Dinheiro na cueca: nada como um dia após o outro
Dias depois de Bolsonaro afirmar que acabou com a Lava-Jato porque não existe mais corrupção, um vice-líder é pego com cédulas escondidas na roupa íntima
isabelarovaroto
Publicado em 15 de outubro de 2020 às 09h32.
Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 09h46.
A Crusoé deu a informação, confirmada pelos jornais O Globo e Estadão: o senador Chico Rodrigues, vice-líder do governo no Senado e alvo de uma operação da Polícia Federal no dia de ontem, escondeu dos agentes que faziam a diligência dinheiro vivo em sua cueca. O momento constrangedor teria sido registrado em vídeo e, caso essa gravação exista mesmo, deve pipocar nas redes sociais em breve (de seu lado, a assessoria do parlamentar afirmou desconhecer a apreensão de numerário com Rodrigues, mas não chegou a negá-la).
Trata-se de uma ironia do destino. Dias depois que o presidente Jair Bolsonaro afirmar que acabou com a Operação Lava-Jato porque não existe mais corrupção no Brasil, um vice-líder da bancada é pego com cédulas escondidas em suas roupas íntimas.
Dinheiro na cueca, até ontem, era sinônimo de corrupção, mas associado ao Partido dos Trabalhadores. Para quem não se lembra, José Adalberto Vieira, assessor do deputado petista José Guimarães, foi preso no aeroporto de Congonhas com US$ 100 000 na cueca, além de R$ 209 000 em uma maleta. O assunto foi explorado até pelo ministro Paulo Guedes, em uma sabatina na Câmara, quando foi questionado pelo congressista Guimarães. Guedes, então, cutucou:
- O custo de transição, respondendo ao nosso deputado José Guimarães… Também se eu "googlar" dinheiro na cueca vai aparecer coisa, né? Depois de seis horas a baixaria começa, né? É o padrão da casa, né? Ofensa… Já entendi o padrão.
Houve um alvoroço no plenário, mas o ministro da Economia, naquele maio de 2019, falava grosso como uma das autoridades máximas de um governo que assumira meses antes para dar um basta nas propinas que corriam soltas em Brasília.
Nada como um dia após o outro. Depois de despachar o ministro Sérgio Moro e fazer um acordo de apoio político com o Centrão, o combate ostensivo à corrupção deixou de fazer parte das prioridades do da administração federal. E justamente no meio deste cenário, um dos nomes proeminentes da base parlamentar do governo é pego com dinheiro em sua roupa-de-baixo.
A cena embaraçosa ganha contornos de pura justiça poética, poderia dizer Moro. O ex-juiz, há alguns meses, é crítico da frouxidão com a qual o governo está conduzindo a batalha contra a corrupção – e aponta a aliança com o Centrão como uma das explicações deste comportamento. O flagrante do meio circulante dentro das ceroulas parlamentares vem para corroborar o raciocínio daquele que pode ser um forte concorrente de Jair Bolsonaro em 2022.
Essa crise não é exatamente do Planalto, mas respinga fortemente na imagem do presidente. Em primeiro lugar, por conta do comentário infeliz direcionado à Lava Jato. Em seguida, por ter um de seus principais nomes no Congresso envolvido numa Operação da PF com detalhes escatológicos. Por fim, ao ligar o seu próprio nome – até pouco tempo atrás, sintonizado com a luta contra o corrompimento – a políticos que têm acusações pesadas de desvio de verbas.
Trata-se de um governo sui generis.
Começou arvorando-se do monopólio da honestidade e atacando todos os que faziam parte da chamada Velha Política. Depois, associou-se exatamente com este grupo para conquistar estabilidade parlamentar. Neste mesmo início de gestão Bolsonaro, havia uma espécie de obsessão de se comparar o tempo todo com o PT, mostrando o quão melhor a nova administração era.
O governo Bolsonaro deixou para trás os ideais liberais e passou a rezar pela cartilha do assistencialismo social, exatamente como fizeram os petistas em seus 14 anos de mandato. E, agora, um de seus principais parlamentares é pego com dinheiro na cueca. Quando os militantes do Movimento Brasil Livre, com o deputado Kim Kataguiri à frente, começaram a usar o termo “bolsopetismo” para definir os rumos do governo desde a metade de 2020, não tinham ideia da profecia involuntária que estavam fazendo.
Com a Operação envolvendo Chico Rodrigues, as semelhanças entre o Bolsonarismo e o Petismo aumentam. Ainda há uma distância ideológica enorme entre as duas tendências políticas, é importante frisar. Mas nem o mais cético dos analistas políticos iria imaginar um cenário como o atual, temperado com o ingrediente inusitado do dinheiro escondido dentro das calças. E nem o mais criativo dos roteiristas de Hollywood poderia inventar uma trama tão inusitada como esta – com toques de humor involuntário.
