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Debate amarrado, com Lula apagado e Bolsonaro lacrador. Ciro foi a surpresa

Performance no evento conseguirá colocar o candidato do PDT no Segundo Turno? Dificilmente

(Nelson Almeida/AFP/Sopa Images/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2022 às 09h50.

Aluizio Falcão Filho

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram as estrelas do debate entre os candidatos à Presidência transmitido ontem pela Band. Com uma caneta Bic colocada no bolso da frente do paletó, Bolsonaro fez intervenções sob medida para levantar seus seguidores nas redes, chamando Lula de ex-presidiário três vezes. Já Lula, apesar do protagonismo, esteve apagado na maior parte do tempo.

A grande surpresa foi Ciro Gomes. Controlado e seguro, usou um tom ameno na maior parte do tempo e conseguiu falar de algumas propostas. Nada a ver com o Ciro passional que muitas vezes surge em aparições públicas. Cutucou os oponentes sem vulgaridade e passou uma imagem positiva. Mas essa performance no evento conseguirá colocar o candidato do PDT no Segundo Turno? Dificilmente.

Felipe D’Ávila, Simone Tebet e Soraya Thronicke foram coadjuvantes com um desempenho que poderia ter sido melhor. Thronicke estava visivelmente tensa. D’Ávila usou um tom de voz ligeiramente irritadiço e Tebet tentou encontrar um equilíbrio, mas criticou mais Bolsonaro que Lula. Um detalhe interessante foi o momento em que D’Ávila levantou a bola para Ciro falar da educação no Ceará. Em outro segmento, recebeu de volta a gentileza, quando o pedetista o chamou para falar sobre o endividamento dos brasileiros na atual conjuntura econômica.

O debate ficará marcado por um detalhe: foi a primeira vez que Lula e Bolsonaro se enfrentaram. Durante todo o tempo, um ficou alfinetando o outro, buscando desestabilizar o lado oposto. Outro ponto curioso: Ciro ficou provocando os maiores adversários quando seu microfone era desligado.

No tocante à defesa do direito das mulheres, tivemos momentos constrangedores. Em uma pergunta sobre vacinação, Bolsonaro criticou a autora da questão, a jornalista Vera Magalhães. Um movimento que foi aplaudido por seus eleitores. Mas essa conduta pode causar problemas. Magalhães é uma jornalista que faz críticas ao governo e é seguidamente atacada por bolsonaristas, mas conhecida apenas por uma minoria entre os eleitores. Como sabemos, a maioria do eleitorado brasileiros é composto por mulheres (52,65% do total). Ou seja, essas eleitoras – em sua maioria absoluta – viram o presidente ser deselegante com uma jornalista. Será que valeu a pena desopilar o fígado e atacar uma representante do sexo feminino que não pega leve com o governo? Provavelmente não. Quando perguntado se iria ter metade de seu ministério composto por mulheres, o ex-presidente Lula saiu pela tangente, desagradando visivelmente as candidatas Tebet e Thronicke. Sobrou até para Ciro, quando Bolsonaro lembrou da frase infeliz no passado sobre sua ex-mulher, Patrícia Pillar (o candidato pediu, novamente, desculpas pelo que disse).

A dinâmica do debate, com seis candidatos, fica extremamente arrastada. Talvez, no futuro, seja o caso de reduzir o número total de candidatos, quem sabe para quatro nomes. Outro ponto importante: as regras atuais provocam um evento monótono e previsível. Como todas as equipes de candidatos são envolvidas na aprovação das regras, o caminho natural é que as normas mais protegem os candidatos do que os deixam à mercê de situações capciosas.

Cutucadas memoráveis do passado (como “filhote da ditadura”, vociferada por Leonel Brizola a Paulo Maluf ou “cambalacheiro”, de Fernando Collor para Luiz Inácio Lula da Silva – as duas em 1989) não têm mais espaço no atual modelo. Se um dos debatedores soltar uma dessas pérolas, estará automaticamente criando um direito de resposta e elevando a minutagem do adversário durante o programa.

Os debates antigos eram mais amadores, isso é verdade. Mas propiciavam momentos divertidos de descontração ou de tensão quase insuportável. Sem tanto gesso, o comportamento dos candidatos era mais espontâneo e era possível enxergar parte da personalidade do político.

