Duas reflexões rápidas sobre as eleições
Aluizio Falcão Filho faz uma análise do cenário eleitoral após os resultados do primeiro turno das eleições 2022
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2022 às 10h33.
Para começar, vamos falar do processo de renovação no poder legislativo, que continua em marcha. Vários nomes tradicionais do Parlamento ficaram de fora na eleição de domingo. Ex-candidato à presidência, ex-ministro, ex-governador, ex-prefeito e senador por dois mandatos, José Serra não conseguiu se eleger como deputado federal. Teve pouco mais de 88 000 votos e ficou na primeira suplência do PSDB.
Serra enfrentou problemas de saúde nos últimos tempos e, com 80 anos, fez uma campanha limitada. Em 2020, foi alvo da Operação Lava-Jato, o que acabou provocando críticas dentro e fora de seu partido, o PSDB.
Outro nome experiente e barrado pelas urnas foi o do sindicalista Paulinho da Força, que cravou 64 000 votos, mas não foi o suficiente para obter o coeficiente eleitoral. Deve ficar na suplência do Solidariedade. Na esfera sindical, Vicentinho, do PT, também não foi eleito.
Aqueles que brigaram com Jair Bolsonaro foram punidos pelo eleitorado conservador de maneira geral. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, por exemplo, perdeu a disputa pelo Senado em Mato Grosso do Sul. Entre os deputados federais, Joice Hasselman (que obteve pouco mais de um milhão de votos em 2018) chegou a 13 mil sufrágios no domingo e ficou pelo caminho. Alexandre Frota, que foi pela mesma trilha, já tinha optado por buscar um mandato de deputado estadual, mas não conseguiu ser eleito para a Assembleia Legislativa. A exceção? Sergio Moro, eleito senador pelo Paraná.
Já nomes alinhados com o presidente foram muito bem na eleição parlamentar por São Paulo. O ex-ministro Ricardo Salles, por exemplo, ultrapassou a barreira de 600 000 votos. Carla Zambelli chegou perto da marca de 1 milhão de votos e Mário Frias também foi eleito. Em compensação, Eduardo Bolsonaro perdeu quase um milhão de votos em relação à eleição passada – e a médica Nise Yamaguchi não obteve votação suficiente para uma cadeira na Câmara. No outro espectro eleitoral, o líder do MTST, Guilherme Boulos, surfou a onda do eleitorado jovem e, com pouco mais de um milhão de votos, foi o deputado federal mais votado por São Paulo e o segundo do Brasil.
Bolsonaro também proporcionou a eleição de senadores com votação expressiva: Marcos Pontes, Tereza Cristina, Magno Malta e Damares Alves. Aliás, o Senado ganhou uma nova configuração com o pleito de 2022 – e pode trazer dores de cabeça aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Com um número maior de senadores conservadores, é possível que o próximo presidente do Senado fique na mão deste grupo. Daí à abertura de um pedido de impeachment para um ministro do STF pode ser um passo.
Para finalizar: por que se fala tanto em fraude eleitoral?
Enquanto os votos eram somados pela Justiça Eleitoral no domingo à noite, dezenas de matemáticos de plantão começavam a despejar teorias da conspiração para tentar convencer os incautos de que a eleição estava sendo fraudada. Houve de silogismos matemáticos a acusações do uso de algoritmo para justificar o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva na reta final. Também houve comparações entre as votações de Jair Bolsonaro com candidatos a senador no Nordeste e as do governador Romeu Zema e de Lula em Minas Gerais. Discussões sobre a curva de votação começaram no domingo e avançaram pela segunda-feira.
Em 2018, no primeiro turno, houve algo parecido – tanto que o presidente Bolsonaro já disse mais de uma vez que ele deveria ter sido eleito no primeiro turno (o mandatário não explicou, no entanto, porque o autor da fraude o deixou vencer na segunda etapa das eleições).
Por que existe essa obsessão em torno do tema?Quando acontece algo que não compreendemos ou com o qual não concordamos, nossa mente procura encontrar explicações. Porém, muitos de nós preferem, de forma inconsciente, encontrar justificativas que preservem as nossas convicções. No caso, a certeza em questão é a de que Bolsonaro não poderia ter menos votos que Lula – ou que teria de manter a dianteira obtida no início da apuração.
Bem, por conta de nossa convivência em bolhas digitais e no mundo real, é realmente difícil ver o outro lado. Entre os apoiadores de Lula, por exemplo, muitos ficaram inconformados com o resultado final das urnas – pois sua amostra pessoal refletia a vantagem astronômica que o PT parecia ter nas pesquisas.
O fato é que a liderança de Lula não era tão grande e que Bolsonaro entra no segundo turno revigorado. Será uma disputa parelha, com votos disputados passo a passo. Preparem seus corações – ou novas teorias da conspiração.
