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Junho de 2013: o marco zero do cenário político atual

"Há momentos que definem a história de um país. Aquele 6 de junho de 2013 foi um deles"

Manifestações: hoje faz exatamente dez anos que começaram os protestos de junho de 2013. (NurPhoto/Getty Images)

Publicado em 6 de junho de 2023 às 13h04.

Hoje faz exatamente dez anos que começaram os protestos de junho de 2013. Na avenida 23 de Maio, em São Paulo, um grupo de manifestantes interrompeu o trânsito à noite para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus na capital paulista. Essa queixa foi o estopim de várias manifestações que ocorreriam em São Paulo e no resto do país ao longo daquele ano (e dos seguintes). Os demais protestos, no entanto, não tinham exatamente uma bandeira única: as pessoas se sentiam insatisfeitas por vários motivos. O resultado disso é que havia, nessas marchas e aglomerações populares, vários grupos de reclamantes, cada um com sua causa.

Naquele momento, não havia exatamente uma situação ruim no campo econômico ou político. Meses antes, por sinal, a então presidente Dilma Rousseff havia sido aprovada por 79 % dos brasileiros, o maior índice já capturado por pesquisas de opinião. Os protestos, no entanto, deixaram não apenas Dilma perplexa, mas também o prefeito naquele momento, Fernando Haddad, e o governador do estado, Geraldo Alckmin. Foi Alckmin, inclusive, que convenceu Haddad a voltar atrás no reajuste das passagens de ônibus em São Paulo (curiosamente, os dois são hoje colegas de ministério).

Aqueles movimentos capturaram com perfeição o chamado Zeitgeist, ou o espírito do tempo. Havia uma insatisfação latente na população, que não era registrada por pesquisas ou na percepção das autoridades (municipais, estaduais ou federais).

Naquele momento, a contrariedade de uma parcela significativa da população com tantos anos de gestão petista começava a surgir. Pode-se dizer que foi neste momento em que a direita reapareceu no país, depois de tanto tempo anestesiada após o final da ditadura militar. Até aquele instante, a maioria dos direitistas se sentia constrangida em assumir seu posicionamento político em voz alta.

Foi também o ponto de partida para o surgimento de novas lideranças no espectro ideológico do conservadorismo ou do liberalismo econômico. Kim Kataguiri, Janaína Lima e Fernando Holiday foram alguns exemplos dessa leva de políticos e deram seus primeiros passos na carreira representando entidades como o Movimento Passe Livre, Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre.

Rapidamente, os protestos deixaram de falar em tarifas de ônibus e abraçaram uma agenda mais ampla e política. Em 2014, um outro acontecimento daria mais combustível para esse descontentamento: a Operação Lava-Jato, que começou a expor as entranhas de um enorme esquema de corrupção dentro da Petrobrás, que contava com a conivência de vários políticos, em especial do PT e do então PMDB.

Conforme a Lava-Jato avançava, a insatisfação com os políticos e com o governo aumentou. E os protestos seguintes, de 2015 e 2016, foram se concentrando em um único alvo: a presidente Dilma Rousseff. Daí para as multidões empunharem cartazes pedindo o impeachment da mandatária foi um passo.

O apoio popular à Lava-Jato e ao impeachment de Dilma criou uma pressão no Congresso e no Supremo Tribunal Federal, que começaram a pautar suas votações de acordo com o termômetro das ruas. Essa insatisfação, combinada a uma total desarticulação política do governo Dilma, levou a um processo de impeachment que possibilitou a troca de governo. O mesmo clamor da população fez o STF deixar a Lava-Jato rolar solta naquela fase, que culminou com a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, impedindo-o de participar da eleição presidencial de 2018, vencida por Jair Bolsonaro.

Há momentos que definem a história de um país. Aquele 6 de junho de 2013 foi um deles e mudou a configuração das forças políticas brasileiras. Hoje se fala muito em polarização como fruto das redes sociais. Mas, na prática, o antagonismo entre direita e esquerda ressurgiu naqueles movimentos de dez anos atrás. E não desaparecerá tão cedo.

