Em uma eleição polarizada, Moro ficou sem padrinho político
Em segundo lugar nas pesquisas, o ex-juiz tem como principal concorrente o atual senador Alvaro Dias
Publicado em 6 de setembro de 2022 às, 14h08.
Algumas notas publicadas ontem na imprensa apostam que Sergio Moro terá de esquecer as mágoas e se aproximar de Jair Bolsonaro se quiser ter alguma chance em sua campanha para o Senado do Paraná.
Em segundo lugar nas pesquisas, o ex-juiz tem como principal concorrente o atual senador Alvaro Dias, que atua em uma faixa semelhante (crítica ao PT e à corrupção e apoio irrestrito à Lava-Jato). Se essa possibilidade se concretizar, ele terá aprendido uma das leis clássicas da política nacional: apagar o passado em nome do pragmatismo. O último exemplo deste fenômeno foi protagonizado pelo ex-governador Geraldo Alckmin quando aderiu à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
Há, porém dois problemas
O primeiro é que Bolsonaro já se comprometeu com o deputado Paulo Martins, do PL, que também disputa a única vaga aberta este ano pela Câmara Alta. Para tornar a situação do ex-juiz mais complicada, o governador Ratinho Jr., também apoiador declarado do Planalto, é aliado de Martins.
O segundo problema? Falta ainda combinar essa aproximação com Bolsonaro. O presidente ainda não esquece a forma pela qual Moro rompeu com o governo e tentou bombardeá-lo. Sabe-se que Bolsonaro dá a seus eleitores aquilo que eles querem ouvir. E, nessa base raiz, os militantes acham o ex-juiz um traidor, já que deixou o Ministério da Justiça atirando. Portanto, a possibilidade de um acerto entre os dois é remota.
Como vivemos em uma eleição de duas candidaturas principais, a outra possibilidade de Moro seria buscar o lado de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas essa hipótese não será sequer cogitada. Quando juiz, Moro colocou Lula na cadeia por conta de acusações de corrupção (meses atras, porém, o STF anulou o processo, colocando-o na estaca zero) e o PT tem verdadeira ojeriza a seu nome. O vazamento de mensagens trocadas no aplicativo Telegram acabou desnudando os exageros da Justiça durante a Operação Lava-Jato, o que também piorou a sua imagem diante da esquerda e de muitos eleitores de centro.
Moro poderia ser ainda o candidato dos isentões – ou daqueles que não desejam a vitória nem de Bolsonaro, nem de Lula. Mas essa faixa está, hoje, em baixa e mais concentrada em cima de Ciro Gomes e Simone Tebet. Se houvesse duas vagas para o Senado, como teremos em 2026, essa poderia até ser uma estratégia correta. Mas, em 2022, temos apenas uma cadeira em jogo.
Essa situação se agrava com o movimento que se observa, dos dois lados do espectro político, para que a fatura seja liquidada ainda no Primeiro Turno. Com esse antagonismo, é natural que boa parte dos eleitores acabe optando ou por Lula ou por Bolsonaro — e também escolha seus candidatos a senador das chapas apoiadas por estes candidatos. O eleitorado de Moro engoliria uma aliança com Bolsonaro, mas fugiria de um acordo com Lula. Por isso é que Moro enxerga a possibilidade de se aliar ao Planalto com alguma resignação e um certo remorso.
O fato é que o ex-juiz conseguiu antipatizar com os dois lados mais fortes da briga. Nesta altura do campeonato, ele ruma para uma derrota para seu ex-padrinho político, que o acolheu no Podemos, largado depois para que Moro ingressasse no União Brasil. Romper com Alvaro Dias talvez tenha sido um dos maiores erros cometidos na história recente da política nacional, já que o senador declarou diversas vezes que sairia da disputa majoritária para dar lugar ao ex-ministro. Agora, porém, já é tarde e as chances de vitória são escassas. Sem plano B, Moro deverá amargar o ostracismo e, o que é pior, a falta de holofotes. Correndo o risco de enfrentar alguns processos – vindos inclusive do PT.
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