ESG: o que aconteceria se todos fossem contrários?
Por um instante vamos imaginar o que seria de uma empresa que, racionalmente, operasse de forma oposta ao que pregam os entusiastas do meio ambiente, inclusão e governança
isabelarovaroto
Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 09h28.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 09h29.
Muitos dizem que é uma modinha. Outros reclamam das dificuldades que se criam em torno de suas regras. E há aqueles que, bem, são sempre do contra. Apesar dessa torcida oposta, os preceitos ESG têm sido cada vez mais adotados pelas empresas. Mesmo assim, causam polêmica quando implementados. Muitos daqueles que protestam estão na linha Oswald de Andrade sobre um romance de José Lins do Rêgo (“não li e não gostei”) – ou seja, nem sabem direito o que vai mudar nas empresas, mas reclamam do mesmo jeito.
Por um instante, porém, vamos imaginar o que seria de uma empresa que, racionalmente, operasse de forma oposta ao que pregam os entusiastas do meio ambiente, inclusão e governança.
Em primeiro lugar, essa seria uma empresa engajada nos processos poluidores, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. A única prioridade seria com a produção, mesmo que deste processo resultasse resíduos e dejetos que comprometessem a Natureza. Haveria espaço no mundo de hoje para algo do gênero?
E por falar em gênero, vamos ao segundo tópico da pauta ESG – a inclusão social e o respeito à diversidade. Escutei, no ano retrasado, uma frase que me marcou. Em uma conversa informal, o CEO da Unysis, Mauricio Cataneo, me disse que “quando as condições entre os candidatos de emprego parecem ser similares, a empresa sempre faz a escolha pela diversidade”. Vamos imaginar, agora, um líder corporativo que pense de maneira diversa da de Cataneo. Alguém que somente contrate funcionários que não façam parte de nenhum grupo de diversidade. Os grandes talentos iriam querer se juntar a um processo de seleção deste calibre?
Por fim, temos a governança, o conjunto de regras que levam à transparência e ao cumprimento de normas. Alguém se habilita a defender o oposto? Estender um manto de silêncio sobre todos os seus processos, promover o caixa dois e o não pagamento de impostos? Quanto tempo de vida teria uma empresa como essa?
Portanto, a tempestade perfeita seria o seguinte: uma companhia com desrespeito ímpar pelo meio ambiente, discriminatória e com contas de difícil interpretação por auditores e fiscais. Quem se candidataria a trabalhar em uma companhia assim? Que tipo de segurança uma corporação deste tipo passa aos seus colaboradores?
Curiosamente, alguns anos atrás, havia um número enorme de empresas com esse figurino no Brasil. Ainda existem empresários que pensam assim – mas talvez nenhum tenha a coragem de ir a público para reclamar sobre proteger o meio ambiente, promover a inclusão e seguir as regras contábeis e normas de conduta.
Há um lado terrivelmente chato para obter as certificações ESG: ser politicamente correto o tempo todo. Trata-se de algo dificílimo para quem foi criado no Brasil dos anos 1980 e 1990. Muitos de nós, ao longo da carreira, foram criados com exemplos de machismo, misoginia, homofobia, desprezo ao ambientalismo e predileção pelo drible nas regras de conduta.
O que torna esse aprendizado mais complicado é que uma parte desses exemplos ruins veio de pessoas que admiramos ou gostamos – indivíduos que foram moldados pelo preconceito ou valores errados, mas que no fundo tinham seu lado bom.
Além disso, temos um impulso enorme em rejeitar aquilo que é novo, como a pressão por adotarmos práticas ligadas à sigla ESG. Por fim, também enxergamos novas regras como limitadores da liberdade em atingir nossos resultados.
No entanto, essas diretrizes vieram para ficar. Brigar contra essa agenda é mais ou menos como questionar a contratação de uma auditoria externa para examinar um balanço de empresa de capital aberto. Ninguém faz isso hoje, mas antes de 1972 esta medida não era obrigatória. E, após as exigências do Banco Central neste sentido, passou-se um bom tempo se questionando a decisão, até que todos abraçaram a ideia.
Daqui a quarenta anos, alguém vai falar sobre novas regras corporativas a ser adotadas em 2061 e dizer: “vocês acreditam que em 2021 havia gente contra as normas ESG?”. Neste momento, o debate é necessário para encontrarmos os limites razoáveis que servirão de baliza para o mundo empresarial, hoje premido por conceitos que são ditados pelo mercado financeiro (o verdadeiro epicentro dessa pauta). Mas não adiante remar contra a maré. Com tanto esforço, você e sua empresa podem se afogar.
