Henrique Meirelles será o José Alencar 2.0?
Meirelles, se aceitar a vice de Lula, poderia acalmar um mercado traumatizado pela gestão de Dilma Rousseff, de uma inépcia ímpar na condução econômica
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2021 às 09h32.
Última atualização em 4 de junho de 2021 às 11h08.
Por Aluizio Falcão Filho
Nesta semana, circularam boatos de que Henrique Meirelles, secretário de Fazenda de São Paulo, é cogitado para ser o companheiro de chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Esta seria a forma de tentar deixar Lula mais palatável aos eleitores de Centro e tentar desconstruir a narrativa de que o candidato do PT seria um dos extremos ideológicos no próximo pleito.
Tratar-se-ia, como diria o ex-presidente Michel Temer (um vice que ascendeu ao poder), da reedição do truque já utilizado em 2002, quando o PT colocou o empresário José Alencar para ocupar o segundo posto da chapa presidencial. Dono de uma grande indústria têxtil, a Coteminas, Alencar foi o fiador, durante a campanha, de que os petistas, uma vez no poder, não promoveriam nenhuma aventura socialista, como prometia a “Carta aos Brasileiros”.
Já eleito, Lula percebeu que precisaria elevar seu cacife junto ao empresariado e ao mercado financeiro. Foi neste momento que entrou em campo Meirelles, recém-consagrado nas urnas goianas como o deputado federal mais votado do estado. Lula o convidou para assumir a presidência do Banco Central. Meirelles aceitou o convite e teve de renunciar a seu mandato legislativo, ficando oito anos à testa do BC. Neste período, ele conseguiu aplacar os receios do empresariado e pilotou a política monetária com discrição e competência.
Por enquanto, essa possibilidade parece ser um grande balão de ensaio. “Eu trabalhei com o então presidente Lula por oito anos, no período em que o Brasil cresceu de forma extraordinária. Por outro lado, estou trabalhando muito bem com o governador [João] Doria”, disse Meirelles. “Acho que tudo isso é muito prematuro, vai depender, inclusive, da terceira via, do resultado das prévias do PSDB”.
Há um outro detalhe: o ex-ministro é filiado hoje ao PSD. Essa negociação terá de passar por Gilberto Kassab, que já andou conversando com Lula. Enquanto esse suposto namoro não vira noivado ou coisa mais séria, a versão oficial é a de que o titular da Fazenda paulista será candidato ao Senado por Goiás, seu estado natal.
Meirelles, se aceitar a vice de Lula, poderia acalmar um mercado traumatizado pela gestão de Dilma Rousseff, de uma inépcia ímpar na condução econômica. Ele representaria a promessa de que o PT respeitaria as regras de mercado e não enveredaria pela heterodoxia fazendária. Além disso, poderia ajudar a recuperar a imagem do petista lá fora, seriamente arranhada pelas denúncias de corrupção que foram escancaradas pela Operação Lava-Jato.
Mesmo que possa amainar a desconfiança ou aplacar a rejeição que hoje reinam entre a elite econômica, a eventual adesão de Henrique Meirelles dificilmente teria efeitos práticos em relação à má imagem que resultou do apetite do PT por propinas e caixa dois.
A esse ponto, soma-se outro – o de que um vice-presidente não manda nada no governo. Os dois últimos vices que tivermos, Hamilton Mourão e Temer, são exemplos fortes de figuras até admiradas, mas totalmente decorativas. O próprio José Alencar, já falecido, veio a público algumas vezes para se queixar dos juros altos praticados pelo governo e decididos pelo Comitê de Política Monetária (presidido na época por Meirelles, diga-se).
Nos Estados Unidos, o papel de vice não se restringe a alguém que fica apenas no banco de reservas, como ocorre no Brasil. Lá, o vice-presidente também é presidente do Senado e, assim, ele tem outras atribuições além de esperar alguma eventualidade para calçar as chuteiras.
Ao contrário da tradição americana, aquele que ocupa a vice-presidência no Brasil raramente é sucessor do mandatário. Por aqui, o cargo de vice é preenchido para estabelecer algum tipo de contrapartida na composição do jogo político ou então se criar uma combinação regional de forças.
Se, nos estados, vemos com frequência um vice suceder o governador, no âmbito nacional isso quase não ocorre. Nos últimos anos, inclusive, houve duas ocasiões em que o vice chegou ao poder, com Itamar Franco e Michel Temer. Mas os dois ascenderam por conta de processos de impeachment contra os titulares originais, Fernando Colllor e Dilma.
Diante desta possibilidade, ficam algumas dúvidas: Henrique Meirelles deixará o ninho de João Doria para se abrigar nas hostes petistas? Haverá alguma possibilidade de entendimento entre o governador paulista e o ex-presidente Lula? Doria permanecerá no PSDB se perder as prévias presidenciais?
Não deixa de ser irônico. O cenário político parece estar, para muitos, definido entre o presidente Jair Bolsonaro e Lula. Mas vivemos um panorama no qual imperam as dúvidas e os movimentos de certas peças no tabuleiro é acompanhado com um interesse descomunal.