Para começar, vamos falar do processo de renovação no poder legislativo, que continua em marcha. Vários nomes tradicionais do Parlamento ficaram de fora na eleição de domingo. Ex-candidato à presidência, ex-ministro, ex-governador, ex-prefeito e senador por dois mandatos, José Serra não conseguiu se eleger como deputado federal. Teve pouco mais de 88 000 votos e ficou na primeira suplência do PSDB.
Serra enfrentou problemas de saúde nos últimos tempos e, com 80 anos, fez uma campanha limitada. Em 2020, foi alvo da Operação Lava-Jato, o que acabou provocando críticas dentro e fora de seu partido, o PSDB.
Outro nome experiente e barrado pelas urnas foi o do sindicalista Paulinho da Força, que cravou 64 000 votos, mas não foi o suficiente para obter o coeficiente eleitoral. Deve ficar na suplência do Solidariedade. Na esfera sindical, Vicentinho, do PT, também não foi eleito.
Aqueles que brigaram com Jair Bolsonaro foram punidos pelo eleitorado conservador de maneira geral. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, por exemplo, perdeu a disputa pelo Senado em Mato Grosso do Sul. Entre os deputados federais, Joice Hasselman (que obteve pouco mais de um milhão de votos em 2018) chegou a 13 mil sufrágios no domingo e ficou pelo caminho. Alexandre Frota, que foi pela mesma trilha, já tinha optado por buscar um mandato de deputado estadual, mas não conseguiu ser eleito para a Assembleia Legislativa. A exceção? Sergio Moro, eleito senador pelo Paraná.
Já nomes alinhados com o presidente foram muito bem na eleição parlamentar por São Paulo. O ex-ministro Ricardo Salles, por exemplo, ultrapassou a barreira de 600 000 votos. Carla Zambelli chegou perto da marca de 1 milhão de votos e Mário Frias também foi eleito. Em compensação, Eduardo Bolsonaro perdeu quase um milhão de votos em relação à eleição passada – e a médica Nise Yamaguchi não obteve votação suficiente para uma cadeira na Câmara. No outro espectro eleitoral, o líder do MTST, Guilherme Boulos, surfou a onda do eleitorado jovem e, com pouco mais de um milhão de votos, foi o deputado federal mais votado por São Paulo e o segundo do Brasil.
Bolsonaro também proporcionou a eleição de senadores com votação expressiva: Marcos Pontes, Tereza Cristina, Magno Malta e Damares Alves. Aliás, o Senado ganhou uma nova configuração com o pleito de 2022 – e pode trazer dores de cabeça aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Com um número maior de senadores conservadores, é possível que o próximo presidente do Senado fique na mão deste grupo. Daí à abertura de um pedido de impeachment para um ministro do STF pode ser um passo.
Para finalizar: por que se fala tanto em fraude eleitoral?
Enquanto os votos eram somados pela Justiça Eleitoral no domingo à noite, dezenas de matemáticos de plantão começavam a despejar teorias da conspiração para tentar convencer os incautos de que a eleição estava sendo fraudada. Houve de silogismos matemáticos a acusações do uso de algoritmo para justificar o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva na reta final. Também houve comparações entre as votações de Jair Bolsonaro com candidatos a senador no Nordeste e as do governador Romeu Zema e de Lula em Minas Gerais. Discussões sobre a curva de votação começaram no domingo e avançaram pela segunda-feira.
Em 2018, no primeiro turno, houve algo parecido – tanto que o presidente Bolsonaro já disse mais de uma vez que ele deveria ter sido eleito no primeiro turno (o mandatário não explicou, no entanto, porque o autor da fraude o deixou vencer na segunda etapa das eleições).
Por que existe essa obsessão em torno do tema?Quando acontece algo que não compreendemos ou com o qual não concordamos, nossa mente procura encontrar explicações. Porém, muitos de nós preferem, de forma inconsciente, encontrar justificativas que preservem as nossas convicções. No caso, a certeza em questão é a de que Bolsonaro não poderia ter menos votos que Lula – ou que teria de manter a dianteira obtida no início da apuração.
Bem, por conta de nossa convivência em bolhas digitais e no mundo real, é realmente difícil ver o outro lado. Entre os apoiadores de Lula, por exemplo, muitos ficaram inconformados com o resultado final das urnas – pois sua amostra pessoal refletia a vantagem astronômica que o PT parecia ter nas pesquisas.
O fato é que a liderança de Lula não era tão grande e que Bolsonaro entra no segundo turno revigorado. Será uma disputa parelha, com votos disputados passo a passo. Preparem seus corações – ou novas teorias da conspiração.