Muitos dizem que é uma modinha. Outros reclamam das dificuldades que se criam em torno de suas regras. E há aqueles que, bem, são sempre do contra. Apesar dessa torcida oposta, os preceitos ESG têm sido cada vez mais adotados pelas empresas. Mesmo assim, causam polêmica quando implementados. Muitos daqueles que protestam estão na linha Oswald de Andrade sobre um romance de José Lins do Rêgo (“não li e não gostei”) – ou seja, nem sabem direito o que vai mudar nas empresas, mas reclamam do mesmo jeito.
Por um instante, porém, vamos imaginar o que seria de uma empresa que, racionalmente, operasse de forma oposta ao que pregam os entusiastas do meio ambiente, inclusão e governança.
Em primeiro lugar, essa seria uma empresa engajada nos processos poluidores, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. A única prioridade seria com a produção, mesmo que deste processo resultasse resíduos e dejetos que comprometessem a Natureza. Haveria espaço no mundo de hoje para algo do gênero?
E por falar em gênero, vamos ao segundo tópico da pauta ESG – a inclusão social e o respeito à diversidade. Escutei, no ano retrasado, uma frase que me marcou. Em uma conversa informal, o CEO da Unysis, Mauricio Cataneo, me disse que “quando as condições entre os candidatos de emprego parecem ser similares, a empresa sempre faz a escolha pela diversidade”. Vamos imaginar, agora, um líder corporativo que pense de maneira diversa da de Cataneo. Alguém que somente contrate funcionários que não façam parte de nenhum grupo de diversidade. Os grandes talentos iriam querer se juntar a um processo de seleção deste calibre?
Por fim, temos a governança, o conjunto de regras que levam à transparência e ao cumprimento de normas. Alguém se habilita a defender o oposto? Estender um manto de silêncio sobre todos os seus processos, promover o caixa dois e o não pagamento de impostos? Quanto tempo de vida teria uma empresa como essa?
Portanto, a tempestade perfeita seria o seguinte: uma companhia com desrespeito ímpar pelo meio ambiente, discriminatória e com contas de difícil interpretação por auditores e fiscais. Quem se candidataria a trabalhar em uma companhia assim? Que tipo de segurança uma corporação deste tipo passa aos seus colaboradores?
Curiosamente, alguns anos atrás, havia um número enorme de empresas com esse figurino no Brasil. Ainda existem empresários que pensam assim – mas talvez nenhum tenha a coragem de ir a público para reclamar sobre proteger o meio ambiente, promover a inclusão e seguir as regras contábeis e normas de conduta.
Há um lado terrivelmente chato para obter as certificações ESG: ser politicamente correto o tempo todo. Trata-se de algo dificílimo para quem foi criado no Brasil dos anos 1980 e 1990. Muitos de nós, ao longo da carreira, foram criados com exemplos de machismo, misoginia, homofobia, desprezo ao ambientalismo e predileção pelo drible nas regras de conduta.
O que torna esse aprendizado mais complicado é que uma parte desses exemplos ruins veio de pessoas que admiramos ou gostamos – indivíduos que foram moldados pelo preconceito ou valores errados, mas que no fundo tinham seu lado bom.
Além disso, temos um impulso enorme em rejeitar aquilo que é novo, como a pressão por adotarmos práticas ligadas à sigla ESG. Por fim, também enxergamos novas regras como limitadores da liberdade em atingir nossos resultados.
No entanto, essas diretrizes vieram para ficar. Brigar contra essa agenda é mais ou menos como questionar a contratação de uma auditoria externa para examinar um balanço de empresa de capital aberto. Ninguém faz isso hoje, mas antes de 1972 esta medida não era obrigatória. E, após as exigências do Banco Central neste sentido, passou-se um bom tempo se questionando a decisão, até que todos abraçaram a ideia.
Daqui a quarenta anos, alguém vai falar sobre novas regras corporativas a ser adotadas em 2061 e dizer: “vocês acreditam que em 2021 havia gente contra as normas ESG?”. Neste momento, o debate é necessário para encontrarmos os limites razoáveis que servirão de baliza para o mundo empresarial, hoje premido por conceitos que são ditados pelo mercado financeiro (o verdadeiro epicentro dessa pauta). Mas não adiante remar contra a maré. Com tanto esforço, você e sua empresa podem se afogar.