ao se referir ao legado da administração anterior a seu primeiro mandato, de Fernando Henrique Cardoso.
Jair Bolsonaro tomou posse em 2019 e passou boa parte de seus meses iniciais reclamando dos 14 anos de PT (que terminaram, diga-se, em 2016), numa espécie de mimimi de vencedor. A julgar pelos quase quarenta dias de gestão lulista, o ex-presidente fez escola. Não há um dia em que Lula não faça uma ou mais referências ao antecessor.
Nesta semana, Lula bateu seguidamente na autonomia do Banco Central e foi secundado por apoiadores nas redes sociais. Também atacou a privatização da Eletrobras, que chamou de “quase bandidagem”. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, aproveitou o clima e passou a atacar os aplicativos de mobilidade – em especial o Uber. E emendou uma bravata sem sentido: se a empresa saísse do país, iria chamar os Correios, que teriam capacidade de “criar um aplicativo e substituir” quem atuava no setor. Como os Correios iriam montar uma frota de motoristas com automóveis do dia para a noite, no entanto, Marinho não explicou.
Lula precisa sair do palanque e trabalhar para que a economia não fique paralisada à espera do pior. As declarações do presidente deixam empresários e agentes financeiros preocupados, pois insinuam uma ruptura com decisões tomadas pelo Estado brasileiro, não por uma administração específica.
Na prática, a preocupação é com a estabilidade jurídica. O PSOL, por exemplo, já apresentou um projeto de lei para reverter a independência do Banco Central. Teoricamente, essa proposta não seria aprovada pelo Congresso – mas não se deve subestimar a capacidade de convencimento de Lula, especialmente quando respaldada pela oferta de cargos e verbas federais. O ministro Alexandre Padilha ontem finalmente entrou em campo e garantiu pela imprensa que não existe, no governo, “qualquer discussão” para acabar com autonomia ao BC.
O discurso do presidente em relação aos juros, porém, está próximo da demagogia. No fundo, ele sabe que as taxas estão onde estão porque ainda há risco de inflação no curto prazo e o Banco Central precisa enxugar a liquidez do mercado para evitar alta de preços.
E, no quesito demagogia, há dois agravantes.
O primeiro é que Lula disse que o BC tinha decidido por um “aumento de juro”. Como se sabe, a última reunião do Copom estabeleceu que a taxa Selic ficasse estável em 13,75 %. Portanto, aumento não houve.
O segundo agravante é que, na primeira reunião do Copom do mandato inicial de Lula, em janeiro de 2003, o comitê optou por subir as taxas de juros, de 25 % para 25,5%. A ata do Copom, assinada pelo então presidente do BC, Henrique Meirelles, diz o seguinte: “Não obstante o recuo recente da inflação, na medida em que as taxas de inflação atingiram níveis elevados no final do ano passado, a convergência da inflação para uma trajetória compatível com as metas ajustadas depende da velocidade de queda da inflação. Nesse contexto é importante avaliar o impacto sobre a inflação dos aumentos acumulados de 7 p.p. na taxa Selic ocorrida no último trimestre de 2002. O Copom entende que a manutenção da meta para a taxa Selic em 25% indicou uma projeção de inflação pouco acima da meta ajustada de 8,5% em 2003. Dessa forma, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a meta para a taxa Selic em 0,5 p.p., para 25,5% a.a”.
Ou seja, Lula sabe muito bem o que está falando e está apenas jogando para a torcida. Só que vale a pena lembrar: ele está no Palácio do Planalto porque uma parte dos eleitores de Centro se uniu aos da Esquerda. Governar apenas para simpatizantes e militantes é o caminho mais rápido para o fracasso – Jair Bolsonaro que o diga.