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Hoje faz exatamente dez anos que começaram os protestos de junho de 2013. Na avenida 23 de Maio, em São Paulo, um grupo de manifestantes interrompeu o trânsito à noite para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus na capital paulista. Essa queixa foi o estopim de várias manifestações que ocorreriam em São Paulo e no resto do país ao longo daquele ano (e dos seguintes). Os demais protestos, no entanto, não tinham exatamente uma bandeira única: as pessoas se sentiam insatisfeitas por vários motivos. O resultado disso é que havia, nessas marchas e aglomerações populares, vários grupos de reclamantes, cada um com sua causa.

Naquele momento, não havia exatamente uma situação ruim no campo econômico ou político. Meses antes, por sinal, a então presidente Dilma Rousseff havia sido aprovada por 79 % dos brasileiros, o maior índice já capturado por pesquisas de opinião. Os protestos, no entanto, deixaram não apenas Dilma perplexa, mas também o prefeito naquele momento, Fernando Haddad, e o governador do estado, Geraldo Alckmin. Foi Alckmin, inclusive, que convenceu Haddad a voltar atrás no reajuste das passagens de ônibus em São Paulo (curiosamente, os dois são hoje colegas de ministério).

Aqueles movimentos capturaram com perfeição o chamado Zeitgeist, ou o espírito do tempo. Havia uma insatisfação latente na população, que não era registrada por pesquisas ou na percepção das autoridades (municipais, estaduais ou federais).

Naquele momento, a contrariedade de uma parcela significativa da população com tantos anos de gestão petista começava a surgir. Pode-se dizer que foi neste momento em que a direita reapareceu no país, depois de tanto tempo anestesiada após o final da ditadura militar. Até aquele instante, a maioria dos direitistas se sentia constrangida em assumir seu posicionamento político em voz alta.

Foi também o ponto de partida para o surgimento de novas lideranças no espectro ideológico do conservadorismo ou do liberalismo econômico. Kim Kataguiri, Janaína Lima e Fernando Holiday foram alguns exemplos dessa leva de políticos e deram seus primeiros passos na carreira representando entidades como o Movimento Passe Livre, Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre.

Rapidamente, os protestos deixaram de falar em tarifas de ônibus e abraçaram uma agenda mais ampla e política. Em 2014, um outro acontecimento daria mais combustível para esse descontentamento: a Operação Lava-Jato, que começou a expor as entranhas de um enorme esquema de corrupção dentro da Petrobrás, que contava com a conivência de vários políticos, em especial do PT e do então PMDB.

Conforme a Lava-Jato avançava, a insatisfação com os políticos e com o governo aumentou. E os protestos seguintes, de 2015 e 2016, foram se concentrando em um único alvo: a presidente Dilma Rousseff. Daí para as multidões empunharem cartazes pedindo o impeachment da mandatária foi um passo.

O apoio popular à Lava-Jato e ao impeachment de Dilma criou uma pressão no Congresso e no Supremo Tribunal Federal, que começaram a pautar suas votações de acordo com o termômetro das ruas. Essa insatisfação, combinada a uma total desarticulação política do governo Dilma, levou a um processo de impeachment que possibilitou a troca de governo. O mesmo clamor da população fez o STF deixar a Lava-Jato rolar solta naquela fase, que culminou com a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, impedindo-o de participar da eleição presidencial de 2018, vencida por Jair Bolsonaro.

Há momentos que definem a história de um país. Aquele 6 de junho de 2013 foi um deles e mudou a configuração das forças políticas brasileiras. Hoje se fala muito em polarização como fruto das redes sociais. Mas, na prática, o antagonismo entre direita e esquerda ressurgiu naqueles movimentos de dez anos atrás. E não desaparecerá tão cedo.

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