Comemorações da Independência: comparando 2022 com 1972
Sempre imaginei como seria o bicentenário da Independência comemorado em uma democracia
Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2022 às 16h53.
Aluizio Falcão Filho
Hoje, o país completa uma data histórica: duzentos anos de aniversário da Independência. Trata-se de uma comemoração muito diferente daquela que presenciei, ainda criança, do sesquicentenário (150 anos), celebrada em 1972. O Brasil vivia sob a égide do regime militar – e essa data foi utilizada como uma forma de fortalecer o ufanismo que estava presente em toda a comunicação do governo.
Logo no dia 9 de janeiro, uma prévia das comemorações teve início. A data festejava o Dia do Fico, quando o então príncipe regente, Dom Pedro I, fora chamado a voltar a Portugal, mas preferiu se manter em solo brasileiro, proclamando a célebre frase: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.
O próximo passo foi outra leva de celebrações no dia 21 de abril, do dia de Tiradentes, o símbolo máximo da Inconfidência Mineira. Logo depois, anunciou-se que os restos mortais de Pedro I seriam enviados ao Brasil por conta dos 150 anos da Independência. Por fim, o Banco Central passou a emitir uma série de cédulas de 500 cruzeiros especialmente produzida para celebrar o dia 7 de setembro. O BC, ainda, lançou três moedas comemorativas. Uma de um cruzeiro, que era utilizada por toda a população (hoje, vale cerca de R$ 20 a R$ 250, dependendo de seu estado de conservação); outra, de prata, com o valor de face de 20 cruzeiros (negociada entre R$ 500 e R$ 700); por fim, uma de 300 cruzeiros, de ouro, avaliada pelos colecionadores em R$ 7 000,00.
A televisão e os veículos impressos, de janeiro a setembro, foram tomados por peças publicitárias oficiais – e o governo patrocinou diversos eventos regionais, de desfiles a exposições. No dia 7, paradas tomaram conta das principais avenidas do país, concentrando a atenção de todos.
Mas o esforço para divulgar a data não veio apenas da Ditadura. As emissoras de TV produziram reportagens e documentários – e as revistas publicavam edições especiais. Uma grande produção cinematográfica, “Independência ou Morte”, com Tarcísio Meira, foi lançada e obteve enorme sucesso.
Aliás, este roteiro, de autoria do diretor Carlos Coimbra (com a consultoria de Lauro César Muniz, Anselmo Duarte e Dionísio Azevedo), em uma das cenas finais, define muito bem a personalidade de Dom Pedro I. O imperador já tinha abdicado do trono em favor de seu filho, com cinco anos de idade, e confiado sua educação a José Bonifácio de Andrada e Silva, um ex-aliado transformado em desafeto. Andrada está conversando sobre Dom Pedro com um amigo, que lhe diz:
– Curiosa a figura de Dom Pedro, cheia de contradições. Um liberal que se tornou absolutista. Um dinasta que renunciou a dois tronos. Um pai amoroso; um marido infiel.
Andrada responde:
– Se pesarmos, o fiel da balança penderá a favor de Dom Pedro I. Ele nos garantiu a consolidação deste vasto império. Impediu a volta do Brasil à condição de colônia de Portugal. E, acima de tudo, deu-nos a independência.
Sempre imaginei como seria o bicentenário da Independência comemorado em uma democracia. Infelizmente, perdemos uma oportunidade de entendermos melhor nossas raízes como Nação, especialmente sobre a visão do que aconteceu conosco no Século 19. Nosso país teve grande influência da história vivida nos anos 1800, da vinda da família real à renúncia de Dom Pedro, passando pelo 7 de setembro de 1822.
Quis o destino que essa efeméride não fosse comemorada o suficiente e servisse de combustível para a polarização política pela qual vivemos. Uma pena. Talvez o Brasil possa olhar mais profundamente para a própria trajetória daqui a cem anos. Mas, nessa data, não estaremos mais por aqui para presenciar esse momento. Será que o país estará vivendo uma democracia plena e sem manipulações políticas?