É natural que um presidente eleito passe os primeiros dias de governo inebriado pelo poder e repetindo os mantras da campanha eleitoral. Isso vem acontecendo no Brasil desde que a República começou e só não ocorre quando o mandatário é reeleito. Todos os presidentes empossados também têm um comportamento recorrente. Eles reclamam, de uma forma ou de outra, da herança recebida – que Luiz Inácio Lula da Silva chamava de “maldita” ao se referir ao legado da administração anterior a seu primeiro mandato, de Fernando Henrique Cardoso.
Jair Bolsonaro tomou posse em 2019 e passou boa parte de seus meses iniciais reclamando dos 14 anos de PT (que terminaram, diga-se, em 2016), numa espécie de mimimi de vencedor. A julgar pelos quase quarenta dias de gestão lulista, o ex-presidente fez escola. Não há um dia em que Lula não faça uma ou mais referências ao antecessor.
Nesta semana, Lula bateu seguidamente na autonomia do Banco Central e foi secundado por apoiadores nas redes sociais. Também atacou a privatização da Eletrobras, que chamou de “quase bandidagem”. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, aproveitou o clima e passou a atacar os aplicativos de mobilidade – em especial o Uber. E emendou uma bravata sem sentido: se a empresa saísse do país, iria chamar os Correios, que teriam capacidade de “criar um aplicativo e substituir” quem atuava no setor. Como os Correios iriam montar uma frota de motoristas com automóveis do dia para a noite, no entanto, Marinho não explicou.
Lula precisa sair do palanque e trabalhar para que a economia não fique paralisada à espera do pior. As declarações do presidente deixam empresários e agentes financeiros preocupados, pois insinuam uma ruptura com decisões tomadas pelo Estado brasileiro, não por uma administração específica.
Na prática, a preocupação é com a estabilidade jurídica. O PSOL, por exemplo, já apresentou um projeto de lei para reverter a independência do Banco Central. Teoricamente, essa proposta não seria aprovada pelo Congresso – mas não se deve subestimar a capacidade de convencimento de Lula, especialmente quando respaldada pela oferta de cargos e verbas federais. O ministro Alexandre Padilha ontem finalmente entrou em campo e garantiu pela imprensa que não existe, no governo, “qualquer discussão” para acabar com autonomia ao BC.
O discurso do presidente em relação aos juros, porém, está próximo da demagogia. No fundo, ele sabe que as taxas estão onde estão porque ainda há risco de inflação no curto prazo e o Banco Central precisa enxugar a liquidez do mercado para evitar alta de preços.
E, no quesito demagogia, há dois agravantes.
O primeiro é que Lula disse que o BC tinha decidido por um “aumento de juro”. Como se sabe, a última reunião do Copom estabeleceu que a taxa Selic ficasse estável em 13,75 %. Portanto, aumento não houve.
O segundo agravante é que, na primeira reunião do Copom do mandato inicial de Lula, em janeiro de 2003, o comitê optou por subir as taxas de juros, de 25 % para 25,5%. A ata do Copom, assinada pelo então presidente do BC, Henrique Meirelles, diz o seguinte: “Não obstante o recuo recente da inflação, na medida em que as taxas de inflação atingiram níveis elevados no final do ano passado, a convergência da inflação para uma trajetória compatível com as metas ajustadas depende da velocidade de queda da inflação. Nesse contexto é importante avaliar o impacto sobre a inflação dos aumentos acumulados de 7 p.p. na taxa Selic ocorrida no último trimestre de 2002. O Copom entende que a manutenção da meta para a taxa Selic em 25% indicou uma projeção de inflação pouco acima da meta ajustada de 8,5% em 2003. Dessa forma, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a meta para a taxa Selic em 0,5 p.p., para 25,5% a.a”.
Ou seja, Lula sabe muito bem o que está falando e está apenas jogando para a torcida. Só que vale a pena lembrar: ele está no Palácio do Planalto porque uma parte dos eleitores de Centro se uniu aos da Esquerda. Governar apenas para simpatizantes e militantes é o caminho mais rápido para o fracasso – Jair Bolsonaro que o diga.