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Lula falará com empresários em junho – mesmo mês em que lançou a Carta aos Brasileiros

Se a carta tranquilizou os homens de negócios 20 anos atrás, o resultado prático da nova rodada de conversas entre Lula e empresários ainda é incerto

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Buda Mendes/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2022 às 09h58.

Aluizio Falcão Filho

Estamos no mês de junho e, finalmente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que vai ter um encontro com empresários para debater ideias. A escolha deste mês para começar a conversar com o empresariado parece proposital. Afinal, foi em um 22 de junho de 2002 que o então candidato Lula divulgou a Carta aos Brasileiros – um documento no qual se comprometeu a manter determinadas características do Plano Real, que havia estabilizado a economia oito anos antes.

Se este documento trouxe uma certa tranquilidade aos homens de negócios vinte anos atrás, o resultado prático dessa nova rodada de conversas entre Lula e empresários ainda é incerto. Anteontem, o PT soltou um rascunho de seu programa de governo e muitos empresários não gostaram do que leram. Mas o texto divulgado é apenas uma versão inicial, que pode ser melhorada ou piorada.

O pré-programa avisa que não haverá iniciativas liberais: o chamado teto dos gastos será revisto, assim como a reforma trabalhista (não foram fornecidos detalhes de como isso será feito). O tom é igualmente vago no que diz respeito aos desafios do modelo previdenciário: apenas fala em “aprimorar” o sistema atual.

Lula não é economista e dificilmente poderá debater com empresários detalhes sobre seu programa. Mas pode mostrar caminhos. Seu discurso, até aqui, foi bastante carregado nas tintas esquerdistas. Mesmo assim, o ex-presidente vem subindo nas pesquisas. Essa estratégia poderá dar certo? Talvez não. Lula vai precisar dos votos do Centro para obter a vitória.

O PT, até agora, não quis um encontro direto entre seu candidato e um grupo de empresários para evitar atritos desnecessários antes da hora. Para deixar tudo ainda mais nebuloso, ainda não se sabe qual Lula vai comparecer a esses encontros: se o Lulinha Paz e Amor, de 2002, ou a versão 2022, que tem sido fiel à esquerda raiz em suas declarações.

Há um consenso entre os principais assessores petistas de que os empresários vão, em sua maioria, apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro, até por conta das manifestações recentes de Lula. Não que Bolsonaro tenha sido a primeira escolha – mas a falta de um nome viável de Terceira Via levou parte significativa do empresariado a um pragmatismo anti-petista.

A esse grupo se soma outro, que é bolsonarista desde antes das eleições de 2018. São pessoas de cunho conservador na seara dos costumes que acabaram encontrando guarida no discurso de defesa à família, ao uso de armas e à iniciativa privada.

Lula aposta em conquistar os empresários com duas atitudes.

A primeira é falar de crescimento e deixar para lá eventuais tendências estatizantes de seu governo, sempre recorrendo à máxima de que o setor privado ganhou bastante dinheiro durante sua gestão.

O outro ponto é usar seu carisma e sua capacidade de improvisar para quebrar o gelo com a plateia. Um exemplo disso? Em 2002, um determinado empresário tinha enorme má vontade com qualquer candidatura à esquerda. Um amigo insistiu muito para que ele fosse a um encontro empresarial com Lula. A reunião se deu em um salão enorme. Enquanto o orador não chegava, ele aguardava sentado no meio de uma fileira de cadeiras. Quando o candidato entrou, houve uma aglomeração no corredor, com vários presentes tentando cumprimentar o palestrante. Lula percebeu que ele tinha ficado parado e, ao contrário dos demais, não tinha ido cumprimentá-lo. O petista andou até onde estava parado esse empresário e deu-lhe a mão. O sujeito, surpreso, saudou-o e acabou criando alguma simpatia por conta do gesto.

Naquele ano, no entanto, ainda não tínhamos passado por quatro eleições com vitórias petistas e os escândalos do Mensalão e do Petrolão ainda não tinham eclodido. Por isso, Lula vai precisar bem mais que carisma para conquistar o empresariado novamente. Para tirar os empresários das hostes bolsonaristas, algum aceno em seu programa econômico terá de ser feito. Isso vai acontecer? Saberemos ainda neste mês.