Hoje, além das normas, os candidatos passam por tanto treinamento que parecem mais autômatos que humanos. Isso vale, inclusive, para entrevistas que ocorrem nessa época da campanha. Entrar no YouTube e assistir os debates dos anos 1980 é como ver a transmissão dos jogos da seleção brasileira na Copa de 1970 e comparar essa performance com o time atual – percebe-se que há uma diferença no estilo de jogo, mas a superioridade técnica de cada jogador é perceptível em pouquíssimo tempo de transmissão.

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Aluizio Falcão Filho

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A grande surpresa foi Ciro Gomes. Controlado e seguro, usou um tom ameno na maior parte do tempo e conseguiu falar de algumas propostas. Nada a ver com o Ciro passional que muitas vezes surge em aparições públicas. Cutucou os oponentes sem vulgaridade e passou uma imagem positiva. Mas essa performance no evento conseguirá colocar o candidato do PDT no Segundo Turno? Dificilmente.

Felipe D’Ávila, Simone Tebet e Soraya Thronicke foram coadjuvantes com um desempenho que poderia ter sido melhor. Thronicke estava visivelmente tensa. D’Ávila usou um tom de voz ligeiramente irritadiço e Tebet tentou encontrar um equilíbrio, mas criticou mais Bolsonaro que Lula. Um detalhe interessante foi o momento em que D’Ávila levantou a bola para Ciro falar da educação no Ceará. Em outro segmento, recebeu de volta a gentileza, quando o pedetista o chamou para falar sobre o endividamento dos brasileiros na atual conjuntura econômica.

O debate ficará marcado por um detalhe: foi a primeira vez que Lula e Bolsonaro se enfrentaram. Durante todo o tempo, um ficou alfinetando o outro, buscando desestabilizar o lado oposto. Outro ponto curioso: Ciro ficou provocando os maiores adversários quando seu microfone era desligado.

No tocante à defesa do direito das mulheres, tivemos momentos constrangedores. Em uma pergunta sobre vacinação, Bolsonaro criticou a autora da questão, a jornalista Vera Magalhães. Um movimento que foi aplaudido por seus eleitores. Mas essa conduta pode causar problemas. Magalhães é uma jornalista que faz críticas ao governo e é seguidamente atacada por bolsonaristas, mas conhecida apenas por uma minoria entre os eleitores. Como sabemos, a maioria do eleitorado brasileiros é composto por mulheres (52,65% do total). Ou seja, essas eleitoras – em sua maioria absoluta – viram o presidente ser deselegante com uma jornalista. Será que valeu a pena desopilar o fígado e atacar uma representante do sexo feminino que não pega leve com o governo? Provavelmente não. Quando perguntado se iria ter metade de seu ministério composto por mulheres, o ex-presidente Lula saiu pela tangente, desagradando visivelmente as candidatas Tebet e Thronicke. Sobrou até para Ciro, quando Bolsonaro lembrou da frase infeliz no passado sobre sua ex-mulher, Patrícia Pillar (o candidato pediu, novamente, desculpas pelo que disse).

A dinâmica do debate, com seis candidatos, fica extremamente arrastada. Talvez, no futuro, seja o caso de reduzir o número total de candidatos, quem sabe para quatro nomes. Outro ponto importante: as regras atuais provocam um evento monótono e previsível. Como todas as equipes de candidatos são envolvidas na aprovação das regras, o caminho natural é que as normas mais protegem os candidatos do que os deixam à mercê de situações capciosas.

Cutucadas memoráveis do passado (como “filhote da ditadura”, vociferada por Leonel Brizola a Paulo Maluf ou “cambalacheiro”, de Fernando Collor para Luiz Inácio Lula da Silva – as duas em 1989) não têm mais espaço no atual modelo. Se um dos debatedores soltar uma dessas pérolas, estará automaticamente criando um direito de resposta e elevando a minutagem do adversário durante o programa.

Os debates antigos eram mais amadores, isso é verdade. Mas propiciavam momentos divertidos de descontração ou de tensão quase insuportável. Sem tanto gesso, o comportamento dos candidatos era mais espontâneo e era possível enxergar parte da personalidade do político.

Hoje, além das normas, os candidatos passam por tanto treinamento que parecem mais autômatos que humanos. Isso vale, inclusive, para entrevistas que ocorrem nessa época da campanha. Entrar no YouTube e assistir os debates dos anos 1980 é como ver a transmissão dos jogos da seleção brasileira na Copa de 1970 e comparar essa performance com o time atual – percebe-se que há uma diferença no estilo de jogo, mas a superioridade técnica de cada jogador é perceptível em pouquíssimo tempo de transmissão.

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