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Haddad tem mais semelhanças com FHC do que com Mantega

O mercado financeiro, que antes torcia o nariz ao escutar o nome do ex-prefeito de São Paulo, parece assimilar vagarosamente uma eventual nomeação

Sao Paulo's state governor candidate for the Workers' Party (PT) Fernando Haddad waves on arrival at a polling station during the presidential run-off election in Sao Paulo, Brazil, on October 30, 2022. - After a bitterly divisive campaign and inconclusive first-round vote, Brazil elects its next president in a cliffhanger runoff between far-right incumbent Jair Bolsonaro and veteran leftist Luiz Inacio Lula da Silva. (Photo by CARL DE SOUZA / AFP) (Photo by CARL DE SOUZA/AFP via Getty Images) (CARL DE SOUZA/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2022 às 10h45.

O nome de Fernando Haddad fica cada vez mais forte como futuro ministro da Fazenda. O mercado financeiro, que antes torcia o nariz ao escutar o nome do ex-prefeito de São Paulo, parece assimilar vagarosamente uma eventual nomeação e se preparar para a possibilidade de tê-lo à frente da economia. Haddad, nas últimas semanas, foi sistematicamente comparado a Guido Mantega, que foi titular da pasta durante a gestão de Dilma Rousseff. Mas, apesar de a gestão Mantega ter sido uma tragédia em termos macroeconômicos, ele não pode ser inteiramente culpado pela falta de resultados. Na prática, ele apenas executava o que lhe mandava sua chefe, a presidente Dilma. Coincidentemente – ou não –, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, disse à imprensa que a condução da economia a partir de 2023 será de responsabilidade da presidência, já que foi ele quem ganhou as eleições.

A comparação com Mantega, no entanto, talvez não seja a melhor para definir um possível ministro Haddad. Uma metáfora melhor poderia ser o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que também ocupou essa pasta durante o governo de Itamar Franco e foi o grande responsável pela formulação e implementação do Plano Real, que estabilizou a economia em 1994.

Como Haddad, FHC foi professor de matérias relacionadas às Ciências Sociais. Suas teses e obra acadêmica tiveram forte influência dos textos de Karl Marx, Max Weber e Herbert Marcuse. Enquanto estiveram na órbita acadêmica, ambos foram legítimos representantes do pensamento de esquerda. Mas, encastelados no poder, tiveram um choque de realidade e foram pragmáticos em diversas ocasiões.

Curiosamente, um sociólogo com background marxista foi responsável por um plano que estabilizou a moeda no país e criou o maior programa de privatização já visto no Brasil. Esse tipo de coisa, que só acontece por aqui, abre a possibilidade de que Haddad entre em campo para tranquilizar banqueiros e empresários – assim como fez Antonio Palocci na primeira gestão petista.

Palocci – hoje um desafeto de Lula e autor de uma delação que mais parecia uma colagem de notas de colunas jornalísticas publicadas durante a gestão petista – foi visto, nos primeiros meses de Lula como um ministro que garantiria uma gestão pró-mercado, assim como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mas, se fosse julgado apenas por seu passado como parlamentar e ex-prefeito, Antonio Palocci poderia ser classificado como um esquerdista irremediável.

O ex-prefeito é visto como um dos possíveis herdeiros de Lula para disputar sua sucessão em 2026. Diante dessa possibilidade, ocupar o ministério da Fazenda seria a melhor oportunidade dentro da próxima administração? Talvez não. A Fazenda tem de lidar com desgastes diários e crises frequentes. Haddad, além disso, perdeu as últimas três eleições que disputou (prefeitura de São Paulo, Presidência da República e Governo de São Paulo) e precisa elevar seu cacife para garantir o futuro político. Assim, talvez fosse melhor se aboletar em uma pasta na qual poderia recolher mais frutos para empoderar sua imagem pública.