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Aluizio Falcão Filho

Estamos no mês de junho e, finalmente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que vai ter um encontro com empresários para debater ideias. A escolha deste mês para começar a conversar com o empresariado parece proposital. Afinal, foi em um 22 de junho de 2002 que o então candidato Lula divulgou a Carta aos Brasileiros – um documento no qual se comprometeu a manter determinadas características do Plano Real, que havia estabilizado a economia oito anos antes.

Se este documento trouxe uma certa tranquilidade aos homens de negócios vinte anos atrás, o resultado prático dessa nova rodada de conversas entre Lula e empresários ainda é incerto. Anteontem, o PT soltou um rascunho de seu programa de governo e muitos empresários não gostaram do que leram. Mas o texto divulgado é apenas uma versão inicial, que pode ser melhorada ou piorada.

O pré-programa avisa que não haverá iniciativas liberais: o chamado teto dos gastos será revisto, assim como a reforma trabalhista (não foram fornecidos detalhes de como isso será feito). O tom é igualmente vago no que diz respeito aos desafios do modelo previdenciário: apenas fala em “aprimorar” o sistema atual.

Lula não é economista e dificilmente poderá debater com empresários detalhes sobre seu programa. Mas pode mostrar caminhos. Seu discurso, até aqui, foi bastante carregado nas tintas esquerdistas. Mesmo assim, o ex-presidente vem subindo nas pesquisas. Essa estratégia poderá dar certo? Talvez não. Lula vai precisar dos votos do Centro para obter a vitória.

O PT, até agora, não quis um encontro direto entre seu candidato e um grupo de empresários para evitar atritos desnecessários antes da hora. Para deixar tudo ainda mais nebuloso, ainda não se sabe qual Lula vai comparecer a esses encontros: se o Lulinha Paz e Amor, de 2002, ou a versão 2022, que tem sido fiel à esquerda raiz em suas declarações.

Há um consenso entre os principais assessores petistas de que os empresários vão, em sua maioria, apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro, até por conta das manifestações recentes de Lula. Não que Bolsonaro tenha sido a primeira escolha – mas a falta de um nome viável de Terceira Via levou parte significativa do empresariado a um pragmatismo anti-petista.

A esse grupo se soma outro, que é bolsonarista desde antes das eleições de 2018. São pessoas de cunho conservador na seara dos costumes que acabaram encontrando guarida no discurso de defesa à família, ao uso de armas e à iniciativa privada.

Lula aposta em conquistar os empresários com duas atitudes.

A primeira é falar de crescimento e deixar para lá eventuais tendências estatizantes de seu governo, sempre recorrendo à máxima de que o setor privado ganhou bastante dinheiro durante sua gestão.

O outro ponto é usar seu carisma e sua capacidade de improvisar para quebrar o gelo com a plateia. Um exemplo disso? Em 2002, um determinado empresário tinha enorme má vontade com qualquer candidatura à esquerda. Um amigo insistiu muito para que ele fosse a um encontro empresarial com Lula. A reunião se deu em um salão enorme. Enquanto o orador não chegava, ele aguardava sentado no meio de uma fileira de cadeiras. Quando o candidato entrou, houve uma aglomeração no corredor, com vários presentes tentando cumprimentar o palestrante. Lula percebeu que ele tinha ficado parado e, ao contrário dos demais, não tinha ido cumprimentá-lo. O petista andou até onde estava parado esse empresário e deu-lhe a mão. O sujeito, surpreso, saudou-o e acabou criando alguma simpatia por conta do gesto.

Naquele ano, no entanto, ainda não tínhamos passado por quatro eleições com vitórias petistas e os escândalos do Mensalão e do Petrolão ainda não tinham eclodido. Por isso, Lula vai precisar bem mais que carisma para conquistar o empresariado novamente. Para tirar os empresários das hostes bolsonaristas, algum aceno em seu programa econômico terá de ser feito. Isso vai acontecer? Saberemos ainda neste mês.

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