Esperamos que sim.
Aluizio Falcão Filho
Hoje, o país completa uma data histórica: duzentos anos de aniversário da Independência. Trata-se de uma comemoração muito diferente daquela que presenciei, ainda criança, do sesquicentenário (150 anos), celebrada em 1972. O Brasil vivia sob a égide do regime militar – e essa data foi utilizada como uma forma de fortalecer o ufanismo que estava presente em toda a comunicação do governo.
Logo no dia 9 de janeiro, uma prévia das comemorações teve início. A data festejava o Dia do Fico, quando o então príncipe regente, Dom Pedro I, fora chamado a voltar a Portugal, mas preferiu se manter em solo brasileiro, proclamando a célebre frase: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.
O próximo passo foi outra leva de celebrações no dia 21 de abril, do dia de Tiradentes, o símbolo máximo da Inconfidência Mineira. Logo depois, anunciou-se que os restos mortais de Pedro I seriam enviados ao Brasil por conta dos 150 anos da Independência. Por fim, o Banco Central passou a emitir uma série de cédulas de 500 cruzeiros especialmente produzida para celebrar o dia 7 de setembro. O BC, ainda, lançou três moedas comemorativas. Uma de um cruzeiro, que era utilizada por toda a população (hoje, vale cerca de R$ 20 a R$ 250, dependendo de seu estado de conservação); outra, de prata, com o valor de face de 20 cruzeiros (negociada entre R$ 500 e R$ 700); por fim, uma de 300 cruzeiros, de ouro, avaliada pelos colecionadores em R$ 7 000,00.
A televisão e os veículos impressos, de janeiro a setembro, foram tomados por peças publicitárias oficiais – e o governo patrocinou diversos eventos regionais, de desfiles a exposições. No dia 7, paradas tomaram conta das principais avenidas do país, concentrando a atenção de todos.
Mas o esforço para divulgar a data não veio apenas da Ditadura. As emissoras de TV produziram reportagens e documentários – e as revistas publicavam edições especiais. Uma grande produção cinematográfica, “Independência ou Morte”, com Tarcísio Meira, foi lançada e obteve enorme sucesso.
Aliás, este roteiro, de autoria do diretor Carlos Coimbra (com a consultoria de Lauro César Muniz, Anselmo Duarte e Dionísio Azevedo), em uma das cenas finais, define muito bem a personalidade de Dom Pedro I. O imperador já tinha abdicado do trono em favor de seu filho, com cinco anos de idade, e confiado sua educação a José Bonifácio de Andrada e Silva, um ex-aliado transformado em desafeto. Andrada está conversando sobre Dom Pedro com um amigo, que lhe diz:
– Curiosa a figura de Dom Pedro, cheia de contradições. Um liberal que se tornou absolutista. Um dinasta que renunciou a dois tronos. Um pai amoroso; um marido infiel.
Andrada responde:
– Se pesarmos, o fiel da balança penderá a favor de Dom Pedro I. Ele nos garantiu a consolidação deste vasto império. Impediu a volta do Brasil à condição de colônia de Portugal. E, acima de tudo, deu-nos a independência.
Sempre imaginei como seria o bicentenário da Independência comemorado em uma democracia. Infelizmente, perdemos uma oportunidade de entendermos melhor nossas raízes como Nação, especialmente sobre a visão do que aconteceu conosco no Século 19. Nosso país teve grande influência da história vivida nos anos 1800, da vinda da família real à renúncia de Dom Pedro, passando pelo 7 de setembro de 1822.
Quis o destino que essa efeméride não fosse comemorada o suficiente e servisse de combustível para a polarização política pela qual vivemos. Uma pena. Talvez o Brasil possa olhar mais profundamente para a própria trajetória daqui a cem anos. Mas, nessa data, não estaremos mais por aqui para presenciar esse momento. Será que o país estará vivendo uma democracia plena e sem manipulações políticas?
Esperamos que sim.