Haddad tem mestrado em economia, obtido com a defesa da seguinte tese: “Debate sobre o caráter socioeconômico do sistema soviético”. Não é exatamente um tema que entusiasme a chamada Faria Lima. Especialmente por conta do tom arrogante empregado pelo ex-prefeito durante a campanha de 2022 e logo após a vitória de Lula.

Mesmo assim, ele pode assumir a missão de manter as contas públicas em ordem, apesar do discurso de defesa dos planos sociais defendido pelo PT. Neste caso, ele poderá agradar o mercado financeiro apesar das dúvidas que pairam sob seu nome. A principal delas, mesmo que ele consiga exercer uma gestão com responsabilidade fiscal, é a seguinte: ele se manteria fiel às crenças de outrora ou repetiria Fernando Henrique Cardoso, pedindo para que todos esquecessem o que havia escrito no passado?

Só saberemos a resposta a essa pergunta ao longo dos primeiros meses de 2023.

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A comparação com Mantega, no entanto, talvez não seja a melhor para definir um possível ministro Haddad. Uma metáfora melhor poderia ser o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que também ocupou essa pasta durante o governo de Itamar Franco e foi o grande responsável pela formulação e implementação do Plano Real, que estabilizou a economia em 1994.

Como Haddad, FHC foi professor de matérias relacionadas às Ciências Sociais. Suas teses e obra acadêmica tiveram forte influência dos textos de Karl Marx, Max Weber e Herbert Marcuse. Enquanto estiveram na órbita acadêmica, ambos foram legítimos representantes do pensamento de esquerda. Mas, encastelados no poder, tiveram um choque de realidade e foram pragmáticos em diversas ocasiões.

Curiosamente, um sociólogo com background marxista foi responsável por um plano que estabilizou a moeda no país e criou o maior programa de privatização já visto no Brasil. Esse tipo de coisa, que só acontece por aqui, abre a possibilidade de que Haddad entre em campo para tranquilizar banqueiros e empresários – assim como fez Antonio Palocci na primeira gestão petista.

Palocci – hoje um desafeto de Lula e autor de uma delação que mais parecia uma colagem de notas de colunas jornalísticas publicadas durante a gestão petista – foi visto, nos primeiros meses de Lula como um ministro que garantiria uma gestão pró-mercado, assim como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mas, se fosse julgado apenas por seu passado como parlamentar e ex-prefeito, Antonio Palocci poderia ser classificado como um esquerdista irremediável.

O ex-prefeito é visto como um dos possíveis herdeiros de Lula para disputar sua sucessão em 2026. Diante dessa possibilidade, ocupar o ministério da Fazenda seria a melhor oportunidade dentro da próxima administração? Talvez não. A Fazenda tem de lidar com desgastes diários e crises frequentes. Haddad, além disso, perdeu as últimas três eleições que disputou (prefeitura de São Paulo, Presidência da República e Governo de São Paulo) e precisa elevar seu cacife para garantir o futuro político. Assim, talvez fosse melhor se aboletar em uma pasta na qual poderia recolher mais frutos para empoderar sua imagem pública.

Haddad tem mestrado em economia, obtido com a defesa da seguinte tese: “Debate sobre o caráter socioeconômico do sistema soviético”. Não é exatamente um tema que entusiasme a chamada Faria Lima. Especialmente por conta do tom arrogante empregado pelo ex-prefeito durante a campanha de 2022 e logo após a vitória de Lula.

Mesmo assim, ele pode assumir a missão de manter as contas públicas em ordem, apesar do discurso de defesa dos planos sociais defendido pelo PT. Neste caso, ele poderá agradar o mercado financeiro apesar das dúvidas que pairam sob seu nome. A principal delas, mesmo que ele consiga exercer uma gestão com responsabilidade fiscal, é a seguinte: ele se manteria fiel às crenças de outrora ou repetiria Fernando Henrique Cardoso, pedindo para que todos esquecessem o que havia escrito no passado?

Só saberemos a resposta a essa pergunta ao longo dos primeiros meses de 2023.

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