Coronavírus: chegamos à fase de imunização do rebanho?
A economia está reabrindo aos poucos. Mas a pergunta que não quer calar é: será seguro sair às ruas e frequentar bares e restaurantes daqui para frente?
Maurício Grego
Publicado em 27 de junho de 2020 às 10h30.
O governo de São Paulo anunciou ontem que vai liberar, com restrições, o funcionamento de bares e restaurantes na capital paulista a partir de 6 de julho. A decisão, que terá de ser validada pela prefeitura no até o dia 3, vem num momento em que a taxa de contágio e o índice de ocupação dos leitos de UTI estão de fato caindo na maior cidade do país.
O declínio dos números mostra que as medidas de isolamento tiveram o efeito de frear a contaminação e evitar o colapso do sistema público de saúde, algo que ocorreu na região da Lombardia, na Itália. Esperava-se inclusive que o contágio fosse ainda maior, tanto é que o hospital de campanha do Pacaembu está sendo desativado.
Mas a pergunta que não quer calar é: será seguro sair às ruas e frequentar bares e restaurantes daqui para frente?
É importante lembrar que o vírus não desapareceu. Ele veio para ficar, assim o influenza surgiu no início do século 20 e está entre nós, com inúmeras mutações, até hoje. Portanto, segurança absoluta só existirá quando tivermos uma vacina ou um medicamento comprovadamente eficaz contra a covid-19 .
As restrições para a reabertura de bares e restaurantes (além de salões de beleza e outras modalidades de comércio) reduzem substancialmente a capacidade destes estabelecimentos, com a exigência de uma distância mínima entre mesas. Aqueles que têm espaços ao ar livre surgem como uma opção interessante para os frequentadores – embora estejamos, em São Paulo, entrando no inverno. No exato momento em que essa coluna é escrita, por exemplo, cai uma chuva torrencial pela cidade.
Uma dúvida paira sobre os donos destes estabelecimentos: o cliente virá? Uma parte, seguramente, sim. Há, inclusive, um movimento clandestino que se observa na classe alta paulistana. Muitas pessoas já estão frequentando alguns restaurantes que, ao melhor estilo “speak-easy” na Lei Seca americana, vêm recebendo clientes de longa data para jantares particulares em seus salões. O acesso se dá de forma discreta. Mas já ouvi inúmeros relatos de quem conversou com um amigo (chef, dono ou mâitre) e conseguiu uma mesa discreta, longe dos olhos da fiscalização, para um jantar privado. Além disso, há várias pessoas que estão em plena confraternização, retomando o convívio social. Este contato se dá em jantares nas casas de amigos ou visitas na praia ou no interior.
O estresse provocado pela pandemia relativizou a sensação de risco. Três meses atrás, a situação era completamente desconhecida pela população. Hoje, já há algum conhecimento sobre os efeitos do coronavírus e os riscos começam a ser aceitos por alguns.
Esta é a porta aberta para o que os especialistas chamam de imunização do rebanho – a fase em que a sociedade como um todo entra em contato com o vírus. Infelizmente, esse processo causa a morte daqueles cujos organismos não conseguem vencer a luta contra a enfermidade. Mas muitos acreditam que há um contingente razoável de pessoas que está disposta a pagar para ver e retomar suas atividades profissionais e sociais.
No início, este comportamento não deverá ser adotado pela maioria da população, é verdade, mas por um número suficiente de indivíduos que pode fazer o coronavírus circular mais. Hoje, por exemplo, uma pesquisa divulgada hoje pelo Datafolha aponta que, para 76% dos brasileiros, as escolas devem permanecer fechadas pelos próximos dois meses. Isso seria um indício de que três quartos dos entrevistados ainda têm aversão à ideia de sair de casa nos próximos dias.
Mas as fotos que circulam nos jornais de hoje com banhistas lotando a praia de Bornemouth, no litoral da Grã-Bretanha, mostram que os europeus parecem ter deixado para trás o medo. O mesmo foi observado dias atrás, quando um vídeo com parisienses comendo e bebendo nas calçadas do Quartier Latin circulou nas redes sociais. Os europeus estão no mínimo um mês à frente dos brasileiros neste processo e já passaram pelo que estamos passando. Eles, pelo jeito, resolveram desencanar. O que acontecerá no Brasil?
Ao examinarmos as fotos das praias europeias, é possível imaginar que entraremos rapidamente nesta etapa e que o conceito de imunização do rebanho poderá arrebatar a classe média. Se este é melhor caminho só os cientistas podem dizer com certeza. Mas, mesmo que não seja o melhor, parece ser inevitável. O ser humano não foi feito para o isolamento e, em algum momento, vai desistir da quarentena. Esse fenômeno ocorreu durante a gripe espanhola e provocou inúmeras mortes, mas imunizou a população. Haverá o mesmo com o coronavírus? Só o tempo dirá. A única forma de se evitar a imunização do rebanho é através dos laboratórios. Mas eles conseguirão encontrar uma solução rápida? Vamos torcer. Mas as chances são pequenas de termos algum resultado concreto em menos de um ano. Portanto, apertem os cintos. Ainda teremos muitas emoções à frente.
