Eleição no Senado: a hora da verdade
Eleição no Senado acontece nesta quarta-feira
Da Redação
Publicado em 1 de fevereiro de 2023 às 12h00.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2023 às 18h40.
A eleição pra a presidência do Senado ganhou contornos inesperados nos últimos dias, com o crescimento inequívoco da candidatura de Rogério Marinho, que representa a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Turbinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Marinho ganhou novos adeptos diariamente, reduzindo a base de Rodrigo Pacheco, o atual mandachuva da mesa diretora do Senado.
O governo, que apoia Pacheco, se mexeu. Como cada voto é importante em uma disputa acirrada como esta, Lula mandou o ministro da agricultura, Carlos Fávaro, voltar ao Congresso por um dia para votar no candidato da situação. O próprio presidente está ligando para os senadores de sua base, para evitar traições e garantir a maioria dos sufrágios em favor de Rodrigo Pacheco. Nesse esforço de reta final, Lula ganhou um aliado do poder Judiciário: o ministro Alexandre de Moraes, que poderia ser alvo de um processo de impeachment caso Marinho ocupe a cadeira mais importante da Câmara Alta.
Na prática, essa votação pode mostrar, enfim, qual é o verdadeiro cacife que cada ala política tem. No caso da Câmara, o domínio de Arthur Lira é muito grande e atinge todo o espectro ideológico dos deputados federais. Já no Senado, porém, não há uma barbada. Rodrigo Pacheco ainda é o favorito, mas há chances de vitória por parte de Marinho.
O mecanismo de voto para a presidência do Senado coloca mais tempero nessa disputa – é que o método não evoluiu há décadas e permite um grande número de traições. Cada voto é colocado em um envelope, que é contado pela mesa. Assim, um candidato pode esperar o apoio de um colega, que acaba sufragando outro nome na hora H.
Neste festival de traições, tivemos vários senadores que estavam sentindo o cheiro da vitória, mas não passaram nem para o segundo turno da votação. Porém, nenhuma eleição para a presidência do Senado foi tão conturbada quanto a de 2001. Antônio Carlos Magalhães e Jáder Barbaho eram inimigos declarados. ACM era o presidente da Câmara Alta e não poderia ser reeleito na legislatura seguinte. Ele, então, indicou um correligionário para disputar com Barbalho, que venceu por 41 votos dentro de um universo de 81 parlamentares.
Essa história não tem final feliz: Antônio Carlos renunciou três meses após a eleição, para escapar de um processo de cassação. Jáder teve o mesmo destino e abdicou da presidência do Senado e do mandato (os descendentes de ambos estão na política, mas não têm tanta vocação para a briga como os antepassados).
Uma frase tirada do livro “Jogos Vorazes” pode resumir o que se passa no Congresso durante as eleições das mesas diretoras. E, neste contexto, talvez a palavra “traição” esteja mal-empregada. “Para haver traição, seria necessário existir confiança primeiro”, escreveu Suzanne Collins. Como se sabe, confiança entre políticos é mercadoria escassa e rara – para não dizer inexistente.
A eleição pra a presidência do Senado ganhou contornos inesperados nos últimos dias, com o crescimento inequívoco da candidatura de Rogério Marinho, que representa a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Turbinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Marinho ganhou novos adeptos diariamente, reduzindo a base de Rodrigo Pacheco, o atual mandachuva da mesa diretora do Senado.
O governo, que apoia Pacheco, se mexeu. Como cada voto é importante em uma disputa acirrada como esta, Lula mandou o ministro da agricultura, Carlos Fávaro, voltar ao Congresso por um dia para votar no candidato da situação. O próprio presidente está ligando para os senadores de sua base, para evitar traições e garantir a maioria dos sufrágios em favor de Rodrigo Pacheco. Nesse esforço de reta final, Lula ganhou um aliado do poder Judiciário: o ministro Alexandre de Moraes, que poderia ser alvo de um processo de impeachment caso Marinho ocupe a cadeira mais importante da Câmara Alta.
Na prática, essa votação pode mostrar, enfim, qual é o verdadeiro cacife que cada ala política tem. No caso da Câmara, o domínio de Arthur Lira é muito grande e atinge todo o espectro ideológico dos deputados federais. Já no Senado, porém, não há uma barbada. Rodrigo Pacheco ainda é o favorito, mas há chances de vitória por parte de Marinho.
O mecanismo de voto para a presidência do Senado coloca mais tempero nessa disputa – é que o método não evoluiu há décadas e permite um grande número de traições. Cada voto é colocado em um envelope, que é contado pela mesa. Assim, um candidato pode esperar o apoio de um colega, que acaba sufragando outro nome na hora H.
Neste festival de traições, tivemos vários senadores que estavam sentindo o cheiro da vitória, mas não passaram nem para o segundo turno da votação. Porém, nenhuma eleição para a presidência do Senado foi tão conturbada quanto a de 2001. Antônio Carlos Magalhães e Jáder Barbaho eram inimigos declarados. ACM era o presidente da Câmara Alta e não poderia ser reeleito na legislatura seguinte. Ele, então, indicou um correligionário para disputar com Barbalho, que venceu por 41 votos dentro de um universo de 81 parlamentares.
Essa história não tem final feliz: Antônio Carlos renunciou três meses após a eleição, para escapar de um processo de cassação. Jáder teve o mesmo destino e abdicou da presidência do Senado e do mandato (os descendentes de ambos estão na política, mas não têm tanta vocação para a briga como os antepassados).
Uma frase tirada do livro “Jogos Vorazes” pode resumir o que se passa no Congresso durante as eleições das mesas diretoras. E, neste contexto, talvez a palavra “traição” esteja mal-empregada. “Para haver traição, seria necessário existir confiança primeiro”, escreveu Suzanne Collins. Como se sabe, confiança entre políticos é mercadoria escassa e rara – para não dizer inexistente.