Como a diversidade pode interferir nas próximas eleições
Para chegar ao segundo turno das eleições municipais de 2020, o hoje deputado federal Guilherme Boulos não falou nada de socialismo em sua campanha
Publicado em 20 de junho de 2023 às, 14h09.
Para chegar ao segundo turno das eleições municipais de 2020, o hoje deputado federal Guilherme Boulos não falou nada de socialismo em sua campanha. Não lembrou, durante seus comerciais de TV e rádio, que era líder do MTST, um grupo que invade propriedades particulares na cidade de São Paulo para abrigar pessoas que não têm moradia. Tampouco Boulos falou sobre imperialismo ou defendeu o governo da Venezuela. Os principais pilares de sua campanha foram diversidade, inclusão e defesa do meio ambiente.
Na prática, o candidato do PSOL percebeu – antes de todos os demais políticos – a importância desses temas junto ao eleitorado jovem. Fez uma campanha com foco no que se chama hoje de ESG e obteve 70 % dos votos de quem tinha entre 16 e 24 anos. Além disso, conseguiu dobrar sua votação entre o primeiro e o segundo turnos, fechando o pleito com 2,17 milhões de votos (contra 1,08 milhão na primeira etapa).
Boulos saiu derrotado da campanha. Mas, se o seu discurso ficasse no blábláblá esquerdista de sempre, provavelmente não teria passado ao segundo turno. Logicamente, o hoje deputado se beneficiou do desgaste pelo qual passava o PT três anos atrás – o candidato da sigla, Jilmar Tatto, por exemplo, ficou em sexto lugar na corrida eleitoral. De qualquer modo, ele teve a sensibilidade de perceber que os jovens queriam uma proposta diferente daquela que vinha de candidatos com pautas tradicionais, como Bruno Covas, Celso Russomano e Márcio França.
Como todos sabem, Bruno Covas foi vítima de um câncer fulminante e não está mais entre nós. Seu vice, Ricardo Nunes, assumiu a prefeitura desde maio de 2021 e está se movimentando para obter a reeleição. Seu trabalho será árduo: uma pesquisa do Instituto Paraná, realizada em março deste ano, mostrou que 60 % dos eleitores paulistanos não souberam dizer qual seria o nome do atual prefeito da cidade.
É por isso que Nunes está traçando sua estratégia eleitoral com cuidado. Primeiro, se aproximou do ex-presidente Jair Bolsonaro para garantir o apoio da direita à sua candidatura. Depois, se movimentou nos bastidores para evitar que houvesse um racha profundo entre os eleitores conservadores com o eventual lançamento do nome de Ricardo Salles à prefeitura (o ex-ministro acabou desistindo, sem antes vociferar contra o presidente do PL, seu partido, Valdemar da Costa Neto, que não queria oferecer a legenda ao hoje deputado federal).
O PL ainda estuda colocar o senador Marcos Pontes no páreo – mas esse movimento parece ser muito mais uma tentativa de elevar o cacife do Partido Liberal junto a Nunes do que uma intenção de fato.
O prefeito, de qualquer forma, trabalha fortemente com a hipótese de ser o único nome forte do centro e da direita no próximo pleito municipal. E, para consolidar sua candidatura, resolveu dar um passo um tanto ousado.
Contratou Duda Lima, o marqueteiro do PL (responsável pela campanha de Bolsonaro em 2022 e contrário à tática antissistema pregada pelo filho do ex-presidente, Carlos), e encomendou a ele uma estratégia voltada para uma pauta que envolve ações de diversidade.
O primeiro movimento deste plano será um vídeo gravado com Leonora Mendes de Lima, mais conhecida por Léo Áquila. Ela, uma mulher trans, defende a gestão de Nunes na peça publicitária e reforça que o prefeito deu grande apoio para a realização da maior parada LGBTQIA+ do mundo, na avenida Paulista (imagem).
Caso se mantenha nessa trilha e resista a pressões vindas do eleitorado bolsonarista, Nunes vai primar pelo ineditismo, juntando grupos de apoio improváveis e até rivais no plano dos costumes. O prefeito, no entanto, corre um risco razoável ao escolher essa tática – o de não obter votos dos mais jovens, ávidos por um discurso de inclusão, e ao mesmo tempo perder o apoio dos conservadores.
As pesquisas que serão feitas após a divulgação do vídeo com Léo Áquila vão ser decisivas para traçar a estratégia definitiva de Ricardo Nunes no ano que vem. Aguardemos.