O governo de São Paulo anunciou ontem que vai liberar, com restrições, o funcionamento de bares e restaurantes na capital paulista a partir de 6 de julho. A decisão, que terá de ser validada pela prefeitura no até o dia 3, vem num momento em que a taxa de contágio e o índice de ocupação dos leitos de UTI estão de fato caindo na maior cidade do país.
O declínio dos números mostra que as medidas de isolamento tiveram o efeito de frear a contaminação e evitar o colapso do sistema público de saúde, algo que ocorreu na região da Lombardia, na Itália. Esperava-se inclusive que o contágio fosse ainda maior, tanto é que o hospital de campanha do Pacaembu está sendo desativado.
Mas a pergunta que não quer calar é: será seguro sair às ruas e frequentar bares e restaurantes daqui para frente?
É importante lembrar que o vírus não desapareceu. Ele veio para ficar, assim o influenza surgiu no início do século 20 e está entre nós, com inúmeras mutações, até hoje. Portanto, segurança absoluta só existirá quando tivermos uma vacina ou um medicamento comprovadamente eficaz contra a covid-19 .
As restrições para a reabertura de bares e restaurantes (além de salões de beleza e outras modalidades de comércio) reduzem substancialmente a capacidade destes estabelecimentos, com a exigência de uma distância mínima entre mesas. Aqueles que têm espaços ao ar livre surgem como uma opção interessante para os frequentadores – embora estejamos, em São Paulo, entrando no inverno. No exato momento em que essa coluna é escrita, por exemplo, cai uma chuva torrencial pela cidade.
Uma dúvida paira sobre os donos destes estabelecimentos: o cliente virá? Uma parte, seguramente, sim. Há, inclusive, um movimento clandestino que se observa na classe alta paulistana. Muitas pessoas já estão frequentando alguns restaurantes que, ao melhor estilo “speak-easy” na Lei Seca americana, vêm recebendo clientes de longa data para jantares particulares em seus salões. O acesso se dá de forma discreta. Mas já ouvi inúmeros relatos de quem conversou com um amigo (chef, dono ou mâitre) e conseguiu uma mesa discreta, longe dos olhos da fiscalização, para um jantar privado. Além disso, há várias pessoas que estão em plena confraternização, retomando o convívio social. Este contato se dá em jantares nas casas de amigos ou visitas na praia ou no interior.
O estresse provocado pela pandemia relativizou a sensação de risco. Três meses atrás, a situação era completamente desconhecida pela população. Hoje, já há algum conhecimento sobre os efeitos do coronavírus e os riscos começam a ser aceitos por alguns.
Esta é a porta aberta para o que os especialistas chamam de imunização do rebanho – a fase em que a sociedade como um todo entra em contato com o vírus. Infelizmente, esse processo causa a morte daqueles cujos organismos não conseguem vencer a luta contra a enfermidade. Mas muitos acreditam que há um contingente razoável de pessoas que está disposta a pagar para ver e retomar suas atividades profissionais e sociais.
No início, este comportamento não deverá ser adotado pela maioria da população, é verdade, mas por um número suficiente de indivíduos que pode fazer o coronavírus circular mais. Hoje, por exemplo, uma pesquisa divulgada hoje pelo Datafolha aponta que, para 76% dos brasileiros, as escolas devem permanecer fechadas pelos próximos dois meses. Isso seria um indício de que três quartos dos entrevistados ainda têm aversão à ideia de sair de casa nos próximos dias.
Mas as fotos que circulam nos jornais de hoje com banhistas lotando a praia de Bornemouth, no litoral da Grã-Bretanha, mostram que os europeus parecem ter deixado para trás o medo. O mesmo foi observado dias atrás, quando um vídeo com parisienses comendo e bebendo nas calçadas do Quartier Latin circulou nas redes sociais. Os europeus estão no mínimo um mês à frente dos brasileiros neste processo e já passaram pelo que estamos passando. Eles, pelo jeito, resolveram desencanar. O que acontecerá no Brasil?
Ao examinarmos as fotos das praias europeias, é possível imaginar que entraremos rapidamente nesta etapa e que o conceito de imunização do rebanho poderá arrebatar a classe média. Se este é melhor caminho só os cientistas podem dizer com certeza. Mas, mesmo que não seja o melhor, parece ser inevitável. O ser humano não foi feito para o isolamento e, em algum momento, vai desistir da quarentena. Esse fenômeno ocorreu durante a gripe espanhola e provocou inúmeras mortes, mas imunizou a população. Haverá o mesmo com o coronavírus? Só o tempo dirá. A única forma de se evitar a imunização do rebanho é através dos laboratórios. Mas eles conseguirão encontrar uma solução rápida? Vamos torcer. Mas as chances são pequenas de termos algum resultado concreto em menos de um ano. Portanto, apertem os cintos. Ainda teremos muitas emoções à frente.