Esses nós não serão desatados tão cedo. Portanto, sejamos pacientes.
Por Aluizio Falcão Filho
Nesta semana, circularam boatos de que Henrique Meirelles, secretário de Fazenda de São Paulo, é cogitado para ser o companheiro de chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Esta seria a forma de tentar deixar Lula mais palatável aos eleitores de Centro e tentar desconstruir a narrativa de que o candidato do PT seria um dos extremos ideológicos no próximo pleito.
Tratar-se-ia, como diria o ex-presidente Michel Temer (um vice que ascendeu ao poder), da reedição do truque já utilizado em 2002, quando o PT colocou o empresário José Alencar para ocupar o segundo posto da chapa presidencial. Dono de uma grande indústria têxtil, a Coteminas, Alencar foi o fiador, durante a campanha, de que os petistas, uma vez no poder, não promoveriam nenhuma aventura socialista, como prometia a “Carta aos Brasileiros”.
Já eleito, Lula percebeu que precisaria elevar seu cacife junto ao empresariado e ao mercado financeiro. Foi neste momento que entrou em campo Meirelles, recém-consagrado nas urnas goianas como o deputado federal mais votado do estado. Lula o convidou para assumir a presidência do Banco Central. Meirelles aceitou o convite e teve de renunciar a seu mandato legislativo, ficando oito anos à testa do BC. Neste período, ele conseguiu aplacar os receios do empresariado e pilotou a política monetária com discrição e competência.
Por enquanto, essa possibilidade parece ser um grande balão de ensaio. “Eu trabalhei com o então presidente Lula por oito anos, no período em que o Brasil cresceu de forma extraordinária. Por outro lado, estou trabalhando muito bem com o governador [João] Doria”, disse Meirelles. “Acho que tudo isso é muito prematuro, vai depender, inclusive, da terceira via, do resultado das prévias do PSDB”.
Há um outro detalhe: o ex-ministro é filiado hoje ao PSD. Essa negociação terá de passar por Gilberto Kassab, que já andou conversando com Lula. Enquanto esse suposto namoro não vira noivado ou coisa mais séria, a versão oficial é a de que o titular da Fazenda paulista será candidato ao Senado por Goiás, seu estado natal.
Meirelles, se aceitar a vice de Lula, poderia acalmar um mercado traumatizado pela gestão de Dilma Rousseff, de uma inépcia ímpar na condução econômica. Ele representaria a promessa de que o PT respeitaria as regras de mercado e não enveredaria pela heterodoxia fazendária. Além disso, poderia ajudar a recuperar a imagem do petista lá fora, seriamente arranhada pelas denúncias de corrupção que foram escancaradas pela Operação Lava-Jato.
Mesmo que possa amainar a desconfiança ou aplacar a rejeição que hoje reinam entre a elite econômica, a eventual adesão de Henrique Meirelles dificilmente teria efeitos práticos em relação à má imagem que resultou do apetite do PT por propinas e caixa dois.
A esse ponto, soma-se outro – o de que um vice-presidente não manda nada no governo. Os dois últimos vices que tivermos, Hamilton Mourão e Temer, são exemplos fortes de figuras até admiradas, mas totalmente decorativas. O próprio José Alencar, já falecido, veio a público algumas vezes para se queixar dos juros altos praticados pelo governo e decididos pelo Comitê de Política Monetária (presidido na época por Meirelles, diga-se).
Nos Estados Unidos, o papel de vice não se restringe a alguém que fica apenas no banco de reservas, como ocorre no Brasil. Lá, o vice-presidente também é presidente do Senado e, assim, ele tem outras atribuições além de esperar alguma eventualidade para calçar as chuteiras.
Ao contrário da tradição americana, aquele que ocupa a vice-presidência no Brasil raramente é sucessor do mandatário. Por aqui, o cargo de vice é preenchido para estabelecer algum tipo de contrapartida na composição do jogo político ou então se criar uma combinação regional de forças.
Se, nos estados, vemos com frequência um vice suceder o governador, no âmbito nacional isso quase não ocorre. Nos últimos anos, inclusive, houve duas ocasiões em que o vice chegou ao poder, com Itamar Franco e Michel Temer. Mas os dois ascenderam por conta de processos de impeachment contra os titulares originais, Fernando Colllor e Dilma.
Diante desta possibilidade, ficam algumas dúvidas: Henrique Meirelles deixará o ninho de João Doria para se abrigar nas hostes petistas? Haverá alguma possibilidade de entendimento entre o governador paulista e o ex-presidente Lula? Doria permanecerá no PSDB se perder as prévias presidenciais?
Não deixa de ser irônico. O cenário político parece estar, para muitos, definido entre o presidente Jair Bolsonaro e Lula. Mas vivemos um panorama no qual imperam as dúvidas e os movimentos de certas peças no tabuleiro é acompanhado com um interesse descomunal.
Esses nós não serão desatados tão cedo. Portanto, sejamos pacientes.