A Crusoé deu a informação, confirmada pelos jornais O Globo e Estadão: o senador Chico Rodrigues, vice-líder do governo no Senado e alvo de uma operação da Polícia Federal no dia de ontem, escondeu dos agentes que faziam a diligência dinheiro vivo em sua cueca. O momento constrangedor teria sido registrado em vídeo e, caso essa gravação exista mesmo, deve pipocar nas redes sociais em breve (de seu lado, a assessoria do parlamentar afirmou desconhecer a apreensão de numerário com Rodrigues, mas não chegou a negá-la).
Trata-se de uma ironia do destino. Dias depois que o presidente Jair Bolsonaro afirmar que acabou com a Operação Lava-Jato porque não existe mais corrupção no Brasil, um vice-líder da bancada é pego com cédulas escondidas em suas roupas íntimas.
Dinheiro na cueca, até ontem, era sinônimo de corrupção, mas associado ao Partido dos Trabalhadores. Para quem não se lembra, José Adalberto Vieira, assessor do deputado petista José Guimarães, foi preso no aeroporto de Congonhas com US$ 100 000 na cueca, além de R$ 209 000 em uma maleta. O assunto foi explorado até pelo ministro Paulo Guedes, em uma sabatina na Câmara, quando foi questionado pelo congressista Guimarães. Guedes, então, cutucou:
- O custo de transição, respondendo ao nosso deputado José Guimarães… Também se eu "googlar" dinheiro na cueca vai aparecer coisa, né? Depois de seis horas a baixaria começa, né? É o padrão da casa, né? Ofensa… Já entendi o padrão.
Houve um alvoroço no plenário, mas o ministro da Economia, naquele maio de 2019, falava grosso como uma das autoridades máximas de um governo que assumira meses antes para dar um basta nas propinas que corriam soltas em Brasília.
Nada como um dia após o outro. Depois de despachar o ministro Sérgio Moro e fazer um acordo de apoio político com o Centrão, o combate ostensivo à corrupção deixou de fazer parte das prioridades do da administração federal. E justamente no meio deste cenário, um dos nomes proeminentes da base parlamentar do governo é pego com dinheiro em sua roupa-de-baixo.
A cena embaraçosa ganha contornos de pura justiça poética, poderia dizer Moro. O ex-juiz, há alguns meses, é crítico da frouxidão com a qual o governo está conduzindo a batalha contra a corrupção – e aponta a aliança com o Centrão como uma das explicações deste comportamento. O flagrante do meio circulante dentro das ceroulas parlamentares vem para corroborar o raciocínio daquele que pode ser um forte concorrente de Jair Bolsonaro em 2022.
Essa crise não é exatamente do Planalto, mas respinga fortemente na imagem do presidente. Em primeiro lugar, por conta do comentário infeliz direcionado à Lava Jato. Em seguida, por ter um de seus principais nomes no Congresso envolvido numa Operação da PF com detalhes escatológicos. Por fim, ao ligar o seu próprio nome – até pouco tempo atrás, sintonizado com a luta contra o corrompimento – a políticos que têm acusações pesadas de desvio de verbas.
Trata-se de um governo sui generis.
Começou arvorando-se do monopólio da honestidade e atacando todos os que faziam parte da chamada Velha Política. Depois, associou-se exatamente com este grupo para conquistar estabilidade parlamentar. Neste mesmo início de gestão Bolsonaro, havia uma espécie de obsessão de se comparar o tempo todo com o PT, mostrando o quão melhor a nova administração era.
O governo Bolsonaro deixou para trás os ideais liberais e passou a rezar pela cartilha do assistencialismo social, exatamente como fizeram os petistas em seus 14 anos de mandato. E, agora, um de seus principais parlamentares é pego com dinheiro na cueca. Quando os militantes do Movimento Brasil Livre, com o deputado Kim Kataguiri à frente, começaram a usar o termo “bolsopetismo” para definir os rumos do governo desde a metade de 2020, não tinham ideia da profecia involuntária que estavam fazendo.
Com a Operação envolvendo Chico Rodrigues, as semelhanças entre o Bolsonarismo e o Petismo aumentam. Ainda há uma distância ideológica enorme entre as duas tendências políticas, é importante frisar. Mas nem o mais cético dos analistas políticos iria imaginar um cenário como o atual, temperado com o ingrediente inusitado do dinheiro escondido dentro das calças. E nem o mais criativo dos roteiristas de Hollywood poderia inventar uma trama tão inusitada como esta – com toques de humor involuntário.